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Ditadura vira tema da campanha chilena
Favorito, candidato opositor abre polêmica ao considerar incorporar ex-colaboradores do regime a seu eventual governo
Empresário havia descartado trabalhar com ex-servidores dos anos Pinochet; mudança de tom visa preservação de possíveis futuros auxiliares
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
Na reta final da disputa presidencial no Chile, a ditadura de
Augusto Pinochet (1973-1990)
marca a agenda da campanha
no país, com uma polêmica sobre a participação de ex-integrantes do regime militar em
um eventual governo do direitista Sebastián Piñera.
Favorito para vencer o segundo turno do próximo dia 17
contra o ex-presidente e candidato governista Eduardo Frei
(1994-1999), Piñera deixou
aberta ontem a possibilidade
de incorporar ex-ocupantes de
cargos na ditadura a seu possível governo.
"Ter trabalhado para um governo, incluindo o militar, não
é pecado nem delito. Os que pecaram são os que cometeram
delitos, como os que atropelaram direitos humanos", disse
Piñera, amenizando declarações do dia anterior, quando
afirmara ser "pouco provável"
integrar ex-colaboradores de
Pinochet à sua equipe.
A opinião inicial do empresário se alinhava com declarações
de seu chefe de campanha, Rodrigo Hinzpeter, que descartara a eventual admissão de ex-ocupantes, na ditadura, de
"cargos de primeira importância e provavelmente de segunda e terceira [importância]".
Ontem Hinzpeter também relativizou suas afirmações.
A mudança de tom mostra
que, ao descartar de antemão a
colaboração dessas pessoas, Piñera ficou em situação incômoda no interior de sua aliança de
centro-direita, em que parte
dos membros ocupou postos na
ditadura, sobretudo integrantes da UDI, o braço conservador da coalizão.
"Piñera quer salvar dessa
condenação antecipada certas
pessoas que poderiam integrar
seu eventual governo", disse à
Folha Cristóbal Bellolio, analista político da Universidade
Adolfo Ibañez, que declarou
voto no empresário.
Entre essas pessoas, diz Bellolio, está Joaquín Lavín, da
UDI, que disputou a Presidência em 1999 e 2004 e perdeu
neste ano a eleição para o Senado. Lavín colaborou na área
econômica na ditadura e é cotado para um possível gabinete
de Piñera. Na mesma condição
está o economista Cristián Larroulet, diretor-executivo do
think tank direitista Libertad &
Desarrollo, provável fonte de
quadros técnicos para a gestão.
Polarização
A instalação desse tema na
campanha favorece a estratégia
de Frei, candidato da Concertação, a coalizão de centro-esquerda que governa o país há
20 anos e que, pela primeira vez
desde então, vê a direita chegar
como favorita a uma eleição
-Piñera teve 44% no primeiro
turno, contra 29% de Frei.
A campanha de Frei no segundo turno aposta na ideia de
polarização entre o "progressismo" e a "direita conservadora". "O país conhece perfeitamente a candidatura de direita
e sua relação com a ditadura",
disse o ex-presidente ontem.
Mas Piñera procura se vender como candidato transversal, longe do discurso conservador. Defende, por exemplo, a
união civil gay e a entrega gratuita da pílula do dia seguinte.
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