São Paulo, sábado, 09 de janeiro de 2010

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Ditadura vira tema da campanha chilena

Favorito, candidato opositor abre polêmica ao considerar incorporar ex-colaboradores do regime a seu eventual governo

Empresário havia descartado trabalhar com ex-servidores dos anos Pinochet; mudança de tom visa preservação de possíveis futuros auxiliares

THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

Na reta final da disputa presidencial no Chile, a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) marca a agenda da campanha no país, com uma polêmica sobre a participação de ex-integrantes do regime militar em um eventual governo do direitista Sebastián Piñera.
Favorito para vencer o segundo turno do próximo dia 17 contra o ex-presidente e candidato governista Eduardo Frei (1994-1999), Piñera deixou aberta ontem a possibilidade de incorporar ex-ocupantes de cargos na ditadura a seu possível governo.
"Ter trabalhado para um governo, incluindo o militar, não é pecado nem delito. Os que pecaram são os que cometeram delitos, como os que atropelaram direitos humanos", disse Piñera, amenizando declarações do dia anterior, quando afirmara ser "pouco provável" integrar ex-colaboradores de Pinochet à sua equipe.
A opinião inicial do empresário se alinhava com declarações de seu chefe de campanha, Rodrigo Hinzpeter, que descartara a eventual admissão de ex-ocupantes, na ditadura, de "cargos de primeira importância e provavelmente de segunda e terceira [importância]". Ontem Hinzpeter também relativizou suas afirmações.
A mudança de tom mostra que, ao descartar de antemão a colaboração dessas pessoas, Piñera ficou em situação incômoda no interior de sua aliança de centro-direita, em que parte dos membros ocupou postos na ditadura, sobretudo integrantes da UDI, o braço conservador da coalizão.
"Piñera quer salvar dessa condenação antecipada certas pessoas que poderiam integrar seu eventual governo", disse à Folha Cristóbal Bellolio, analista político da Universidade Adolfo Ibañez, que declarou voto no empresário.
Entre essas pessoas, diz Bellolio, está Joaquín Lavín, da UDI, que disputou a Presidência em 1999 e 2004 e perdeu neste ano a eleição para o Senado. Lavín colaborou na área econômica na ditadura e é cotado para um possível gabinete de Piñera. Na mesma condição está o economista Cristián Larroulet, diretor-executivo do think tank direitista Libertad & Desarrollo, provável fonte de quadros técnicos para a gestão.

Polarização
A instalação desse tema na campanha favorece a estratégia de Frei, candidato da Concertação, a coalizão de centro-esquerda que governa o país há 20 anos e que, pela primeira vez desde então, vê a direita chegar como favorita a uma eleição -Piñera teve 44% no primeiro turno, contra 29% de Frei.
A campanha de Frei no segundo turno aposta na ideia de polarização entre o "progressismo" e a "direita conservadora". "O país conhece perfeitamente a candidatura de direita e sua relação com a ditadura", disse o ex-presidente ontem.
Mas Piñera procura se vender como candidato transversal, longe do discurso conservador. Defende, por exemplo, a união civil gay e a entrega gratuita da pílula do dia seguinte.


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