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NOVA ORDEM
Centenas deixam Bagdá, enquanto hospitais sentem escassez de medicamentos e água
População foge; caos toma hospitais
DA REDAÇÃO
Centenas de pessoas amontoadas em ônibus, caminhões e caminhonetes deixavam Bagdá ontem, enquanto o sistema hospitalar da cidade entrava em colapso e
equipes de resgate, familiares e
voluntários buscavam corpos nos
escombros de uma área residencial atingida por bombardeios da
coalizão anglo-americana.
Um correspondente do diário
britânico "The Independent" descreveu a situação de Bagdá como
similar à de Nassiriah e a de outras cidades em que o regime não
exerce mais controle: o que se via
era sucessão de invasões a prédios
do governo. Nas estradas ao redor
da capital alinhavam-se, destruídos, velhos tanques russos pertencentes ao Exército iraquiano.
"Creio que é correto dizer que
estamos começando a parte final
do jogo no que se refere à tomada
de Bagdá", disse o coronel dos
marines John Pomfret. "Estamos
aqui. Mas a questão é: o que iremos fazer? Como vamos restaurar
a ordem", indagava o oficial.
Para mais um caso de bombardeio em área civil, os norte-americanos utilizaram o argumento de que o alvo não eram as casas, mas
um local em que, segundo "fontes
da inteligência", Saddam Hussein
e seus dois filhos, Uday e Qusay,
manteriam encontro com membros do comando iraquiano, na
noite de segunda-feira.
Fora por isso, disseram os americanos, que bombardearam a
área do restaurante Al Saa'a, no
bairro de Al Mansur. Reduziram a
escombros não apenas o prédio
do restaurante como três casas vizinhas. Saldo: pelo menos 14 mortos, segundo a Reuters.
De qualquer forma, autoridades
dos EUA não poupam os iraquianos, acusando-os de covardes por
supostamente usarem civis como
escudos humanos. "Jamais enfrentamos inimigos com comportamento tão desprezível. Escondiam-se atrás das saias de mulheres e crianças", desdenhava o general Jim Mattis, comandante dos
fuzileiros navais.
Sob a condição de anonimato,
um oficial americano disse que
Saddam costumava frequentar o
Al Saa'a aparentemente por acreditar que a coalizão não tentaria
acertá-lo em uma área residencial. "Nossas informações eram
seguras", disse o oficial.
"Foi como um terremoto", disse Nahid Abdullah, à agência Associated Press, descrevendo o bombardeio ao bairro. Um repórter da Reuters disse pelo menos 20
casas foram danificadas em um
raio de 500 metros do local em
que caiu a bomba -abrindo uma
cratera de 20 metros de profundidade, onde antes eram casas. "Alguns choravam compulsivamente, outros cobriam os rostos com
as mãos. Quando o corpo de uma
jovem apareceu, primeiro o torso,
depois a cabeça ferida, sua mãe
começou a chorar de forma incontrolada e depois sofreu uma
espécie de colapso", descreveu
um repórter da Associated Press,
que acompanhou as buscas.
Falta de infra-estrutura
A Organização Mundial da Saúde anunciou ontem que os hospitais de Bagdá já não dispõem de
medicamentos e infra-estrutura
para tratar dos feridos pela guerra. "Não há equipamentos adequados para os casos de queimaduras, disparos de metralhadoras
e lesões espinhais", disse o porta-voz da OMS Iain Simpson.
Integrantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que entregaram suprimentos no Centro Médico de Bagdá, um complexo
com 650 leitos, descobriram ao
chegar que não havia água nem
energia elétrica -o fornecimento
em quase todas as regiões fora interrompido desde a semana passada. Das 27 salas de operações do
centro, não mais que 6 estavam
em condições para serem usadas.
A TV Al Jazeera informou, a
partir de dados fornecidos pela
Cruz Vermelha em Bagdá, que
apenas um hospital, localizado no
perímetro que concentra os prédios administrativos, às margens
do rio Tigre, recebe cem novos
pacientes a cada hora. "Agora não
há apenas feridos por tiros. Há os
feridos por foguetes e casos de
amputações, que têm de ser as cirurgias de maior urgência", disse
Mohammed Kamil, um médico
de Kindi, no leste de Bagdá.
Com agências internacionais
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