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CAOS NA RÚSSIA
Neocomunistas rejeitam oferta de mais poderes e votam contra indicação de Ieltsin, prolongando a crise política
Duma volta a rejeitar Tchernomirdin
JAIME SPITZCOVSKY
enviado especial a Moscou
A Duma (câmara baixa do Parlamento russo) rejeitou ontem, pela
segunda vez, a indicação de Viktor
Tchernomirdin para o cargo de
primeiro-ministro.
Os deputados, liderados pela
bancada neocomunista, impuseram nova derrota ao presidente
Boris Ieltsin. Rechaçaram oferta
de mais poderes feita pelo Kremlin
e optaram por prolongar a maior
crise política e econômica da Rússia desde a desintegração da União
Soviética, em 1991.
O placar da Duma registrou 273
votos contra o premiê interino,
138 a favor e uma abstenção. Na
primeira votação, na semana passada, Tchernomirdin teve o apoio
de apenas 94 deputados.
Para ser aprovado, Tchernomirdin, um reformista moderado que
havia ocupado o cargo de premiê
entre 1992 e março deste ano, precisa do voto de pelo menos 226 dos
450 deputados da Duma.
Não foi divulgada uma data para
a terceira e última votação sobre a
indicação de Tchernomirdin. Geralmente, há um intervalo de uma
semana entre essas sessões.
Em caso de nova derrota, Ieltsin
tem poderes para dissolver a Duma e convocar novas eleições em
até três meses.
Nesse período, governaria por
decretos. Ieltsin impera protegido
pela Constituição de 1993, que
concentrou poderes nas mãos do
presidente.
A crise econômica, provocada
por uma turbulenta transição à
economia de mercado, minou os
poderes de Ieltsin. Os deputados
exigem que ele abra mão de privilégios e fortaleça a Duma.
Negociações
Antes de os deputados votarem,
Ieltsin reuniu-se no Kremlin (sede
da Presidência) com as principais
lideranças políticas, pró-governo
e oposicionistas.
Segundo um porta-voz do
Kremlin, Ieltsin fez propostas
"sem precedentes" à oposição.
Tais concessões não foram divulgadas pelo governo.
Os neocomunistas, que formam
a maior bancada da Duma, estão
divididos entre exigir outro nome
no lugar de Tchernomirdin ou,
mais difícil, tentar convencer Ieltsin a renunciar. O presidente russo vive o seu período de maior debilidade política desde que chegou
ao poder, em 91.
A oposição acusa Ieltsin de responsável pela política econômica
que levou o país à crise e de não
reunir condições de saúde para
governar.
O presidente enfrentou uma
operação cardíaca em 96 e pneumonia no ano passado. Também
admitiu sofrer crises de depressão.
Ieltsin conseguiu aumentar a votação pró-Tchernomirdin ao arrancar apoio da bancada liderada
pelo líder ultranacionalista Vladimir Jirinovski.
Segundo Jirinovski, apenas "adversários" como Estados Unidos,
Alemanha e Israel ganham com a
crise na Rússia.
"Os deputados não estão interessados na crise", discursou
Tchernomirdin. O premiê interino do país disse que, sem governo,
a Rússia terá o mesmo destino da
Indonésia.
O país asiático, fortemente atingido pela crise econômica, foi sacudido por saques e violência, que
desembocaram na renúncia do
presidente Suharto, em maio.
Tchernomirdin, 60, foi trazido
de volta por Ieltsin para substituir
Serguei Kirienko, 36, um defensor
de reformas econômicas aceleradas. O presidente afastou Tchernomirdin por considerá-lo uma
ameaça a seu poder. Atualmente,
Ieltsin descreve o premiê interino,
devido a sua "moderação e experiência", como o homem indicado para tirar o país da crise.
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