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ARGENTINA
Um terço das adolescentes pobres usam a maternidade como projeto de vida
Jovens engravidam por "algo próprio"
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
A maternidade se converteu em
um projeto de vida alternativo
contra a falta de perspectivas para
adolescentes pobres na Argentina. Uma pesquisa realizada pelo
Centro de Estudos de Estado e Sociedade (Cedes) e publicada ontem pelo jornal "Página 12" revelou que para um terço das adolescentes entre 15 e 19 anos entrevistadas a gravidez não foi acidental,
mas uma decisão consciente.
Especialistas que desenvolvem
trabalhos com adolescentes grávidas dizem que, para muitas, ter
um filho é uma maneira de garantir para si algo próprio. "Elas querem um filho porque é a única
coisa que terão na vida", disse ao
"Página 12" o médico obstetra
Walter Barbato, professor de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade de Rosário.
"Diante das carências, o filho
lhes permite um projeto próprio e
lhes garante identidade à sua subjetividade fragilizada", afirmou
Mariana Vera, que coordena um
projeto cujo objetivo é manter
adolescentes grávidas na escola.
As entrevistas foram realizadas
com 1.645 adolescentes em 15 das
principais maternidades públicas
nas cinco províncias mais pobres
do país e também na Grande Buenos Aires e Grande Rosário, duas
das regiões economicamente
mais desenvolvidas.
A idade média com que as adolescentes engravidam é 16 anos.
Vera disse ao "Página 12" que o
número de adolescentes grávidas
está aumentando, sobretudo na
faixa entre 14 e 15 anos. No ano
passado, o projeto chefiado por
ela atendeu 770 meninas de 60 escolas. Neste ano, já são 130 adolescentes a mais.
De acordo com a pesquisa, 30%
das adolescentes que engravidam
deixam a escola por vergonha. O
dado preocupa também educadores. A especialista em educação
da Universidade de San Andrés,
Silvina Guirtz, disse à Folha que a
deserção escolar está aumentando por causa da crise econômica.
De acordo com a consultoria
Equis, nos últimos quatro anos,
período em que a crise empobreceu 50% da população, houve um
aumento de 38% no número de
jovens entre 15 e 24 anos que não
trabalham nem estudam.
De acordo com Silvina, muitas
vezes a razão do abandono à escola é a gravidez precoce. Ela afirma
que o abandono faz com que na
Argentina as novas gerações, sobretudo de famílias pobres, passem a ter um nível de educação
inferior ao de seus pais.
Segundo a especialista, é grande
a probabilidade de que os filhos
dessas adolescentes também não
freqüentem a escola, ao contrário
do que aconteceu com seu pais.
Segundo dados do Ministério
da Saúde da Argentina, 15% dos
bebês que nascem no país são filhos de adolescentes com menos
de 19 anos. De cada mil adolescentes entre 10 e 19 anos, nascem
30 bebês por ano.
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