São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2004

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ARGENTINA

Um terço das adolescentes pobres usam a maternidade como projeto de vida

Jovens engravidam por "algo próprio"

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

A maternidade se converteu em um projeto de vida alternativo contra a falta de perspectivas para adolescentes pobres na Argentina. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Estado e Sociedade (Cedes) e publicada ontem pelo jornal "Página 12" revelou que para um terço das adolescentes entre 15 e 19 anos entrevistadas a gravidez não foi acidental, mas uma decisão consciente.
Especialistas que desenvolvem trabalhos com adolescentes grávidas dizem que, para muitas, ter um filho é uma maneira de garantir para si algo próprio. "Elas querem um filho porque é a única coisa que terão na vida", disse ao "Página 12" o médico obstetra Walter Barbato, professor de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade de Rosário.
"Diante das carências, o filho lhes permite um projeto próprio e lhes garante identidade à sua subjetividade fragilizada", afirmou Mariana Vera, que coordena um projeto cujo objetivo é manter adolescentes grávidas na escola.
As entrevistas foram realizadas com 1.645 adolescentes em 15 das principais maternidades públicas nas cinco províncias mais pobres do país e também na Grande Buenos Aires e Grande Rosário, duas das regiões economicamente mais desenvolvidas.
A idade média com que as adolescentes engravidam é 16 anos. Vera disse ao "Página 12" que o número de adolescentes grávidas está aumentando, sobretudo na faixa entre 14 e 15 anos. No ano passado, o projeto chefiado por ela atendeu 770 meninas de 60 escolas. Neste ano, já são 130 adolescentes a mais.
De acordo com a pesquisa, 30% das adolescentes que engravidam deixam a escola por vergonha. O dado preocupa também educadores. A especialista em educação da Universidade de San Andrés, Silvina Guirtz, disse à Folha que a deserção escolar está aumentando por causa da crise econômica.
De acordo com a consultoria Equis, nos últimos quatro anos, período em que a crise empobreceu 50% da população, houve um aumento de 38% no número de jovens entre 15 e 24 anos que não trabalham nem estudam.
De acordo com Silvina, muitas vezes a razão do abandono à escola é a gravidez precoce. Ela afirma que o abandono faz com que na Argentina as novas gerações, sobretudo de famílias pobres, passem a ter um nível de educação inferior ao de seus pais.
Segundo a especialista, é grande a probabilidade de que os filhos dessas adolescentes também não freqüentem a escola, ao contrário do que aconteceu com seu pais.
Segundo dados do Ministério da Saúde da Argentina, 15% dos bebês que nascem no país são filhos de adolescentes com menos de 19 anos. De cada mil adolescentes entre 10 e 19 anos, nascem 30 bebês por ano.


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