São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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ORIENTE MÉDIO

Grupo extremista Hamas promove em Gaza ato de repúdio a ataque ao Afeganistão

Polícia palestina mata 2 durante manifestação

SANDRA AISEN
FREE-LANCE PARA FOLHA

Conflitos entre militantes do grupo Hamas e a polícia palestina deixaram dois mortos e cerca de 65 feridos ontem em Gaza.
Os ativistas saíram em manifestação de dentro da Universidade Islâmica na faixa de Gaza em apoio a Osama Bin Laden. O objetivo era também se posicionar contra o ataque americano ao Afeganistão.
A passeata com milhares de participantes aconteceu mesmo contra ordens diretas do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, que se reunia com o presidente egípcio, Hosni Mubarak, no Cairo.
A polícia palestina tentou de todas as maneiras dispersar os manifestantes com balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio. Entretanto o grupo não ficou satisfeito com a demonstração de força e saiu em combate.
Entre outras coisas, os ativistas queimaram carros da polícia e apedrejaram uma delegacia. Em razão disso, por ordens diretas do chefe da polícia, os policiais passaram a usar munição comum contra os manifestantes.
Testemunhas disseram que a polícia é responsável pelas vítimas, mas, em resposta, os policiais apontaram como suspeitos das mortes ativistas do Hamas armados e mascarados.
Demonstrações ocorreram em outros lugares na faixa de Gaza. Em Khan Younis, pelo menos cinco pessoas ficaram feridas. Foram realizados também ataques contra a companhia aérea palestina.
O ministro da Informação palestino, Iasser Abed Rabbo, disse que "é verdade que aqui há opressão, terrorismo e morte de palestinos todos os dias, mas isso não justifica ou dá cobertura para que alguém mate ou aterrorize civis em Washington, Nova York ou qualquer outro lugar".
A Autoridade Nacional Palestina já havia condenado os ataques ao principal aliado de Israel, os Estados Unidos, e disse que protestos contra os americanos não refletem o sentimento da população.
Em entrevista à televisão egípcia, Arafat não quis se referir a Osama bin Laden nem comentar o ataque contra o Afeganistão. Arafat não quer parecer estar dando apoio aos EUA, pois tem problemas suficientes dentro de casa.
Nem a polícia palestina nem dirigentes do Hamas quiseram comentar a manifestação na faixa de Gaza.
Se for constatado que a polícia palestina é a culpada das mortes de ontem, será a primeira vez que as forças de segurança atingiram palestinos durante o ultimo ano de revolta contra a ocupação israelense.
O ministro da Defesa israelense, Binyamin Ben-Eliezer, disse que os protestos em Gaza serão como um teste para Arafat, para testar qual é sua habilidade em controlar os militantes muçulmanos.
Uma nota do escritório do primeiro-ministro Ariel Sharon afirmou que os acontecimentos em Gaza não dizem respeito a Israel.
É possível que parte do problema seja também a onda de prisões que a polícia palestina está realizando. Segundo informações, a polícia teria prendido no domingo à noite, em Toubas, perto de Jenin, dois militantes da Jihad Islâmica e um do Hamas .
Há cinco anos, quando Arafat começou com a onda de prisões pelos acordos entre Israel e a ANP, o governo israelense esperou pelo que ia acontecer. Parece que agora a situação é a mesma.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Shimon Peres, se reuniu com os negociadores palestinos Saeb Erakat e Ahmad Qorei no domingo para consolidar o cessar-fogo. Entretanto Peres ainda não está disposto a se encontrar novamente com Arafat caso o líder da Autoridade Nacional Palestina não coloque mais ênfase na prisão de extremistas.
Segundo agências internacionais, Arafat disse que qualquer palestino que violar as decisões de cessar-fogo será detido.

Tranquilidade
Apesar da aparente tensão, os israelenses estão tranquilos. Ontem, véspera do feriado de Simcha Tora, as ruas em Jerusalém estavam cheias. Dezenas de pessoas foram levar suas máscaras de gás para serem trocadas, diante de um possível ataque a Israel, contudo.
Ben-Eliezer disse que não havia nenhum perigo iminente para os israelenses.
"A população pode dormir tranquila", afirmou o ministro. "Se houver ataque contra o Iraque, os americanos vão nos avisar com antecedência."



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