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Chávez leva megacomitiva no tour da integração
CLAUDIA ANTUNES
DA EDITORA DE MUNDO, EM BRASÍLIA
Reeleito com votação recorde no domingo, o presidente da
Venezuela, Hugo Chávez, embarcou uma comitiva de cerca
de 200 pessoas para comemorar sua vitória num tour da integração, que, após passar por
Brasília, o levaria ainda ontem
à noite à Argentina, depois ao
Uruguai e finalmente à Bolívia,
onde participa hoje e amanhã
da cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa).
Parte da comitiva, que incluía seis ministros, encheu um
hotel cinco estrelas de Brasília,
onde os homens do governo venezuelano -de altos funcionários a seguranças- se distinguiam dos outros hóspedes pelas gravatas vermelhas, cor da
"revolução bolivariana" e lema
da campanha à reeleição de
Chávez, que pedia uma Venezuela "roja, rojita" (vermelha,
vermelhinha).
Na noite de quarta-feira, logo
depois que o avião de Chávez
aterrissou na Base Aérea de
Brasília, seus auxiliares desembarcaram sete ternos de uma
van na porta do hotel. Mas o
presidente não passou para
trocar de roupa e foi jantar com
o colega Luiz Inácio Lula da Silva com uma camisa vermelha
esportiva, igual às que usou durante a campanha eleitoral.
O programa do venezuelano
previa a passagem dele pelo hotel antes do encontro no Palácio da Alvorada, e a expectativa
deixou a postos jornalistas dos
meios estatais venezuelanos,
incluindo a Venezolana de Televisión, a Rádio Nacional da
Venezuela e a Agência Bolivariana de Notícias. Quando Chávez finalmente chegou do jantar, às 23h30, um repórter da
Venezolana já desabafava que
não dormia havia 42 horas.
Numa entrevista curta, o
presidente contou que teve
com Lula uma "conversa extraordinária, espiritual e profunda" e que ambos concordam
que suas respectivas reeleições
lançam a integração sul-americana numa fase promissora.
Ele defendeu não só a construção do Gasoduto do Sul
-um dos temas da reunião de
trabalho que teve no Palácio do
Planalto ontem- mas "um
Banco do Sul, uma Universidade do Sul, um Hospital do Sul,
um Parlamento do Sul, a arquitetura completa da grande unidade latino-americana".
"É o caminho para a liberação do nosso povo. Só unidos
seremos livres", disse.
Acolhida a Correa
Como fez com Evo Morales
logo depois da eleição do boliviano, no fim do ano passado,
Chávez falou como incentivador do recém-eleito presidente
equatoriano, Rafael Correa,
que chegaria a Brasília ontem à
noite. Saudou a perspectiva do
ingresso do Equador no Mercosul e de sua volta à Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e se disse disposto a "contribuir para a liberação" dos equatorianos, refinando na Venezuela o petróleo
do país vizinho.
O petróleo é um dos principais produtos do Equador (ao
lado da banana), mas o país exporta o óleo bruto, e acaba gastando toda a renda que recebe
com a compra de derivados
-um "modelo colonial", como
definiu Chávez.
Modestamente, ele evitou se
apresentar como líder sul-americano. "O Brasil tem tudo para
ser uma grande potência mundial. A Venezuela não será uma
potência nunca, mas juntos podemos concretizar o sonho de
[Simón] Bolívar."
Finda a entrevista, o venezuelano se encaminhava para o
elevador quando foi abordado
por uma hóspede. "Lindo", elogiou ela. "Mas eu sou feio",
Chávez parou no caminho. "É o
vermelho", retrucou a admiradora, apontando para a camisa.
Mardu, como se apresentou,
ganhou um beijo. Com o presidente já em seus aposentos,
parte da comitiva relaxou do
dia intenso fumando charutos
no saguão, até o meio da madrugada de ontem.
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