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São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003

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NOVA ORDEM

Centenas deixam Bagdá, enquanto hospitais sentem escassez de medicamentos e água

População foge; caos toma hospitais

DA REDAÇÃO

Centenas de pessoas amontoadas em ônibus, caminhões e caminhonetes deixavam Bagdá ontem, enquanto o sistema hospitalar da cidade entrava em colapso e equipes de resgate, familiares e voluntários buscavam corpos nos escombros de uma área residencial atingida por bombardeios da coalizão anglo-americana.
Um correspondente do diário britânico "The Independent" descreveu a situação de Bagdá como similar à de Nassiriah e a de outras cidades em que o regime não exerce mais controle: o que se via era sucessão de invasões a prédios do governo. Nas estradas ao redor da capital alinhavam-se, destruídos, velhos tanques russos pertencentes ao Exército iraquiano.
"Creio que é correto dizer que estamos começando a parte final do jogo no que se refere à tomada de Bagdá", disse o coronel dos marines John Pomfret. "Estamos aqui. Mas a questão é: o que iremos fazer? Como vamos restaurar a ordem", indagava o oficial.
Para mais um caso de bombardeio em área civil, os norte-americanos utilizaram o argumento de que o alvo não eram as casas, mas um local em que, segundo "fontes da inteligência", Saddam Hussein e seus dois filhos, Uday e Qusay, manteriam encontro com membros do comando iraquiano, na noite de segunda-feira.
Fora por isso, disseram os americanos, que bombardearam a área do restaurante Al Saa'a, no bairro de Al Mansur. Reduziram a escombros não apenas o prédio do restaurante como três casas vizinhas. Saldo: pelo menos 14 mortos, segundo a Reuters.
De qualquer forma, autoridades dos EUA não poupam os iraquianos, acusando-os de covardes por supostamente usarem civis como escudos humanos. "Jamais enfrentamos inimigos com comportamento tão desprezível. Escondiam-se atrás das saias de mulheres e crianças", desdenhava o general Jim Mattis, comandante dos fuzileiros navais.
Sob a condição de anonimato, um oficial americano disse que Saddam costumava frequentar o Al Saa'a aparentemente por acreditar que a coalizão não tentaria acertá-lo em uma área residencial. "Nossas informações eram seguras", disse o oficial.
"Foi como um terremoto", disse Nahid Abdullah, à agência Associated Press, descrevendo o bombardeio ao bairro. Um repórter da Reuters disse pelo menos 20 casas foram danificadas em um raio de 500 metros do local em que caiu a bomba -abrindo uma cratera de 20 metros de profundidade, onde antes eram casas. "Alguns choravam compulsivamente, outros cobriam os rostos com as mãos. Quando o corpo de uma jovem apareceu, primeiro o torso, depois a cabeça ferida, sua mãe começou a chorar de forma incontrolada e depois sofreu uma espécie de colapso", descreveu um repórter da Associated Press, que acompanhou as buscas.

Falta de infra-estrutura
A Organização Mundial da Saúde anunciou ontem que os hospitais de Bagdá já não dispõem de medicamentos e infra-estrutura para tratar dos feridos pela guerra. "Não há equipamentos adequados para os casos de queimaduras, disparos de metralhadoras e lesões espinhais", disse o porta-voz da OMS Iain Simpson.
Integrantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que entregaram suprimentos no Centro Médico de Bagdá, um complexo com 650 leitos, descobriram ao chegar que não havia água nem energia elétrica -o fornecimento em quase todas as regiões fora interrompido desde a semana passada. Das 27 salas de operações do centro, não mais que 6 estavam em condições para serem usadas.
A TV Al Jazeera informou, a partir de dados fornecidos pela Cruz Vermelha em Bagdá, que apenas um hospital, localizado no perímetro que concentra os prédios administrativos, às margens do rio Tigre, recebe cem novos pacientes a cada hora. "Agora não há apenas feridos por tiros. Há os feridos por foguetes e casos de amputações, que têm de ser as cirurgias de maior urgência", disse Mohammed Kamil, um médico de Kindi, no leste de Bagdá.


Com agências internacionais


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