São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

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Brown decide não antecipar eleições e desagrada a trabalhistas

Virada nas pesquisas após convenção dos conservadores provoca recuo do premiê

RAFAEL CARIELLO
DE LONDRES

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, anunciou ontem, numa entrevista à BBC, que não convocará eleições para o Parlamento nos próximos meses, o que agravou a crise política em que seu partido, o Trabalhista, via-se metido desde a conferência do Partido Conservador, na semana passada.
Os trabalhistas, que têm maioria no Parlamento, apareciam atrás dos conservadores em pesquisas de opinião desde pelo menos janeiro deste ano, enquanto Tony Blair ainda era premiê. Desde que Gordon Brown assumiu a chefia de governo, no final de junho, seu partido voltou a ganhar força com o eleitorado e ultrapassou a legenda adversária.
Isso levou vários líderes trabalhistas a falarem abertamente na possibilidade de uma eleição antecipada para o início do próximo mês, o que supostamente lhes permitiria aumentar a vantagem no número de cadeiras no Parlamento, garantindo maioria por uma nova legislatura e impondo uma ampla vitória sobre os conservadores.
Pelas regras britânicas, o primeiro-ministro tem liberdade de chamar eleições gerais quando quiser, com apenas 17 dias úteis de antecedência, durante os cinco anos de mandato parlamentar.
Pressionados, os conservadores prometeram, durante seu encontro partidário, amplos cortes de impostos, especialmente para os mais pobres, em caso de vitória nas eleições legislativas.
A vantagem de até dez pontos que as pesquisas apontavam para os trabalhistas evaporou. Uma pesquisa do jornal "Sunday Times" publicada ontem indicava uma queda de cinco pontos percentuais no número de eleitores dos trabalhistas em uma semana (de 43% para 38%) e um aumento de nove pontos, no mesmo período, para os conservadores (de 32% para 41%).

Primeiro desgaste
Com pesquisas semelhantes em mãos, Brown, que nas últimas semanas havia deixado seus assessores e companheiros de legenda ventilarem abertamente a possibilidade da convocação de eleições para o início de novembro, teve que voltar atrás e anunciar publicamente sua decisão.
Na entrevista que foi ao ar ontem, ele disse: "Não convocarei eleições e deixe-me explicar o porquê. Tenho um projeto de mudança para o Reino Unido. Quero mostrar para as pessoas como estamos implementado esse projeto no governo".
Ele negou que sua decisão tenha sido motivada por pesquisas eleitorais: "Nós venceríamos uma eleição, na minha opinião, fosse ela nesta semana, na próxima ou mais tarde".
O líder dos conservadores veio a público ainda no sábado, quando foi gravada a entrevista veiculada ontem, para atacar a decisão de Brown. Para David Cameron, "o primeiro-ministro mostrou enorme fraqueza e indecisão". "Ficou claro que ele não estava preocupado em governar o país nessas últimas semanas. Ele estava ocupado em tentar pavimentar o seu caminho para eleições gerais. E agora se vê forçado a fazer esse recuo humilhante", disse o líder conservador.
Esse é o primeiro grande desgaste político de Brown, que desde que chegou ao poder conseguiu angariar simpatia do eleitorado britânico pelo modo como lidou com crises como inundações no verão e ameaças terroristas. Ele também vem anunciando um gradativo recuo da presença britânica no Iraque, com a retirada de parte das tropas.


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