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MORTE DO DITADOR
Corpo do presidente zairense, porém, deve ser enterrado, ao menos provisoriamente, em Marrocos
Família quer enterrar Mobutu no ex-Zaire
das agências internacionais
A família do ditador zairense
Mobutu Sese Seko quer enterrá-lo
em sua terra natal. No entanto, ao
menos provisoriamente, o funeral
deve ocorrer em Marrocos, onde
Mobutu estava exilado desde que
foi derrubado do poder neste ano.
O ditador morreu anteontem aos
66 em um hospital de Rabat, a ca
pital marroquina, após anos lutan
do contra um câncer de próstata.
Segundo Manda Mobutu, uma
das filhas do presidente, o corpo
dele será enterrado, nos próximos
dias, em um cemitério católico de
Marrocos.
"É uma decisão estritamente fa
miliar que acabamos de tomar",
afirmou à agência de notícias
"France Presse".
"As preparações para enterrá-lo
em Rabat começaram", afirmou
uma autoridade de Marrocos.
A data do enterro não foi divul
gada.
Os Mobutu, porém, parecem ter
planos para levar os restos mortais
do ditador para sua terra natal,
agora rebatizada República Demo
crática do Congo.
Um dos filhos do presidente zai
rense afirmou que era vontade
deste ter o corpo cremado e enter
rado no ex-Zaire.
O novo governo deste país deu
indicações de que não se opõe ao
envio dos restos mortais de Mobu
tu para lá.
"Por que o corpo não deveria ser
repatriado?", disse o ministro da
Informação, Raphael Ghenda.
Não há, porém, qualquer comuni
cado oficial sobre o assunto.
Indiferença mundial
A morte do ditador, que perma
neceu no poder por quase 32 anos,
foi recebida com indiferença pelo
mundo e por seus compatriotas.
"Sua morte é uma questão mais
individual e privada que um even
to político", disse Hubert Vedri
ne, ministro das Relações Exterio
res da França, um dos países mais
próximos do regime mobutista.
Jean-Luc Dehaene, primeiro-mi
nistro da Bélgica (a ex-metrópole
colonial do país), disse que Mobu
tu deixava o país em uma situação
lastimável.
Os 45 milhões de habitantes do
ex-Zaire aparentemente não se
abalaram com a notícia da morte.
A capital Kinshasa não deixava
transparecer que morrera o ex-ho
mem forte do país.
Em maio deste ano, Mobutu, já
bastante enfraquecido pelo cân
cer, foi derrubado do poder pela
guerrilha comandada por Lau
rent-Desiré Kabila, o novo presi
dente do agora Congo.
A queda pôs fim aos quase 32
anos de um regime sustentado pe
la lógica da Guerra Fria -Mobutu
era o principal aliado dos Estados
Unidos na região.
"Mobutu era um fator de estabi
lidade na África Central. É por isso
que ele recebia apoio, mas para as
pessoas do Zaire, o período Mobu
tu foi um retrocesso", disse o pre
miê belga.
A disputa entre capitalistas e co
munistas pela hegemonia mundial
permitiu a sobrevivência de um
governo que empobreceu e suca
teou o terceiro maior país africano
enquanto enriquecia seu líder.
A fortuna de Mobutu já foi ava
liada pelo "Financial Times" em
cerca de US$ 4 bilhões.
Disputa pelos bens
Muitos, porém, duvidam que o
patrimônio atinja atualmente tal
cifra. A morte de Mobutu deve dar
início a longas batalhas jurídicas,
prevêem analistas. Entre seus bens
estão imóveis no valor de milhões
de dólares na Suíça, França, Portu
gal, África do Sul e Marrocos.
Parte dos bens de Mobutu, espa
lhados por vários países, foi con
gelada a pedido do governo que o
sucedeu. Kabila pretende recupe
rar, ao menos em parte, os valores
desviados pelo ditador durante
seus anos no poder.
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