São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

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ARTIGO

A direita chilena em choque

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um dos trágicos destaques da era Pinochet, no Chile, o ex-general Raúl Iturriaga escondeu-se depois de condenado em julho a cinco anos de prisão.
O governo, o Judiciário e as próprias Forças Armadas condenaram o gesto de Iturriaga, mas outros oficiais reformados prometeram fazer o mesmo caso sejam punidos com sentenças condenatórias por prática de tortura e assassinatos.
O comportamento de resistência não imobilizou ou sequer constrangeu os juízes chilenos com processos em andamento.
Em agosto, a Corte Suprema atuou com dureza no julgamento de ex-oficiais que participaram da Operação Albânia. Puniu pela primeira vez com prisão perpétua em casos de violação dos direitos humanos.
Foi réu o general Hugo Salas Wenzel, um dos que chefiaram a Central Nacional de Inteligência, a polícia política da ditadura de Pinochet. Ele foi acusado de ter sido um dos responsáveis pelas mortes, em junho de 1987, de 12 jovens militantes da Frente Patriótica Manuel Rodríguez, a FPMR, grupo de guerrilha urbana.

Suicídios
Já são três os suicídios de envolvidos em processos contra crimes do pinochetismo. A fuga do ex-general Iturriaga é o episódio que melhor ilustra a sensação de abandono dos que se julgavam sob um manto de impunidade.
A direita chilena, ou parte considerável dela, ficou chocada quando foi descoberto que Pinochet e sua família tinham contas secretas em bancos americanos. Um de seus argumentos considerados mais sólidos, em defesa do regime militar, era o de um poder que havia entronizado a probidade em palácio, algo raríssimo num continente com história de déspotas bilionários. Violações dos direitos humanos talvez, corrupção nunca. Com o véu em queda, ela se retraiu, continuou sendo direita, mas sem muito pinochetismo.

Partido militar
Com a sensação de desamparo político, oficiais reformados que serviram nos anos de chumbo decidiram criar seu próprio partido, o Militar Metropolitano ou PMM. Foi lançado num clube militar de Santiago por um ex-oficial do Exército, Gabriel Fuentes Campuzano.
Desde a morte do ex-ditador, em dezembro de 2006, cerca de 190 oficiais acusados de abusos foram colocados em bancos dos réus.
O manifesto do Partido Militar Metropolitano promete defender a obra de Pinochet. O "La Nación", de Santiago, disse há algum tempo que ele estaria a ponto de conseguir o mínimo de 13.885 assinaturas exigido para registro.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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