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ESTRATÉGIA
Ação demonstra dificuldade para a definição dos alvos
Avaliação de danos também é prejudicada pela falta de informações após os ataques
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A falta de alvos consistentes no
Afeganistão ficou clara ontem,
quando diminuiu a intensidade
dos ataques aéreos e os americanos começaram o difícil trabalho
de avaliar os resultados da primeira onda de bombas e mísseis
sobre alvos da milícia Taleban e
da organização terrorista Al Qaeda.
A relativa pausa reflete uma dificuldade tradicional. Avaliar o resultado efetivo de um bombardeio foi o maior problema das
Forças Armadas americanas em
intervenções recentes, como a
Guerra do Golfo de 1991 e os ataques à Sérvia em 1998.
Se era difícil descobrir quantos
tanques e aviões tinham sido destruídos, como descobrir o efeito
sobre bases de treinamento de
terroristas? Não há resposta fácil,
por mais que os EUA tenham
aviões sem piloto sobrevoando a
região, e mesmo um novo e ultramoderno satélite de reconhecimento militar (o KH-11) recém-lançado.
Na sua costumeira coletiva televisionada, o secretário da Defesa
dos Estados Unidos, Donald
Rumsfeld, não deu prazo para terminar com o bombardeio e falou
genericamente em "progressos"
na destruição dos principais alvos, como radares e mísseis e canhões de defesa antiaérea do Taleban.
O general da Força Aérea Richard Myers, chefe do Estado-Maior Conjunto, listou apenas 31
alvos atacados no domingo. E ontem foram usados ainda menos
aviões e mísseis -apenas 5 bombardeiros e 10 caça-bombardeiros
de porta-aviões, contra respectivamente 15 e 25 anteontem. O número de mísseis de cruzeiro utilizados também foi bem menor.
Os ataques têm sido mais seletivos e em grau bem menor do que
aqueles em duas outras guerras
americanas em que o poder aéreo
foi fundamental -a do Golfo e a
do Vietnã.
No auge do conflito na Indochina, em 1968 e 1969, os americanos
lançavam em torno de 400.000
ataques aéreos por ano (isto é,
mais de 1.000 aviões atacando a
cada dia).
Já na Guerra do Golfo, durante
apenas 43 dias de bombardeios
ininterruptos, os EUA e seus aliados lançaram exatos 118.661
aviões em direção ao alvo -uma
impressionante média de 2.759,5
por dia.
Havia contra o Iraque em 1991
em média 730 aviões americanos
no teatro de operações, incluindo
aqueles em seis porta-aviões, que
realizavam mais de uma missão
por dia.
Hoje se estima em 200 aviões de
combate anglo-americanos baseados em terra em torno do Afeganistão, e um número um pouco
menor nos porta-aviões (nem todos a bordo são para combate, isto é, interceptação de aviões inimigos e ataques com bombas e
mísseis).
Os britânicos, que só participaram lançando mísseis de fabricação americana Tomahawk no domingo, ontem ficaram de fora dos
ataques. Os aviões Sea Harrier do
pequeno porta-aviões HMS Illustrious, da Marinha Real britânica,
não têm nem alcance, nem capacidade de armamento comparável aos caças-bombardeiros F/A-18 que equipam os porta-aviões
gigantes americanos.
Mantendo pressão
A idéia básica dos anglo-americanos é manter a pressão sobre o
Taleban e a Al Qaeda com ataques
frequentes e desgastantes, "atritando" o inimigo, no jargão militar.
Produzir a chamada "superioridade aérea" é o pré-requisito de
qualquer ação militar dos EUA
-isto é, impedir que o inimigo
faça uso do céu e garantir que as
aeronaves americanas e aliadas
possam cruzar os ares sem risco.
Por isso os alvos continuam
sendo os mesmos: radares, posições de defesa antiaérea, postos
de comando e controle de tropas,
meios de comunicação e pistas de
pouso.
Além dos famosos e milionários
mísseis de cruzeiro Tomahawk,
lançáveis de navios de superfície
como cruzadores e destróieres e
também submarinos, têm sido
usadas munições guiadas por satélite.
Na Guerra do Golfo, apesar do
apelo visual e de propaganda dessas armas "inteligentes" -isto é,
guiadas com precisão ao alvo-, a
maior parte das bombas eram
"burras" -isto é, simplesmente
caíam com a força da gravidade
sobre o alvo.
Agora os americanos estariam
usando principalmente munições
com uma espécie de "inteligência
artificial", como a JDAM ("Joint
Direct Attack Munition", ou munição conjunta de ataque direito).
São bombas comuns às quais se
acopla uma nova cauda com um
sistema de navegação por satélite
que permite que sejam disparadas
com precisão a até 20 km do alvo.
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