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BAGDÁ AO CONTRÁRIO
Produtos americanos se espalham pela capital do Qatar, onde está o comando militar dos EUA
Doha recebe "invasores" de braços abertos
DO ENVIADO A DOHA (QATAR)
As catarianas vestidas de preto
da cabeça aos pés, com os rostos
cobertos, mas revelando um
uniforme de jogging por baixo
da roupa, são a melhor imagem
de Doha hoje: a capital do Qatar
é uma das mais liberais do mundo árabe, uma das poucas que
permitem o voto feminino; ao
mesmo tempo, continua fazendo separação de sexos em espaços públicos como bancos e cinemas e é raro ver nas ruas mulheres que não estejam totalmente escondidas por panos.
Uma volta pela impressionante Corniche, a avenida beira-mar
da capital deste pequeno país de
600 mil habitantes, traz a comparação inevitável: Bagdá poderia ser Doha, não fosse o embargo no Iraque (ou seja, não fosse a
ditadura de Saddam Hussein).
Afinal, ambas são capitais de
países ricos em petróleo e especialmente premiadas por belezas
naturais, aquela pelo rio Tigre,
esta pelas águas do Golfo.
Mas acabam aí as semelhanças. Enquanto Bagdá continua
lutando contra os invasores, Doha os recebe de braços abertos, o
que pode ser percebido na quantidade de pontos de McDonald's, Burger King e até o tipicamente americano Dairy Queen,
raro mesmo em Nova York.
Suas ruas estão em melhores
condições do que as bagdalis e,
em vez dos Passats brasileiros,
trazem uma frota de Mercedes,
Jaguares e BMWs novas. Também o culto à personalidade
aqui é infinitamente menor -a
presença em fotos do emir do
Qatar, xeque Hamad bin Khalifa
Al Thani, é discreta.
Enquanto os iraquianos improvisam entrevistas no hotel
Palestine, os britânicos e americanos falam com os jornalistas
num ambiente high-tech que
lembra a sala de comando da
Enterprise, a nave da série "Jornada nas Estrelas".
Ali, após passar por cães farejadores de bombas, uma revista
manual rigorosa e um scanner
de corpo inteiro, o repórter é recebido por US$ 500 mil em tecnologia, em forma de seis telões,
um mapa-múndi numa parede
de 20 metros, um púlpito e 120
cadeiras, com ar-condicionado,
água à vontade e donuts importados dos EUA à venda, "para
ajudar o moral da tropa", como
disse o sargento Mansanero.
À frente do show revezam-se o
general Tommy Franks, chefe
do Comando Central, e o general-de-brigada Vincent Brooks,
com briefings entremeados por
cenas de batalhas, fotos de satélite e filmetes de soldados em
ação. Imagens de vítimas civis
iraquianas são vetadas.
"O centro está uma beleza",
disse à Folha o soldado Robert
W. Stevenson, que cuida dos
cães farejadores. "O problema é
que, se você descontar que a data
muda diariamente, as informações são sempre as mesmas: nós
bombardeamos, nós invadimos,
nós tomamos."
(SD)
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