São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

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Chávez leva megacomitiva no tour da integração

CLAUDIA ANTUNES
DA EDITORA DE MUNDO, EM BRASÍLIA

Reeleito com votação recorde no domingo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, embarcou uma comitiva de cerca de 200 pessoas para comemorar sua vitória num tour da integração, que, após passar por Brasília, o levaria ainda ontem à noite à Argentina, depois ao Uruguai e finalmente à Bolívia, onde participa hoje e amanhã da cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa).
Parte da comitiva, que incluía seis ministros, encheu um hotel cinco estrelas de Brasília, onde os homens do governo venezuelano -de altos funcionários a seguranças- se distinguiam dos outros hóspedes pelas gravatas vermelhas, cor da "revolução bolivariana" e lema da campanha à reeleição de Chávez, que pedia uma Venezuela "roja, rojita" (vermelha, vermelhinha).
Na noite de quarta-feira, logo depois que o avião de Chávez aterrissou na Base Aérea de Brasília, seus auxiliares desembarcaram sete ternos de uma van na porta do hotel. Mas o presidente não passou para trocar de roupa e foi jantar com o colega Luiz Inácio Lula da Silva com uma camisa vermelha esportiva, igual às que usou durante a campanha eleitoral.
O programa do venezuelano previa a passagem dele pelo hotel antes do encontro no Palácio da Alvorada, e a expectativa deixou a postos jornalistas dos meios estatais venezuelanos, incluindo a Venezolana de Televisión, a Rádio Nacional da Venezuela e a Agência Bolivariana de Notícias. Quando Chávez finalmente chegou do jantar, às 23h30, um repórter da Venezolana já desabafava que não dormia havia 42 horas.
Numa entrevista curta, o presidente contou que teve com Lula uma "conversa extraordinária, espiritual e profunda" e que ambos concordam que suas respectivas reeleições lançam a integração sul-americana numa fase promissora.
Ele defendeu não só a construção do Gasoduto do Sul -um dos temas da reunião de trabalho que teve no Palácio do Planalto ontem- mas "um Banco do Sul, uma Universidade do Sul, um Hospital do Sul, um Parlamento do Sul, a arquitetura completa da grande unidade latino-americana".
"É o caminho para a liberação do nosso povo. Só unidos seremos livres", disse.

Acolhida a Correa
Como fez com Evo Morales logo depois da eleição do boliviano, no fim do ano passado, Chávez falou como incentivador do recém-eleito presidente equatoriano, Rafael Correa, que chegaria a Brasília ontem à noite. Saudou a perspectiva do ingresso do Equador no Mercosul e de sua volta à Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e se disse disposto a "contribuir para a liberação" dos equatorianos, refinando na Venezuela o petróleo do país vizinho.
O petróleo é um dos principais produtos do Equador (ao lado da banana), mas o país exporta o óleo bruto, e acaba gastando toda a renda que recebe com a compra de derivados -um "modelo colonial", como definiu Chávez.
Modestamente, ele evitou se apresentar como líder sul-americano. "O Brasil tem tudo para ser uma grande potência mundial. A Venezuela não será uma potência nunca, mas juntos podemos concretizar o sonho de [Simón] Bolívar."
Finda a entrevista, o venezuelano se encaminhava para o elevador quando foi abordado por uma hóspede. "Lindo", elogiou ela. "Mas eu sou feio", Chávez parou no caminho. "É o vermelho", retrucou a admiradora, apontando para a camisa. Mardu, como se apresentou, ganhou um beijo. Com o presidente já em seus aposentos, parte da comitiva relaxou do dia intenso fumando charutos no saguão, até o meio da madrugada de ontem.


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