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ANÁLISE
Exército de Saddam Hussein se dissolveu
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A guerra urbana em Bagdá
ainda pode trazer surpresas
desagradáveis aos atacantes. Mas,
ao contrário do que os próprios
americanos temiam, a luta no interior das cidades está sendo bem
menos letal a eles do que aos iraquianos -tanto combatentes
quanto civis pegos no fogo cruzado.
As cenas de bombardeio e tiroteio mostradas pela televisão podem dar uma visão equivocada da
intensidade do conflito. As imagens de tanques Abrams disparando seus canhões de calibre 120
mm são impressionantes, ainda
mais porque esse é o tipo de cena
raras vezes mostrada ao vivo nas
coberturas de guerra.
A chave do sucesso americano é
o uso concentrado do poder de
fogo contra qualquer resistência
encontrada. A ação combinada de
tanques, blindados de infantaria,
helicópteros e aviões de ataque
consegue avassalar o inimigo rapidamente, com poucas baixas.
Em certos locais, tem sido usada
a tática tradicional, de buscas de
casa em casa, segundo o relato
dos correspondentes "encaixados" nas unidades militares. Mas,
quando surge um bolsão de resistência iraquiano, a tática envolve
concentrar todas essas armas de
uma só vez, de preferência a partir
de várias direções. Funciona, contra um inimigo mal armado.
Tanques foram inventados para
dar aos exércitos a chamada "mobilidade no campo de batalha", isto é, a capacidade de se movimentar em meio a tiros inimigos com
razoável grau de proteção.
Canhões como o de calibre 120
mm do Abrams permitem tiro
preciso a 4 quilômetros de distância, por isso os terrenos abertos
são ideais para esse tipo de veículo
blindado (é por isso, por exemplo,
a maior parte dos tanques brasileiros ainda está concentrada nos
pampas gaúchos).
O Pentágono revelou ontem
que até agora foram feitas 30 mil
saídas de aeronaves (excluindo
helicópteros), o que dá uma mostra da intensidade do poder de fogo utilizado.
A última grande experiência
americana em guerra urbana foi
um desastroso reide em Mogadício, na Somália, em 1993, no qual
18 soldados dos EUA morreram.
As cenas do corpo de um desses
soldados sendo arrastado pelas
ruas causou comoção nos Estados
Unidos, embora seja fácil esquecer que os americanos ganharam
o tiroteio, pois mataram centenas
de somalis. E o fizeram mesmo
sem apoio de fogo de tanques ou
aviões, nem mesmo de blindados
de transporte de tropas.
O fato é que um exército de 350
mil homens está se desmanchando aos poucos face aos ataques
anglo-americanos.
Um correspondente do "The
New York Times" junto a uma
unidade de fuzileiros navais (marines) dos EUA a oeste da cidade
de Amara, perto da fronteira com
o Irã, revelou que a 10ª Divisão
Blindada do Exército regular iraquiano praticamente se dissolveu.
Segundo um coronel americano, os habitantes informaram aos
marines que os soldados iraquianos simplesmente empilharam as
armas, estacionaram os veículos e
foram embora.
Os fuzileiros navais também relataram ter encontrado tanques
suficientes para equipar um batalhão, abandonados na vila de Kumayt, sem nenhum soldado por
perto. Um batalhão blindado costuma ter em torno de 50 tanques.
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