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São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003

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BAGDÁ AO CONTRÁRIO

Produtos americanos se espalham pela capital do Qatar, onde está o comando militar dos EUA

Doha recebe "invasores" de braços abertos

DO ENVIADO A DOHA (QATAR)

As catarianas vestidas de preto da cabeça aos pés, com os rostos cobertos, mas revelando um uniforme de jogging por baixo da roupa, são a melhor imagem de Doha hoje: a capital do Qatar é uma das mais liberais do mundo árabe, uma das poucas que permitem o voto feminino; ao mesmo tempo, continua fazendo separação de sexos em espaços públicos como bancos e cinemas e é raro ver nas ruas mulheres que não estejam totalmente escondidas por panos.
Uma volta pela impressionante Corniche, a avenida beira-mar da capital deste pequeno país de 600 mil habitantes, traz a comparação inevitável: Bagdá poderia ser Doha, não fosse o embargo no Iraque (ou seja, não fosse a ditadura de Saddam Hussein).
Afinal, ambas são capitais de países ricos em petróleo e especialmente premiadas por belezas naturais, aquela pelo rio Tigre, esta pelas águas do Golfo.
Mas acabam aí as semelhanças. Enquanto Bagdá continua lutando contra os invasores, Doha os recebe de braços abertos, o que pode ser percebido na quantidade de pontos de McDonald's, Burger King e até o tipicamente americano Dairy Queen, raro mesmo em Nova York.
Suas ruas estão em melhores condições do que as bagdalis e, em vez dos Passats brasileiros, trazem uma frota de Mercedes, Jaguares e BMWs novas. Também o culto à personalidade aqui é infinitamente menor -a presença em fotos do emir do Qatar, xeque Hamad bin Khalifa Al Thani, é discreta.
Enquanto os iraquianos improvisam entrevistas no hotel Palestine, os britânicos e americanos falam com os jornalistas num ambiente high-tech que lembra a sala de comando da Enterprise, a nave da série "Jornada nas Estrelas".
Ali, após passar por cães farejadores de bombas, uma revista manual rigorosa e um scanner de corpo inteiro, o repórter é recebido por US$ 500 mil em tecnologia, em forma de seis telões, um mapa-múndi numa parede de 20 metros, um púlpito e 120 cadeiras, com ar-condicionado, água à vontade e donuts importados dos EUA à venda, "para ajudar o moral da tropa", como disse o sargento Mansanero.
À frente do show revezam-se o general Tommy Franks, chefe do Comando Central, e o general-de-brigada Vincent Brooks, com briefings entremeados por cenas de batalhas, fotos de satélite e filmetes de soldados em ação. Imagens de vítimas civis iraquianas são vetadas.
"O centro está uma beleza", disse à Folha o soldado Robert W. Stevenson, que cuida dos cães farejadores. "O problema é que, se você descontar que a data muda diariamente, as informações são sempre as mesmas: nós bombardeamos, nós invadimos, nós tomamos." (SD)


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