São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2011

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Gaddafi vendeu reservas, dizem rebeldes

Governo transitório insurgente afirma que ditador líbio se desfez de 20% do ouro do país antes de fugir de Trípoli

Dinheiro integraria reservas paralelas do país; diante de rachas, premiê rebelde ameaça reununciar ao cargo

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TRÍPOLI

Com o caixa afetado por sanções internacionais, o ditador Muammar Gaddafi vendeu 20% das reservas de ouro da Líbia antes de fugir de Trípoli, disse ontem o novo presidente do Banco Central do país, Qassem Azoz.
Segundo Azoz, 29 toneladas de ouro, avaliadas em R$ 2,6 bilhões, foram vendidas a comerciantes locais. O dinheiro obtido foi usado para o pagamento de salários e para garantir a liquidez do regime, disse Azoz na sede do BC, em Trípoli, em sua primeira entrevista desde que foi nomeado.
Autoridades financeiras desconfiam que parte do ouro pode ter cruzado as fronteiras da Líbia, mas negaram que parte das reservas oficiais do BC tenham sido levadas para o exterior, conforme apontam rumores. "Pelos nossos registros, as reservas do BC estão intactas", disse Wafik Shater, responsável pelo setor financeiro do governo transitório.
O ouro vendido por Gaddafi, explicou, fazia parte de reservas paralelas do ditador. Apesar dos esforços do governo de transição em passar uma imagem de unidade, indícios de racha tornam incerto o período pós-Gaddafi. Em sua primeira visita a Trípoli desde o início da revolta, o primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mahmoud Jibril, ameaçou renunciar caso prossigam as divisões no movimento rebelde.
"Alguns tentaram iniciar um jogo político antes de chegarmos a um consenso sobre as regras", disse Jibril. "Se descobrirmos que não estamos em terreno comum, recuarei."
O premiê interino, o mais popular líder do governo transitório, advertiu que a batalha contra Gaddafi não terminou e que a prioridade continua sendo sua captura. Com quase todo o país sob seu controle, os rebeldes viveram ontem mais um dia de rumores e informações desencontradas sobre o paradeiro de Gaddafi.
A confusão aumentou com a aparição, anteontem, de nova mensagem do ditador, em que ele nega ter deixado o país e promete seguir lutando.
Na mensagem de áudio, cuja autenticidade não foi confirmada de forma independente, Gaddafi chama os opositores de "invasores e cães vira-latas".
"Não vamos deixar nossa terra ancestral", teria dito. Ele negou os rumores de que fugiu para Níger nesta semana num comboio militar. Somente três cidades ainda resistem ao controle dos rebeldes, Bani Walid, Sabha e Sirte. Depois de vários dias tentando negociar sem sucesso uma rendição pacífica, fontes rebeldes afirmaram à Folha que já estão a apenas 20 km de Bani Walid e que se preparam para invadir a cidade, o que poderia ocorrer ainda hoje.
A promotoria do Tribunal Penal Internacional anunciou que pedirá à Interpol que emita um mandado de prisão para o ditador líbio, seu filho mais influente, Saif al Islam, e o chefe do serviço de inteligência, Abdullah al Sanussi.


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