São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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Aumenta o apoio popular ao Taleban

ASEM MUSTAFA AWAN
ESPECIAL PARA O "THE INDEPENDENT"

Aqui em Islamabad (Paquistão), a vida continua, mas certamente não como se tudo estivesse normal. As pessoas estão compreensivelmente apreensivas quanto ao que o futuro pode reservar a elas depois do bombardeio ao Afeganistão.
Na manhã de ontem, senti uma atmosfera de rotina tensa. Acredito que todos estejam rezando para que Deus mostre misericórdia e o bom senso prevaleça.
Não creio que o líder paquistanês, general Pervez Musharraf, esteja certo ao alegar que a opinião pública apóia a colaboração com os EUA. Do que vejo, a maioria parece estar pensando nos irmãos muçulmanos no Afeganistão.
Houve quem saísse às ruas em protestos violentos contra os ataques aéreos. Mais ou menos à meia-noite, no domingo, houve uma imensa manifestação contra o bombardeio em frente ao "The Jang", um diário publicado no idioma urdu, em Rawalpindi. Em meio à multidão ruidosa, me surpreendi por descobrir que o premiê Tony Blair está começando a ser seriamente criticado. Não é mais só o presidente dos EUA que atrai raiva. Um jovem gritou para mim: "Por que ele está agindo assim? Tenta competir com [George W." Bush para mostrar quem é o líder mais popular?".
Outro jovem se queixou de que Blair estava agindo como "um enviado especial" dos EUA. Efígies de Bush e Blair têm sido queimadas. Mais e mais jovens proclamam seu desejo de partir para o Afeganistão e aderir à "guerra santa" em defesa do islamismo.
Mesmo entre os que não estão queimando efígies de líderes ocidentais, há grande ceticismo quanto às intenções americanas.
Na semana passada, conversei com um velho veterano de guerra. Alguém perguntou a ele se o Paquistão estava em perigo com os mísseis que sobrevoam nossa terra. Ele respondeu que, se Deus decidisse que ele deveria morrer dessa maneira, pelo menos seria bom morrer por uma causa. "No pé em que as coisas estão, meu filho em breve vai partir para o Afeganistão, e eu lhe dei permissão para se unir ao Taleban. Será a minha contribuição para a guerra."


O autor é repórter do "The Nation", um jornal de Islamabad



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