UOL


São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Milícia organiza saques e espalha terror em Najaf

DA REDAÇÃO

Os moradores de Najaf, centro-sul do Iraque, ficaram felizes de se verem livres do governo tirânico do partido Baath quando a cidade foi ocupada pelas forças norte-americanas, semana passada. Mas parecem ainda mais aterrorizados com seus novos governantes: uma obscura milícia iraquiana apoiada pelos EUA.
A milícia, autodenominada Cinu (Coalizão Iraquiana da Unidade Nacional), é acusada pelos moradores de praticar saques e espalhar o terror impunemente.
Seu líder, que diz ser um ex-coronel da artilharia iraquiana que tem trabalhado clandestinamente com a oposição ao Baath desde 1996, anunciou ontem que ele era o prefeito em exercício da cidade.
"Eles roubam e roubam", disse Abu Zeinab, morador de Najaf. "E nos ameaçam dizendo: "Estamos com os americanos, vocês não podem fazer nada'".
Na última segunda, um tradutor do Exército americano disse que foi arrancado de sua casa e espancado pela milícia quando se recusou a entregar o carro. O veículo foi levado assim mesmo.
Desde que ocuparam as principais cidades iraquianas e puseram abaixo o governo do Baath, as forças anglo-americanas têm se visto às voltas com saques e milícias.
Segundo Ali Shukri, do Centro para o Oriente Médio da Universidade de Oxford, Reino Unido, os invasores precisam agir logo nesse sentido, sob pena de perder a boa vontade dos iraquianos.
As forças especiais dos EUA disseram estar investigando as reclamações dos moradores de Najaf. No entanto, elas se negam a falar sobre a formação da milícia Cinu e a origem de seus membros.
A cidade de Basra, controlada pelos britânicos, passa por saques tão generalizados que seus moradores até fazem piada, referindo-se aos ladrões como "Ali Babá". Por trás do aparente bom humor, no entanto, há um sentimento de revolta contra os britânicos.
"Esses soldados britânicos fazem vista grossa aos saques", disse um caminhoneiro a um correspondente da agência Reuters.
Bandidos armados com fuzis AK-47 invadem casas, lojas e prédios públicos, levando embora o que encontram no caminho, de mobília a querosene.
Ontem, enquanto os tanques Challenger protegiam cruzamentos-chave na região central da cidade, moradores frustrados se perguntavam por que os saqueadores podiam circular livremente.
Os comandantes militares na cidade minimizam a importância dos saques. Para o marechal-do-ar Brian Burridge, a culpa pela pilhagem é do ódio generalizado em relação a Saddam Hussein.
Na Bagdá ocupada pelos militares americanos, um repórter da agência Reuters viu ontem iraquianos pilhando prédios do governo, abandonados depois do assalto dos EUA à cidade.
Moradores corriam pelas ruas com mobília e outros itens que pareciam ter sido tirados de prédios públicos. Um garoto empurrava uma bicicleta sobre a qual estava amarrada uma poltrona. Um homem em outra rua praguejava contra os saques: "Ladrões!"
Até os americanos sucumbiram ao butim. Os soldados que invadiram anteontem o Novo Palácio Presidencial saquearam cinzeiros, travesseiros, objetos de cristal pintados de dourado e outros itens. "Esta cidade é nossa", orgulhou-se o capitão Chris Carter.


Com "Financial Times" e Reuters


Texto Anterior: População foge; caos toma hospitais
Próximo Texto: Doha recebe "invasores" de braços abertos
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.