São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

Próximo Texto | Índice

Reeleição não é projeto pessoal, diz Chávez

Depois de ato falho em que deu a entender que pretende ficar no governo até 2021, venezuelano minimiza proposta

Presidente fala em vitória única na região, acena para os EUA e busca aproximação do peruano García, com quem vinha trocando farpas

PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Embalado pela lua cheia que se erguia sobre o Palácio da Alvorada, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou que a reeleição indefinida "não é parte fundamental nem essencial" do seu plano de governo e tampouco é um "projeto pessoal".
Chávez disse que conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a reeleição indefinida e que o brasileiro brincou que, por ele, não há problema, pois Chávez não seria candidato no Brasil mesmo.
"Não é nenhum projeto pessoal. Não é parte fundamental nem essencial do projeto nacional Símon Bolívar, que é um projeto que transcende medidas como essas", disse Chávez, lembrando que qualquer mudança que venha a ser feita na Constituição terá de ser aprovada em um referendo.
Durante a campanha eleitoral em seu país, onde foi reeleito com mais de 60% dos votos no último domingo, Chávez cometeu um ato falho, quando deixou escapar que ficaria no poder pelo menos até 2021.
Passava das 23h quando Chávez deu essa entrevista, anteontem à noite, na saída do Palácio da Alvorada: "Nos reunimos, uma boa taça de vinho para celebrar nossas vitórias. Como Lula disse, é uma só vitória. É a vitória, permitam-me a poesia, dessa lua cheia sul-americana. É a vitória da esperança de um mundo melhor."
A afinidade entre os dois era tanta que o venezuelano reiterou as críticas de Lula à mídia dos dois países. Apesar de sugerir a "virada dessa página", afirmou que certos veículos desrespeitam a lei e tentam ridicularizar a figura presidencial.

Aproximação
Ontem, Chávez se reuniu com Lula por cinco horas no Palácio do Planalto, para tratar principalmente de temas ligados à energia. Em entrevista após o encontro, o presidente venezuelano sinalizou uma aproximação do colega peruano, Alan García, com quem trocou duros ataques nos últimos meses.
Em recente eleição no Peru, o venezuelano apoiou o adversário de García, o nacionalista Ollanta Humala. "Entre cavalheiros tudo é possível, entre chefes de Estado tudo é possível. Nós não temos nada contra o Peru", disse Chávez, que citou uma recente entrevista de García na qual admitiu cumprimentá-lo pela vitória eleitoral.
"Como diz Rafael Correa [presidente eleito do Equador], a América Latina passa por um terremoto político. E num terremoto político ocorrem muitas coisas, como debates. Agora, se o presidente peruano, que é um presidente legítimo, sem dúvida, lança esse sinal ao presidente da Venezuela, eu respondo com o mesmo ânimo de conciliação", afirmou Chávez. "Por trás de problemas e opiniões pessoais ou políticas, há um projeto fundamental que é a união da América do Sul."
Sobre os EUA, reiterou uma leve possibilidade de trégua depois que Washington reconheceu que seu país é uma democracia. "Desejamos uma relação de respeito, uma boa relação política com qualquer governo dos Estados Unidos, mas desde que haja respeito."


Próximo Texto: Chávez leva megacomitiva no tour da integração
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.