São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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CRÍTICAS

Manifestantes queimam diversos prédios e enfrentam a polícia; ao menos uma pessoa morre

Milhares fazem protestos no Paquistão

Associated Press
Estudante protesta em Islamabad contra a ação militar dos EUA


DA REDAÇÃO

Uma série de manifestações contra os ataques ao Afeganistão aconteceu em diversos pontos do Paquistão logo após o dia amanhecer. Nas principais cidades do país, milhares de pessoas saíram às ruas para condenar os bombardeios ao Afeganistão, incendiando prédios e enfrentando a polícia em choques violentos que resultaram na morte de pelo menos uma pessoa e ferimentos em oito.
Expressiva parcela da população, especialmente os mais religiosos, critica o apoio dado pelo governo do presidente paquistanês, general Pervez Musharraf, aos Estados Unidos.
Os paquistaneses possuem fortes laços com os afegãos. Os dois países são muçulmanos sunitas e parte dos paquistaneses pertence à etnia pashtu, que é majoritária no Afeganistão e entre os integrantes do grupo extremista Taleban.
O Paquistão é o único país no mundo que ainda reconhece o regime extremista islâmico do Taleban. A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos romperam relações com o grupo após os atentados em Nova York e nos arredores de Washington.
Porém, apesar de continuar reconhecendo o regime, o governo paquistanês esfriou as relações desde os atos terroristas contra os Estados Unidos. A atitude do Taleban de recusar-se a entregar o saudita Osama bin Laden aos EUA, acusado por Washington de envolvimento nos atentados, foi condenada pelo governo de Islamabad.
A nova postura do Paquistão, no entanto, não se deu de forma natural. Os EUA pressionaram o país por um lado e, por outro, retiraram sanções econômicas impostas ao país desde a realizações de testes nucleares em 1998.
Parte da população local, simpática ao Taleban, acabou se revoltando com a posição do presidente Musharraf diante dos acontecimentos.

Pedras
A manifestação mais importante ocorreu na cidade de Quetta, no oeste do Paquistão, próxima à fronteira com o Afeganistão. Entre 10 mil e 15 mil pessoas gritavam palavras de ordem contra os norte-americanos, como "abaixo os Estados Unidos" e "morte ao presidente Bush".
Três cinemas que exibiam filmes norte-americanos, um posto policial, um centro comercial e parte dos escritórios do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) foram incendiados. A sede do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) foi saqueado.
"Apesar dos muros altos (do Unicef), os manifestantes conseguiram quebrar as janelas, atirando pedras. Em seguida, entraram no prédio e atearam fogo. Ainda bem que ninguém se feriu", disse o porta-voz do Unicef na cidade, Rupert Culville.
O Ministério das Relações Exteriores paquistanês lamentou o que aconteceu com o Unicef e com o Acnur e assegurou que irá tomar medidas para reforçar a segurança em torno dos edifícios da ONU no país.
Para conter a violência, a polícia tentou dispersar os manifestantes com gás lacrimogêneo. Também foi possível escutar o disparo de armas.

Estrangeiros
Os atos violentos se iniciaram depois que religiosos em várias mesquitas de Quetta declararam que todos os muçulmanos paquistaneses deveriam combater os Estados Unidos e seus aliados.
Os estrangeiros que estavam na cidade, em sua maioria jornalistas, terminaram sendo alvos dos protestos.
Os manifestantes se aproximaram do hotel onde estão hospedados a maior parte dos repórteres ocidentais e começaram a atirar pedras na piscina, imaginando que houvessem repórteres nadando. A piscina estava vazia. Para dispersar os manifestantes, a polícia lançou mais granadas de gás lacrimogêneo.

Bloqueio
Em Peshawar, também próxima à fronteira, estudantes bloquearam uma estrada que dá acesso à cidade. Em Islamabad, capital do Paquistão, também aconteceram grandes manifestações. Cerca de 1.500 estudantes se posicionaram diante do Centro Cultural dos EUA. A polícia, para evitar ataques, montou um amplo cordão humano para assegurar a proteção do local. Em Lahore e Karachi, centro financeiro do Paquistão, também aconteceram grandes manifestações contrárias aos ataques.


Com agências internacionais



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