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Brown decide não antecipar eleições e desagrada a trabalhistas
Virada nas pesquisas após convenção dos conservadores provoca recuo do premiê
RAFAEL CARIELLO
DE LONDRES
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, anunciou
ontem, numa entrevista à BBC,
que não convocará eleições para o Parlamento nos próximos
meses, o que agravou a crise política em que seu partido, o Trabalhista, via-se metido desde a
conferência do Partido Conservador, na semana passada.
Os trabalhistas, que têm
maioria no Parlamento, apareciam atrás dos conservadores
em pesquisas de opinião desde
pelo menos janeiro deste ano,
enquanto Tony Blair ainda era
premiê. Desde que Gordon
Brown assumiu a chefia de governo, no final de junho, seu
partido voltou a ganhar força
com o eleitorado e ultrapassou
a legenda adversária.
Isso levou vários líderes trabalhistas a falarem abertamente na possibilidade de uma eleição antecipada para o início do
próximo mês, o que supostamente lhes permitiria aumentar a vantagem no número de
cadeiras no Parlamento, garantindo maioria por uma nova legislatura e impondo uma ampla
vitória sobre os conservadores.
Pelas regras britânicas, o primeiro-ministro tem liberdade
de chamar eleições gerais
quando quiser, com apenas 17
dias úteis de antecedência, durante os cinco anos de mandato
parlamentar.
Pressionados, os conservadores prometeram, durante
seu encontro partidário, amplos cortes de impostos, especialmente para os mais pobres,
em caso de vitória nas eleições
legislativas.
A vantagem de até dez pontos que as pesquisas apontavam para os trabalhistas evaporou. Uma pesquisa do jornal
"Sunday Times" publicada ontem indicava uma queda de cinco pontos percentuais no número de eleitores dos trabalhistas em uma semana (de 43%
para 38%) e um aumento de
nove pontos, no mesmo período, para os conservadores (de
32% para 41%).
Primeiro desgaste
Com pesquisas semelhantes
em mãos, Brown, que nas últimas semanas havia deixado
seus assessores e companheiros de legenda ventilarem abertamente a possibilidade da convocação de eleições para o início de novembro, teve que voltar atrás e anunciar publicamente sua decisão.
Na entrevista que foi ao ar
ontem, ele disse: "Não convocarei eleições e deixe-me explicar o porquê. Tenho um projeto
de mudança para o Reino Unido. Quero mostrar para as pessoas como estamos implementado esse projeto no governo".
Ele negou que sua decisão tenha sido motivada por pesquisas eleitorais: "Nós venceríamos uma eleição, na minha opinião, fosse ela nesta semana, na
próxima ou mais tarde".
O líder dos conservadores
veio a público ainda no sábado,
quando foi gravada a entrevista
veiculada ontem, para atacar a
decisão de Brown. Para David
Cameron, "o primeiro-ministro mostrou enorme fraqueza e
indecisão". "Ficou claro que ele
não estava preocupado em governar o país nessas últimas semanas. Ele estava ocupado em
tentar pavimentar o seu caminho para eleições gerais. E agora se vê forçado a fazer esse recuo humilhante", disse o líder
conservador.
Esse é o primeiro grande desgaste político de Brown, que
desde que chegou ao poder
conseguiu angariar simpatia do
eleitorado britânico pelo modo
como lidou com crises como
inundações no verão e ameaças
terroristas. Ele também vem
anunciando um gradativo recuo da presença britânica no
Iraque, com a retirada de parte
das tropas.
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