São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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ESTRATÉGIA

Ação demonstra dificuldade para a definição dos alvos

Avaliação de danos também é prejudicada pela falta de informações após os ataques

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de alvos consistentes no Afeganistão ficou clara ontem, quando diminuiu a intensidade dos ataques aéreos e os americanos começaram o difícil trabalho de avaliar os resultados da primeira onda de bombas e mísseis sobre alvos da milícia Taleban e da organização terrorista Al Qaeda.
A relativa pausa reflete uma dificuldade tradicional. Avaliar o resultado efetivo de um bombardeio foi o maior problema das Forças Armadas americanas em intervenções recentes, como a Guerra do Golfo de 1991 e os ataques à Sérvia em 1998.
Se era difícil descobrir quantos tanques e aviões tinham sido destruídos, como descobrir o efeito sobre bases de treinamento de terroristas? Não há resposta fácil, por mais que os EUA tenham aviões sem piloto sobrevoando a região, e mesmo um novo e ultramoderno satélite de reconhecimento militar (o KH-11) recém-lançado.
Na sua costumeira coletiva televisionada, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, não deu prazo para terminar com o bombardeio e falou genericamente em "progressos" na destruição dos principais alvos, como radares e mísseis e canhões de defesa antiaérea do Taleban.
O general da Força Aérea Richard Myers, chefe do Estado-Maior Conjunto, listou apenas 31 alvos atacados no domingo. E ontem foram usados ainda menos aviões e mísseis -apenas 5 bombardeiros e 10 caça-bombardeiros de porta-aviões, contra respectivamente 15 e 25 anteontem. O número de mísseis de cruzeiro utilizados também foi bem menor.
Os ataques têm sido mais seletivos e em grau bem menor do que aqueles em duas outras guerras americanas em que o poder aéreo foi fundamental -a do Golfo e a do Vietnã.
No auge do conflito na Indochina, em 1968 e 1969, os americanos lançavam em torno de 400.000 ataques aéreos por ano (isto é, mais de 1.000 aviões atacando a cada dia).
Já na Guerra do Golfo, durante apenas 43 dias de bombardeios ininterruptos, os EUA e seus aliados lançaram exatos 118.661 aviões em direção ao alvo -uma impressionante média de 2.759,5 por dia.
Havia contra o Iraque em 1991 em média 730 aviões americanos no teatro de operações, incluindo aqueles em seis porta-aviões, que realizavam mais de uma missão por dia.
Hoje se estima em 200 aviões de combate anglo-americanos baseados em terra em torno do Afeganistão, e um número um pouco menor nos porta-aviões (nem todos a bordo são para combate, isto é, interceptação de aviões inimigos e ataques com bombas e mísseis).
Os britânicos, que só participaram lançando mísseis de fabricação americana Tomahawk no domingo, ontem ficaram de fora dos ataques. Os aviões Sea Harrier do pequeno porta-aviões HMS Illustrious, da Marinha Real britânica, não têm nem alcance, nem capacidade de armamento comparável aos caças-bombardeiros F/A-18 que equipam os porta-aviões gigantes americanos.

Mantendo pressão
A idéia básica dos anglo-americanos é manter a pressão sobre o Taleban e a Al Qaeda com ataques frequentes e desgastantes, "atritando" o inimigo, no jargão militar.
Produzir a chamada "superioridade aérea" é o pré-requisito de qualquer ação militar dos EUA -isto é, impedir que o inimigo faça uso do céu e garantir que as aeronaves americanas e aliadas possam cruzar os ares sem risco.
Por isso os alvos continuam sendo os mesmos: radares, posições de defesa antiaérea, postos de comando e controle de tropas, meios de comunicação e pistas de pouso.
Além dos famosos e milionários mísseis de cruzeiro Tomahawk, lançáveis de navios de superfície como cruzadores e destróieres e também submarinos, têm sido usadas munições guiadas por satélite.
Na Guerra do Golfo, apesar do apelo visual e de propaganda dessas armas "inteligentes" -isto é, guiadas com precisão ao alvo-, a maior parte das bombas eram "burras" -isto é, simplesmente caíam com a força da gravidade sobre o alvo.
Agora os americanos estariam usando principalmente munições com uma espécie de "inteligência artificial", como a JDAM ("Joint Direct Attack Munition", ou munição conjunta de ataque direito). São bombas comuns às quais se acopla uma nova cauda com um sistema de navegação por satélite que permite que sejam disparadas com precisão a até 20 km do alvo.


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