São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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AFEGANISTÃO

Grupo manda população ficar em casa no escuro; ONU suspende envio de alimentos

Taleban diz que morreram de 6 a 25 na primeira noite

DA REDAÇÃO

Nos ataques de domingo à noite morreram entre 6 e 25 pessoas, afirmou ontem o Taleban, grupo extremista que controla quase todo o Afeganistão. Entre elas há "mulheres, crianças e idosos".
Em uma entrevista em Islamabad (Paquistão), o embaixador do Taleban, mulá Abdul Salem Zaeef, declarou que, em Cabul, dez pessoas morreram na região do aeroporto e mais dez em torno do escritório da emissora estatal Rádio Shariat. Mais cinco integrantes do Taleban teriam morrido em ataque contra a base militar de Shindand, na Província de Farah (oeste do país).
Mais tarde, um alto funcionário do Ministério da Saúde do Taleban informou que entre 6 e 8 pessoas foram mortas nos ataques, reduzindo o número de vítimas fatais divulgado anteriormente.
"É difícil calcular o número de vítimas. Mas talvez não haja mais do que 6, 7 ou 8 mortos", afirmou Mohammad Abbas ao canal de TV do Qatar Al Jazeera.
Indagado sobre Osama bin Laden, apontado como o principal suspeito de ter comandado os ataques de 11 de setembro, o embaixador do Taleban no Paquistão afirmou que ele "está vivo e no interior do Afeganistão", apesar de enfatizar que o Taleban "não mantém contatos com Osama".
A reação oficial do Taleban foi declarar os bombardeios como "um ataque terrorista contra o mundo muçulmano em seu conjunto". "Há muito tempo os Estados Unidos, sob diversos pretextos, atacam o povo muçulmano no mundo", declarou Zaeef.
"Se os norte-americanos pensam irracionalmente que podem tirar proveito desses ataques, penso que se equivocaram. Não sairão disso com êxito."

Vítimas
O vendedor de sorvetes Muhammed Zaher, 16, foi uma das primeiras vítimas dos ataques contra o Afeganistão. Ele perdeu uma perna ao ser atingido em ataque de míssil ao aeroporto de Jalalabad, perto de sua casa.
"Desejo que o meu Deus destrua as casas, os vilarejos e as cidades deles", declarou, após atravessar a fronteira com o Paquistão para receber tratamento médico.
Ele estava em casa no momento do ataque. "Houve um barulho muito alto e, quando abri os olhos, estava no hospital. Perdi minha perna e dois dedos."
O Taleban mandou ontem que os afegãos permaneçam em casa à noite, com as luzes apagadas. Em seguida, começou a segunda onda de ataques dos Estados Unidos, praticamente 24 horas depois do começo da primeira. A energia elétrica foi cortada pouco depois. Candahar e outras cidades afegãs permaneceram sem luz pelo segundo dia consecutivo.
Carregamentos de alimentos foram interrompidos temporariamente ontem. Funcionários das organizações disseram que poderia levar várias semanas até que se saiba se os ataques iniciaram um grande êxodo de refugiados afegãos.
O Programa de Alimentação das Nações Unidas declarou ontem ter suspendido o envio de carregamentos para ter tempo para avaliar a situação.
O Alto Comissariado para Refugiados da ONU pediu a ajuda do governo paquistanês para montar mais campos para refugiados, apesar de o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, ter declarado ontem que seu país não irá abrir suas portas para abrigar mais refugiados da guerra.
Musharraf declarou que o Paquistão permitirá apenas que pessoas feridas, mulheres, crianças e idosos atravessem a fronteira.


Com agências internacionais



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