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ARGENTINA
Para maior parte da população do país, renúncia de Carlos Alvarez traz riscos à coalizão política do governo
Saída de vice pode causar fim da Aliança
GUSTAVO CHACRA
DE BUENOS AIRES
A coalizão governamental
Aliança corre sério risco de rachar
após a renúncia de Carlos "Chacho" Alvarez do cargo de vice-presidente da Argentina, anunciada anteontem. Essa é a avaliação de analistas e da maior parte
da população.
Pesquisa do Instituto Equis, realizada na noite de sexta-feira, indica que 53,1% dos moradores da
Grande Buenos Aires consideram
que a renúncia de Alvarez implicará o fim da coalizão, composta
pela Frepaso, liderada pelo ex-vice-presidente, e a União Cívica
Radical (UCR), partido do presidente Fernando de la Rúa e dirigida pelo ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-89).
O analista político Rosendo Fraga concorda com a população. "A
saída de Alvarez do governo implica a ruptura da Aliança. Mesmo que integrantes da Frepaso sigam fazendo parte do governo, a
coalizão político-social dos dois
partidos se rompeu", afirmou
Fraga. No entanto, integrantes da
Aliança negam o fim da coalizão.
A UCR e a Frepaso se aliaram
em 1997 e, em 1999, concorreram
juntas para derrotar o Partido
Justicialista (PJ), de Carlos Menem, que estava havia dez anos no
poder. No governo, os dois partidos tiveram diversos choques. No
entanto os radicais sabiam da importância dos frepasistas.
Primeiro, sem uma aliança, os
radicais sabiam que dificilmente
derrotariam o PJ nas eleições presidenciais do ano passado. Os políticos populares da Frepaso, como Alvarez e a ministra da Ação
Social, Graciela Fernandez Meijide, ajudaram a coligação a conseguir votos. E, em segundo lugar,
sem a Frepaso, a UCR perde a
maioria na Câmara dos Deputados. O Senado é controlado pelos
opositores justicialistas.
Ideologicamente, no entanto, os
dois partidos sempre divergiram,
segundo o analista Oscar Raúl
Cardozo. As diferenças em relação à composição do novo Gabinete e a postura dos dois lados no
caso dos subornos no Senado, no
qual senadores teriam repartido
cerca de US$ 10 milhões para
aprovar a reforma trabalhista, são
prova disso.
Alvarez, que como vice-presidente acumulava a Presidência do
Senado, conforme prevê a Constituição argentina, defendia a renúncia de todos os senadores para viabilizar a antecipação das
eleições previstas para o próximo
ano. Porém, como disse o ex-vice-presidente no seu discurso de renúncia, "o governo preferiu se
manter em silêncio".
O afastamento de dois altos funcionários do Poder Executivo suspeitos de envolvimento no pagamento de subornos era outro pedido de Alvarez. Porém De la Rúa,
ao realizar a reforma ministerial,
manteve no governo Alberto Flamarique, acusado de negociar os
subornos, apenas o transferindo
de pasta. Fernando de Santibañes,
secretário de Inteligência e suspeito do pagamento de subornos,
foi mantido na mesma função.
Pressionados, os dois apresentaram as suas renúncias. A de Santibañes não foi aceita.
Agora, correndo risco de perder
a governabilidade, De la Rúa deve
se aproximar do ex-presidente
Carlos Menem (1989-99), segundo o analista político Rosendo
Fraga. "Mas isso quitará ainda
mais o caráter de transparência
da gestão de De la Rúa, que já está
muito manchado." Menem já
vem dialogando com De la Rúa e
se disse disposto a ajudar o governo no que for preciso.
Alvarez, inimigo de Menem
desde que deixou o PJ em 1990,
deve se aproximar do ex-ministro
da Economia Domingo Cavallo.
Apesar da ampla diferença ideológica, pois Cavallo é um político
de direita, enquanto Alvarez é de
centro-esquerda, os dois concordam que algo precisa ser feito em
relação à economia do país e a política precisa passar por uma
"grande limpeza".
"Seria uma aliança tática, mas
que dificilmente se converterá em
uma coalizão eleitoral", diz Fraga.
Cavallo, que rachou com Menem
em meados dos anos 90, fundou
seu próprio partido, a Ação pela
República, e concorreu à Presidência no ano passado, ficando
em terceiro lugar.
Na avaliação de Fraga, os grandes vitoriosos são os governadores do Partido Justicialista, especialmente de Carlos Ruckaulf, da
Província de Buenos Aires. Sua
administração é popular e ele está
distante do escândalo no Senado.
Também é rompido com o menemismo, o que elimina uma certa
carga de ligação com a corrupção.
Entre Alvarez e De la Rúa, o ex-vice recebeu uma avaliação melhor da população, segundo a
Equis. Para 67,2%, sua imagem é
positiva, contra 28,1% de De la
Rúa. Porém 51,6% discordou da
renúncia de Alvarez. "Para a opinião pública, Chacho venceu", diz
Fraga. "Mas não sei qual deles terá
mais vantagem politicamente",
acrescenta.
A avaliação de como fica o governo sem Chacho é a mais grave
para De la Rúa. Apenas 4,7% consideram que ele será positivo, segundo o instituto Equis.
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