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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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ÁFRICA

ONU pode julgar crimes de guerra

Rebeldes dificultam o envio de ajuda à Libéria

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Rebeldes liberianos condicionaram ontem a abertura do porto de Monróvia à saída das forças do presidente Charles Taylor da capital, ameaçando dificultar a chegada de ajuda humanitária.
O grupo Lurd (Liberianos Unidos por Reconciliação e Democracia) afirmou que haverá novos combates se Taylor passar seu cargo a seu vice-presidente, Moses Blah. Este é um antigo companheiro de Taylor, tendo feito treinamento na Líbia e participado da guerrilha liderada pelo presidente, na primeira metade da última década, na Libéria.
As novas exigências do maior grupo rebelde da Libéria, onde a guerra civil já dura 14 anos quase sem interrupção, poderão pôr em risco o início do processo de paz, que, segundo um dos chefes da missão de paz da Ecowas (Comunidade Econômica dos Países do Oeste Africano), deverá começar logo após a partida de Taylor.
Ele prometeu entregar o cargo amanhã e deixar a Libéria na segunda-feira, indo à Nigéria, que lhe ofereceu asilo. Todavia não se trata da primeira vez em que ele promete abandonar o poder.
"O Lurd é apoiado pela Guiné. Já o Model [Movimento por Democracia na Libéria] conta com o apoio da Costa do Marfim. Ambos os países querem ver o fim da era Taylor na Libéria porque ele incitou movimentos rebeldes guineanos e marfinenses", explicou à Folha Robert Rotberg, presidente da Fundação para a Paz Mundial.
"A imagem de Blah é indissociável da de Taylor. Blah jamais se mostrou contrário à truculência do presidente. É por isso que os rebeldes não querem aceitar que ele assuma a Presidência", acrescentou o especialista em África.
A força da Ecowas conta com 450 soldados. Os EUA enviaram uma pequena "equipe de ligação" a Monróvia, mas têm mais 2.300 militares em navios que estão ancorados na costa liberiana.
O alto comissário interino de Direitos Humanos da ONU, Bertrand Ramcharan, disse que o governo e os rebeldes liberianos não fugirão à sua responsabilidade por "graves violações aos direitos humanos", o que foi visto como um sinal de que a ONU quer julgá-los. Taylor já foi indiciado por uma corte, apoiada pela ONU, que julga crimes em Serra Leoa.
Desde junho, os combates mataram cerca de 2.000 pessoas. A Libéria foi fundada, no século 19, por escravos americanos libertos.


Com agências internacionais


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