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Organizações humanitárias criticam "pão e bombas"
DA REDAÇÃO
A "operação pão e bombas",
apelido da combinação de ataques militares e ações humanitárias que tem caracterizado a ofensiva liderada pelos EUA ao Afeganistão, foi criticada ontem por organizações humanitárias.
Segundo o Departamento de
Defesa dos EUA, menos de nove
horas após o início do primeiro
ataque, anteontem, dois aviões C-17 lançaram 37 mil pacotes de comida em "áreas remotas" do Afeganistão -e mais lançamentos
estavam planejados para ontem.
Os pacotes continham uma ração
diária de feijão, arroz, barras de
frutas, manteiga de amendoim e
geléia de morango.
Mas um porta-voz da Oxfam,
uma das maiores agências humanitárias do mundo, disse que,
apesar de EUA e Reino Unido
apresentarem as medidas como
uma "combinação coerente" de
ações militares, diplomáticas e
humanitárias, elas são "confusas e
quase totalmente despreparadas
para uma crise nessa escala".
Segundo a Oxfam, lançamentos
aéreos são ineficientes se comparados à distribuição terrestre. "Jogar coisas do céu é mais uma jogada de marketing do que um esforço bem preparado de auxílio",
disse o porta-voz. "Lançamentos
aéreos são muito aleatórios. Você
não sabe se está jogando comida
para uma cidade, para o Taleban
ou para quem está precisando."
ONU
O Programa Mundial de Alimentação da ONU suspendeu a
entrega de alimentos ao Afeganistão após os ataques de 11 de setembro aos EUA, provocando críticas de organizações humanitárias. O programa retomou o envio
de 500 toneladas de alimentos por
dia em 29 de setembro, mas ele
voltou a ser suspenso ontem.
A ONU estimou que 55 mil toneladas de comida por mês precisariam ser enviadas ao Afeganistão para alimentar cerca de 6 milhões de pessoas. "Isso significa
1.800 vôos de Hércules por mês. É
simplesmente impossível", disse
o porta-voz. Mas, segundo ele, as
linhas de distribuição terrestre
usadas pela ONU ainda existem e
poderiam ser usadas.
Segundo uma reportagem publicada ontem na revista britânica
"The Economist", os EUA estão
considerando a possibilidade de
mudar de tática. A Usaid, organização humanitária financiada pelo governo dos EUA, teria sugerido o envio de grandes quantidades de pão e leite a comerciantes
locais.
"Impulsionados pela vontade
de ganhar dinheiro, comerciantes
são capazes de distribuir comida
de forma mais rápida, a locais
mais distantes e áreas mais perigosas do que burocráticas agências de auxílio humanitário."
Outro perigo apontado pela Oxfam é o de "sujar" a imagem das
organizações humanitárias.
"Não se pode misturar a operação militar com a humanitária
porque a Oxfam e outras agências
vão acabar sendo vistas como
parte da operação militar, e isso
não pode acontecer", afirmou.
A organização Médicos Sem
Fronteiras, Nobel da Paz de 1999,
também alertou para o perigo.
"A confusão entre ajuda humanitária e militarismo só aumenta
o perigo de já complicadas ações
humanitárias, restringindo ainda
mais as possibilidades de intervenção", disse a entidade em nota
à imprensa. "Não se trata de ajuda
humanitária, mas de propaganda
militar planejada para garantir a
aceitação internacional dos ataques liderados pelos EUA."
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