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São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003

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ANÁLISE

Exército de Saddam Hussein se dissolveu

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A guerra urbana em Bagdá ainda pode trazer surpresas desagradáveis aos atacantes. Mas, ao contrário do que os próprios americanos temiam, a luta no interior das cidades está sendo bem menos letal a eles do que aos iraquianos -tanto combatentes quanto civis pegos no fogo cruzado.
As cenas de bombardeio e tiroteio mostradas pela televisão podem dar uma visão equivocada da intensidade do conflito. As imagens de tanques Abrams disparando seus canhões de calibre 120 mm são impressionantes, ainda mais porque esse é o tipo de cena raras vezes mostrada ao vivo nas coberturas de guerra.
A chave do sucesso americano é o uso concentrado do poder de fogo contra qualquer resistência encontrada. A ação combinada de tanques, blindados de infantaria, helicópteros e aviões de ataque consegue avassalar o inimigo rapidamente, com poucas baixas.
Em certos locais, tem sido usada a tática tradicional, de buscas de casa em casa, segundo o relato dos correspondentes "encaixados" nas unidades militares. Mas, quando surge um bolsão de resistência iraquiano, a tática envolve concentrar todas essas armas de uma só vez, de preferência a partir de várias direções. Funciona, contra um inimigo mal armado.
Tanques foram inventados para dar aos exércitos a chamada "mobilidade no campo de batalha", isto é, a capacidade de se movimentar em meio a tiros inimigos com razoável grau de proteção.
Canhões como o de calibre 120 mm do Abrams permitem tiro preciso a 4 quilômetros de distância, por isso os terrenos abertos são ideais para esse tipo de veículo blindado (é por isso, por exemplo, a maior parte dos tanques brasileiros ainda está concentrada nos pampas gaúchos).
O Pentágono revelou ontem que até agora foram feitas 30 mil saídas de aeronaves (excluindo helicópteros), o que dá uma mostra da intensidade do poder de fogo utilizado.
A última grande experiência americana em guerra urbana foi um desastroso reide em Mogadício, na Somália, em 1993, no qual 18 soldados dos EUA morreram.
As cenas do corpo de um desses soldados sendo arrastado pelas ruas causou comoção nos Estados Unidos, embora seja fácil esquecer que os americanos ganharam o tiroteio, pois mataram centenas de somalis. E o fizeram mesmo sem apoio de fogo de tanques ou aviões, nem mesmo de blindados de transporte de tropas.
O fato é que um exército de 350 mil homens está se desmanchando aos poucos face aos ataques anglo-americanos.
Um correspondente do "The New York Times" junto a uma unidade de fuzileiros navais (marines) dos EUA a oeste da cidade de Amara, perto da fronteira com o Irã, revelou que a 10ª Divisão Blindada do Exército regular iraquiano praticamente se dissolveu.
Segundo um coronel americano, os habitantes informaram aos marines que os soldados iraquianos simplesmente empilharam as armas, estacionaram os veículos e foram embora.
Os fuzileiros navais também relataram ter encontrado tanques suficientes para equipar um batalhão, abandonados na vila de Kumayt, sem nenhum soldado por perto. Um batalhão blindado costuma ter em torno de 50 tanques.


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