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Moradores de
Cabul relatam
noite de terror
SAYED SALAHUDIN
DA "REUTERS", EM CABUL
Os assustados habitantes da capital afegã saíram ontem às ruas
com olheiras, depois de uma noite
tentando em vão esconder-se de
um inimigo invisível.
Apesar de já estarem "vacinados" contra conflitos, depois de
conviver com guerras há duas décadas, a noite de domingo foi das
mais assustadoras de suas vidas.
Devido ao toque de recolher rigidamente implementado pelo
grupo extremista Taleban, os moradores não tiveram para onde fugir nem onde se esconder quando
EUA e Reino Unido lançaram os
primeiros ataques à cidade.
"Não pudemos dormir a noite
toda. Foi a pior noite em muitos
anos", disse o porteiro do principal mercado de Cabul.
Os ataques foram a resposta já
prevista dos EUA aos atentados
em Nova York e no Pentágono,
que deixaram cerca de 5.000 mortos e desaparecidos. Os EUA atribuem a responsabilidade pelos
ataques ao terrorista saudita Osama bin Laden, que estaria no Afeganistão protegido pelo Taleban.
No primeiro ataque, caças americanos sobrevoaram a cidade
pouco após o toque de recolher,
às 21h. Mísseis Tomahawk lançados de navios e submarinos a centenas de quilômetros ao sul rasgaram o céu, atingindo alvos em
volta da capital.
Combatentes do Taleban armados com baterias antiaéreas da era
soviética montaram uma resistência fraca. Alguns combatentes
dispararam tiros de fuzis AK-47.
"Não queremos que essa situação continue. Por favor, digam
aos americanos para parar", disse
um comerciante. "Ficamos totalmente apavorados. Meus filhos
não conseguiram dormir. Foi
uma noite chocante", contou outro homem. "Só Deus sabe o que
aconteceu. Estou indo embora.
Prefiro dormir ao relento a passar
mais uma noite na cidade."
Ainda era cedo para contabilizar os prejuízos e as baixas. "Eu
me feri em Karte Nau (à leste da
cidade)", contou um combatente
do Taleban ferido nas mãos e em
uma perna. "Era uma posição militar. Perdi quatro amigos."
"Guerra santa"
Em várias mesquitas foram lançados chamados por uma "guerra
santa" contra os EUA. "Chegou a
hora da jihad. Precisamos sacrificar-nos por nosso país e pelo islã", versava o sermão proferido
em mesquita de Cabul.
Os Estados Unidos prometeram
continuar com os ataques até que
tenham "neutralizado" Bin Laden
e sua rede terrorista, a Al Qaeda (a
base), que opera no Afeganistão
pelo menos desde 1996.
Crianças e idosos se aglomeravam em ônibus e caminhões, tentando chegar ao vizinho Paquistão ou a áreas rurais do próprio
país, longe dos alvos visados pelos
EUA.
Alguns carregavam artigos domésticos. A maioria ficava olhando ao redor, amedrontada. Muitos culpavam os EUA por obrigá-los a sair da cidade com o inverno
se aproximando.
"Estamos partindo porque já
não há segurança aqui -graças à
América", disse um deficiente físico idoso numa estação de ônibus, ao amanhecer. "Veja essa
criancinha. Você acha que ela
aguenta ouvir as explosões dos
"presentes" dos americanos?",
afirmou ele.
"Diga aos americanos que já enfrentamos sofrimento, destruição
e mortes suficientes com as guerras passadas e que eles deveriam
nos poupar", disse outro.
Outras pessoas, porém, começaram o dia como se fosse outro
qualquer, abrindo suas lojas e indo ao trabalho. "Não nos sentimos seguros, mas não temos para
onde ir", explicou um homem a
caminho do trabalho.
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