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ARTIGO
A direita chilena em choque
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um dos trágicos destaques
da era Pinochet, no Chile, o ex-general Raúl Iturriaga escondeu-se depois de condenado
em julho a cinco anos de prisão.
O governo, o Judiciário e as
próprias Forças Armadas condenaram o gesto de Iturriaga,
mas outros oficiais reformados
prometeram fazer o mesmo caso sejam punidos com sentenças condenatórias por prática
de tortura e assassinatos.
O comportamento de resistência não imobilizou ou sequer constrangeu os juízes chilenos com processos em andamento.
Em agosto, a Corte Suprema
atuou com dureza no julgamento de ex-oficiais que participaram da Operação Albânia.
Puniu pela primeira vez com
prisão perpétua em casos de
violação dos direitos humanos.
Foi réu o general Hugo Salas
Wenzel, um dos que chefiaram
a Central Nacional de Inteligência, a polícia política da ditadura de Pinochet. Ele foi acusado de ter sido um dos responsáveis pelas mortes, em junho
de 1987, de 12 jovens militantes
da Frente Patriótica Manuel
Rodríguez, a FPMR, grupo de
guerrilha urbana.
Suicídios
Já são três os suicídios de envolvidos em processos contra
crimes do pinochetismo. A fuga
do ex-general Iturriaga é o episódio que melhor ilustra a sensação de abandono dos que se
julgavam sob um manto de impunidade.
A direita chilena, ou parte
considerável dela, ficou chocada quando foi descoberto que
Pinochet e sua família tinham
contas secretas em bancos
americanos. Um de seus argumentos considerados mais sólidos, em defesa do regime militar, era o de um poder que havia
entronizado a probidade em
palácio, algo raríssimo num
continente com história de
déspotas bilionários. Violações
dos direitos humanos talvez,
corrupção nunca. Com o véu
em queda, ela se retraiu, continuou sendo direita, mas sem
muito pinochetismo.
Partido militar
Com a sensação de desamparo político, oficiais reformados
que serviram nos anos de
chumbo decidiram criar seu
próprio partido, o Militar Metropolitano ou PMM.
Foi lançado num clube militar de Santiago por um ex-oficial do Exército, Gabriel Fuentes Campuzano.
Desde a morte
do ex-ditador, em dezembro de
2006, cerca de 190 oficiais acusados de abusos foram colocados em bancos dos réus.
O manifesto do Partido Militar Metropolitano promete defender a obra de Pinochet. O
"La Nación", de Santiago, disse
há algum tempo que ele estaria
a ponto de conseguir o mínimo
de 13.885 assinaturas exigido
para registro.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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