São Paulo, terça, 9 de setembro de 1997.



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MORTE DO DITADOR
Corpo do presidente zairense, porém, deve ser enterrado, ao menos provisoriamente, em Marrocos
Família quer enterrar Mobutu no ex-Zaire

das agências internacionais

A família do ditador zairense Mobutu Sese Seko quer enterrá-lo em sua terra natal. No entanto, ao menos provisoriamente, o funeral deve ocorrer em Marrocos, onde Mobutu estava exilado desde que foi derrubado do poder neste ano.
O ditador morreu anteontem aos 66 em um hospital de Rabat, a ca pital marroquina, após anos lutan do contra um câncer de próstata.
Segundo Manda Mobutu, uma das filhas do presidente, o corpo dele será enterrado, nos próximos dias, em um cemitério católico de Marrocos.
"É uma decisão estritamente fa miliar que acabamos de tomar", afirmou à agência de notícias "France Presse".
"As preparações para enterrá-lo em Rabat começaram", afirmou uma autoridade de Marrocos.
A data do enterro não foi divul gada.
Os Mobutu, porém, parecem ter planos para levar os restos mortais do ditador para sua terra natal, agora rebatizada República Demo crática do Congo.
Um dos filhos do presidente zai rense afirmou que era vontade deste ter o corpo cremado e enter rado no ex-Zaire.
O novo governo deste país deu indicações de que não se opõe ao envio dos restos mortais de Mobu tu para lá.
"Por que o corpo não deveria ser repatriado?", disse o ministro da Informação, Raphael Ghenda. Não há, porém, qualquer comuni cado oficial sobre o assunto.
Indiferença mundial
A morte do ditador, que perma neceu no poder por quase 32 anos, foi recebida com indiferença pelo mundo e por seus compatriotas.
"Sua morte é uma questão mais individual e privada que um even to político", disse Hubert Vedri ne, ministro das Relações Exterio res da França, um dos países mais próximos do regime mobutista.
Jean-Luc Dehaene, primeiro-mi nistro da Bélgica (a ex-metrópole colonial do país), disse que Mobu tu deixava o país em uma situação lastimável.
Os 45 milhões de habitantes do ex-Zaire aparentemente não se abalaram com a notícia da morte. A capital Kinshasa não deixava transparecer que morrera o ex-ho mem forte do país.
Em maio deste ano, Mobutu, já bastante enfraquecido pelo cân cer, foi derrubado do poder pela guerrilha comandada por Lau rent-Desiré Kabila, o novo presi dente do agora Congo.
A queda pôs fim aos quase 32 anos de um regime sustentado pe la lógica da Guerra Fria -Mobutu era o principal aliado dos Estados Unidos na região.
"Mobutu era um fator de estabi lidade na África Central. É por isso que ele recebia apoio, mas para as pessoas do Zaire, o período Mobu tu foi um retrocesso", disse o pre miê belga.
A disputa entre capitalistas e co munistas pela hegemonia mundial permitiu a sobrevivência de um governo que empobreceu e suca teou o terceiro maior país africano enquanto enriquecia seu líder.
A fortuna de Mobutu já foi ava liada pelo "Financial Times" em cerca de US$ 4 bilhões.
Disputa pelos bens
Muitos, porém, duvidam que o patrimônio atinja atualmente tal cifra. A morte de Mobutu deve dar início a longas batalhas jurídicas, prevêem analistas. Entre seus bens estão imóveis no valor de milhões de dólares na Suíça, França, Portu gal, África do Sul e Marrocos.
Parte dos bens de Mobutu, espa lhados por vários países, foi con gelada a pedido do governo que o sucedeu. Kabila pretende recupe rar, ao menos em parte, os valores desviados pelo ditador durante seus anos no poder.



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