São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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REAÇÃO

Washington diz que pode "descobrir" a necessidade de ampliar a ação para "autodefesa"

EUA avisam à ONU que podem atacar outros países

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Ao promoverem ontem o segundo dia de bombardeios no Afeganistão, os EUA comunicaram à ONU (Organização das Nações Unidas) que poderão ampliar sua guerra contra o terrorismo a outros países e contra outros grupos além da rede Al Qaeda, do saudita Osama Bin Laden, principal suspeito de promover os atentados em Nova York e contra o Pentágono no mês passado.
"Podemos descobrir que nossa autodefesa requer mais ações em relação a outras organizações e outros Estados", informaram os EUA em carta enviada ao Conselho de Segurança da ONU.
A Casa Branca informou à ONU que sua ofensiva iniciada no domingo é um ato de autodefesa e, como tal, estaria automaticamente legitimada por normas da ONU sem que seja necessária uma autorização de seu Conselho de Segurança.
O porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, disse que a decisão de ampliar a guerra contra o terrorismo a outros países não está tomada e dependerá do andamento das investigações sobre a autoria dos atentados.
No entanto ele confirmou essa possibilidade: "Nossa nação foi atacada e podemos tomar as medidas necessárias para defender nosso povo. Isso está na lei internacional; é a justiça".
O Conselho de Segurança expressou, por meio de seu presidente rotativo, o embaixador irlandês Richard Ryan, apoio aos ataques americanos.
Segundo diplomatas, porém, houve diferença de tom: Rússia e França deram forte aval, enquanto a China fez ressalvas.
Não houve comentários do conselho sobre o comunicado dos EUA, divulgado num momento em que a Casa Branca é pressionada pelo Congresso e por militares do Pentágono a ampliar seus ataques. Além disso, é impulsionada para a guerra por pesquisas de opinião mostrando o apoio de nove em cada dez americanos aos ataques contra o Afeganistão.
No entanto não há consenso sobre o assunto dentro do gabinete do presidente George W. Bush e teme-se que a ampla coalizão formada pelos EUA nas últimas semanas seja desfeita caso a Casa Branca decida atacar o Iraque, o Irã ou a Síria - países mencionados recentemente por autoridades militares norte-americanas como possíveis alvos por apoiarem o terrorismo.
O Reino Unido, que participou com os EUA do primeiro dia de ataque, também enviou carta à ONU dando conta de suas operações militares no Afeganistão. Mas o ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw, disse a jornalistas que o acordo era centralizar os ataques no Afeganistão. "Ali é onde se encontra o problema e é nessa ação militar que estamos envolvidos", afirmou Straw.

Pesquisas
Nos EUA, três pesquisas de opinião distintas mostram 90% de apoio da população aos ataques iniciados no domingo. No entanto, segundo a sondagem da rede de TV ABC e do diário "The Washington Post", 55% acreditam que a ofensiva provocará mais atentados terroristas nos EUA.
Essa mesma pesquisa revela que sete em cada dez entrevistados defendem uma guerra ampliada contra o terrorismo para alvos não relacionados diretamente com os atentados do último dia 11. Pesquisa da rede NBC e do "The Wall Street Journal" mostra que 66% apoiariam um ataque militar contra o Iraque e o ditador Saddam Hussein.
A assessora para segurança nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, informou ontem que o presidente Bush decidiu na sexta-feira o ataque ao Afeganistão. Segundo ela, a decisão teria sido "solitária" e Bush a teria comunicado ao seu gabinete de segurança no sábado.
Por meio de seu porta-voz, Bush informou que os EUA não entraram em guerra contra Bin Laden, mas contra o terrorismo. No entanto, o presidente teria entendido as declarações em vídeo do terrorista saudita, divulgadas no domingo por TVs ao redor do mundo, como uma confissão inequívoca de sua autoria nos atentados aos EUA.

Chefe antiterror
Bush empossou ontem o ex-governador da Pensilvânia Tom Ridge, 56, no cargo de chefe da recém-criada Secretaria de Segurança Interna, órgão que centralizará as ações contra o terrorismo dentro dos EUA.



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