São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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O SEGUNDO DIA

Taleban diz que civis morreram no primeiro ataque; dados sobre danos são imprecisos

Pedindo "paciência", EUA fazem bombardeio menor

DA REDAÇÃO

Admitindo não ter desestruturado totalmente o Taleban por meio de ataques aéreos, os Estados Unidos lançaram ontem a segunda onda de bombardeio a alvos no Afeganistão. Com efeito, os ataques de ontem foram em menor escala e sem a participação dos britânicos.
"É muito improvável que os ataques aéreos desmantelem o Taleban. Temos de ter um entendimento claro do que é possível fazer. Temos de ser pacientes", afirmou o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld.
A ação, que recomeçou ontem às 20h30 (11h30 em Brasília), se concentrou nas mesmas áreas atingidas anteontem. Foram reportadas ações em Cabul, Candahar, Cundur e Mazar-e-Sharif.
Foram utilizados no ataque 5 bombardeiros, 10 caças-bombardeiros baseados em porta-aviões e 15 mísseis de cruzeiro Tomahawk. No primeiro dia, foram 15, 25 e 50, respectivamente.
De todo modo, Rumsfeld fez questão de qualificar como ""bem-sucedidos" os primeiro ataques, no domingo, e reafirmaram que eles visaram bases do Taleban e do estopim da guerra -o milionário saudita Osama bin Laden, apontado como responsável pelos ataques terroristas de setembro nos EUA. Alvos civis foram evitados, afirmou ele.
O mesmo diagnóstico foi dado pelo premiê britânico, Tony Blair. O secretário da Defesa do Reino Unido, Geoff Hoon, previu a continuidade dos ataques.
Foram listados pelo chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general da Força Aérea Richard Myers, 31 alvos da organização de Osama bin Laden, a Al Qaeda, e do governo do Taleban. Rumsfeld havia falado ""entre 24 e 36 alvos".
Os fundamentalistas que dominam o Afeganistão, por sua vez, não falaram sobre os danos, mas contaram 20 vítimas civis. O mulá Abdul Salam Zaeef, embaixador do Taleban no Paquistão, afirmou que os alvos militares de sua milícia seguiram intactos.
A confusão seguiu durante o dia, quando um porta-voz do Taleban falou em oito vítimas.
"Decidimos resistir às ofensivas", disse Zaeef. As bases da milícia foram reforçadas, inclusive para proteger Bin Laden, disse ele.
O Tadjiquistão, país vizinho ao norte do Afeganistão, afirmou ontem que está pronto para abrir suas bases aéreas aos EUA.
"A República do Tadjiquistão declarou sua prontidão para abrir seu espaço aéreo à Força Aérea dos EUA e, se for necessário, seus aeroportos para tomar medidas contra o terrorismo", afirmou o governo em nota.
A decisão é importante do ponto de vista regional. Além de abrir uma frente de ataque ao norte para os aliados ocidentais, a medida vai colocar em xeque a disposição da Rússia de colaborar com seus antigos inimigos. Há 25 mil solados russos em solo tadjique.
Enquanto isso, órgãos de segurança da Rússia, Tadjiquistão e outras quatro antigas repúblicas soviéticas começaram a estudar medidas para o previsível fluxo de refugiados afegãos.
Rumsfeld reafirmou que os bombardeios continuarão por tempo indefinido, mas negou uma ação conjunta com a Aliança do Norte, que faz oposição ao Taleban e domina uma porção ao norte do país.
Analistas vêm especulando sobre a possibilidade de os EUA "abrirem caminho" para a Aliança do Norte, que, teria recebido nas últimas semanas tanques russos para atacar Cabul, segundo informações extra-oficiais.
Os bombardeiros B-2, que usam tecnologia furtiva, decolaram no sábado de Missouri (EUA) e voaram sem escala até o Afeganistão para o bombardeio de anteontem. Depois voaram até a base aliada na ilha de Diego Garcia, no oceano Índico, para serem reabastecidos antes da ofensiva de ontem.
O secretário de Defesa ressaltou que os mísseis de cruzeiro não resolverão "com um único tiro" a guerra militar, econômica e política dos EUA contra o terrorismo.


Com agências internacionais



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