São Paulo, Terça-feira, 09 de Fevereiro de 1999
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ADEUS AO REI
Autoridades de países em conflito, como EUA e Iraque, desfilam juntos; Clinton fala sobre a saúde de Ieltsin
Funeral provoca encontro de inimigos

da Redação

O enterro do rei Hussein, ontem, em Amã, reuniu em um mesmo local dezenas de chefes de Estado, representando cerca de 75 países. Poucas vezes se viu em um mesmo espaço tantos líderes de regimes com disputas políticas e militares entre si.
Autoridades árabes e israelenses, gregas e turcas, americanas e iraquianas acompanharam a cerimônia de despedida. A situação causou alguns encontros embaraçosos e muitos desencontros propositais. Leia a seguir alguns fatos que marcaram o evento.

PRIMEIRA VEZ O presidente da Síria, Hafez Assad, participou ontem pela primeira vez de uma cerimônia em que também estava um primeiro-ministro de Israel.

Assad tomou precauções para evitar um esbarrão com algum integrante da delegação israelense. Enquanto todos seguiam o enterro a pé, ele foi de carro.
CARA A CARA Khaled Meshal, ativista do Hamas que sobreviveu a uma tentativa de assassinato do Mossad (serviço secreto israelense) na Jordânia, em 97, aprontou uma surpresa ontem aos mandantes do crime.
Ele passou pelo caixão do rei Hussein poucos minutos antes do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e do novo chefe do Mossad, Ephraim Halevy (cujo antecessor no cargo, Danny Yatom, caiu após a ação fracassada, que estremeceu as relações entre Israel e Jordânia).

VISITA RELÂMPAGO O presidente russo, Boris Ieltsin, permaneceu em Amã por apenas duas horas e meia. Prestou homenagem ao rei Hussein e teve um breve encontro com Bill Clinton.
Segundo a agência de notícias "Itar-Tass", Clinton teria dito a Ieltsin que ele está com boa aparência, apesar das notícias sobre sua saúde. Jornalistas presentes disseram que o líder russo parecia distante, desnorteado e precisava de ajuda para caminhar.

RELAÇÕES PERIGOSAS Um aperto de mão não passou despercebido no meio da multidão de líderes presentes no funeral.
O presidente de Israel, Ezer Weizman, irritou o chanceler Ariel Sharon ao cumprimentar Naief Hawatme, líder da FDLP, organização palestina contrária ao acordo de paz de 93. "Você não devia ter apertado a mão de um assassino manchada com sangue judeu", disse Sharon ao presidente.

ILUSTRES AUSENTES Os principais governantes do mundo árabe foram dar adeus ao monarca jordaniano. Mas nem todos puderam comparecer.
Os ditadores do Iraque e da Líbia -dois países sob sanções econômicas aprovadas pela ONU- optaram por ficar no abrigo de seus países. Saddam Hussein enviou o vice-presidente Taha Mohieddin Ma'rouf, e Muammar Gaddafi mandou seu filho mais velho.

CONCORRENTES Os três principais candidatos das eleições gerais de 17 de maio, em Israel, estiveram lado a lado ontem em Amã. O ex-comandante das Forças Armadas Ehud Barak e o ex-ministro da Defesa Yitzhak Mordechai disputavam com o premiê Netanyahu a atenção da mídia israelense.

TIO HASSAN O novo rei da Jordânia, Abdullah, teve um companheiro inseparável enquanto a fila de autoridades passava pelo caixão de seu pai.
O ex-príncipe herdeiro Hassan, irmão de Hussein afastado da sucessão há apenas três semanas, posou para as câmeras como o braço direito do novo monarca, seu sobrinho.

PRESIDENTES NO AR Bill Clinton teve uma noite diferente a caminho da Jordânia, a bordo do avião presidencial Air Force One. Durante duas horas, debateu política internacional com três ex-presidentes: George Bush, Jimmy Carter e Gerald Ford.
Segundo a "Associated Press", não havia camas de luxo para tantos presidentes. Ford e Bush dormiram em camas dobráveis. Carter cochilou em um saco de dormir na sala de reuniões da aeronave.

FÉRIAS NA NEVE O premiê canadense, Jean Chrétien, foi criticado ontem nos meios políticos de seu país. É acusado de diminuir o papel do país no cenário internacional. Ele passa férias em uma estação de esqui e mandou o chanceler Lloyd Axworthy para o funeral em Amã.

IMPEACHMENT Apenas dois senadores norte-americanos -o republicano Ted Stevens e o democrata Patrick Leahy- representaram o Congresso dos EUA no funeral. Eles voltam de imediato para comparecer à votação final do processo de impeachment de Clinton, prevista para quinta ou sexta.


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