SÉRGIO MALBERGIER
da Redação

A morte do rei Hussein ameaça a Jordânia nas frentes externa e interna.
O pequeno reino, sem petróleo e com quase 80% de suas terras desertas, é cercado de potências regionais agressivas que têm grande interesse no país.
Em Israel, sempre circulou a tese de que não é preciso criar um Estado palestino. Ele já existiria na Jordânia, cuja população é formada majoritariamente por palestinos (cerca de 60%).
A Síria nega ter ambição territorial em relação à Jordânia, mas o território jordaniano já fez parte da Síria antes de franceses e ingleses repartirem o Oriente Médio com réguas e esquadros.
O avô do rei Hussein, Abdullah, recebeu a então Transjordânia por ter liderado tropas árabes contra o Império Otomano (atual Turquia) na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
O presidente sírio, Hafez Assad, que teria centenas de agentes no país, criticou muito Hussein nos últimos anos por ele ter assinado a paz em separado com Israel, em 94.
O Iraque já foi governado pela família do rei Hussein (a dinastia Hachemita). Os dois países tinham laços econômicos estreitos até a Guerra do Golfo, em 1991.
O rei chegou a apoiar Saddam Hussein no conflito, pressionado por palestinos simpáticos ao Iraque. Depois, sob pressão dos EUA e aniquilado economicamente, rompeu com Bagdá.
O novo rei, Abdullah, sofre pressão dos EUA para abrigar a oposição iraquiana, que Washington financia para derrubar Saddam.
Internamente, o país continua tentando se equilibrar entre seus habitantes originais (as tribos de beduínos) e a atual maioria palestina.
O rei Hussein foi o único dirigente árabe que, ao receber os milhares de refugiados palestinos após a criação de Israel (48), deu-lhes cidadania. Em 1970, expulsou o líder palestino Iasser Arafat, acusado de tentar criar um Estado dentro do Estado.
O rei Abdullah é casado com uma palestina e fez carreira no Exército (controlado pelos beduínos). É um equilíbrio necessário para os seus primeiros anos de governo.


Texto Anterior: Enterro de Hussein leva 1 milhão às ruas
Próximo Texto: Rainha Noor não participa de enterro
Índice