São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUROPA

Premiê britânico diz à emissora Al Jazeera que alvo da guerra é o terrorismo, não o islã

Em TV do Qatar, Blair rebate as afirmações de Bin Laden

MARCELO STAROBINAS
EM LONDRES

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, decidiu ontem utilizar a mesma tribuna adotada por Osama Bin Laden para dar o troco na guerra das palavras.
Em entrevista à rede de TV do Qatar Al Jazeera, o premiê do Reino Unido afirmou que a atual ofensiva militar no Afeganistão não é voltada contra os muçulmanos, mas contra os terroristas.
A Al Jazeera, transmitida via satélite para vários países do Oriente Médio, foi a emissora escolhida por Bin Laden para levar ao ar para o mundo anteontem suas ameaças aos EUA e um apelo para que "todo muçulmano se levante para defender sua religião" contra o "mundo dos infiéis" liderado pelos americanos.
"Não é um conflito do Ocidente contra o islã", declarou Blair, repetindo o que ele e o presidente dos EUA, George W. Bush, têm dito desde os atentados de 11 de setembro. O primeiro-ministro afirmou ainda que a rede internacional Al-Qaeda, ligada a Bin Laden, é "uma ameaça tão grande aos países árabes moderados quanto ao Ocidente".
Blair declarou também que, ao ouvir as palavras de Bin Laden, percebe-se que ele, se pudesse, "substituiria os governos do mundo árabe por regimes iguais ao Taleban". "E eu não acredito que ninguém queira realmente viver sob esse tipo de regime", completou o premiê britânico.
A busca de apoio de países muçulmanos como Arábia Saudita e Paquistão à ofensiva ocidental tinha o objetivo de passar ao mundo a mensagem de que islâmicos e não-islâmicos estariam juntos no combate ao terrorismo.
A entrevista de Blair foi gravada antes de o premiê participar de uma sessão especial do Parlamento, convocada especialmente em razão da participação militar do Reino Unido no Afeganistão.
O premiê disse aos deputados e ao público britânico para que estivessem preparados para encarar com ceticismo a propaganda do regime Taleban. "Os afegãos têm espalhado propaganda falsa", disse, negando informações do governo de Cabul de que uma aeronave aliada havia sido abatida.
Blair observou ainda que os países envolvidos na ofensiva são "povos pacíficos". "Preferimos viver em paz, mas um desejo de viver em paz nunca deve ser interpretado como fraqueza por aqueles que nos atacam." Tanto Blair quanto seu chanceler, Jack Straw, disseram ontem que a guerra deve ser longa e durar "semanas".
Assim como nos EUA, o principal partido de oposição britânico (o Conservador) apóia o governo em sua decisão de bombardear alvos na luta contra o terrorismo.
As questões de política doméstica praticamente sumiram da agenda de Blair desde os atentados a Nova York e Washington. Foi ele o principal aliado de Bush na tarefa de sedimentar uma ampla coalizão, tendo viajado para, entre outros lugares, Rússia, Paquistão e Índia.
O Reino Unido é também o único país até agora além dos EUA a ter participado das operações militares. Na primeira noite de bombardeios, no domingo, mísseis foram lançados de pelo menos um de três submarinos britânicos destacados para a atual ofensiva. A base britânica de Diego Garcia, no oceano Índico, foi utilizada por jatos da Força Aérea dos EUA.
Há relatos, não confirmados pelas autoridades, de que tropas de elite da unidade de operações especiais britânica SAS já estariam ha vários dias no Afeganistão, ajudando a identificar os alvos dos ataques aéreos. E Tony Blair afirmou que aeronaves de seu pais se juntariam às americanas no decorrer da campanha.

Apoio
Todo esse apoio de Blair aos EUA é respaldado pela opinião pública, que aprova o envio de seus soldados a essa nova guerra.
Os jornais britânicos fazem eco as declarações do governo de que se trata de um conflito inevitável e necessário para impedir que cenas como as vistas no World Trade Center se repitam em Londres.
Em editorial, o jornal "The Guardian" disse ontem que "é preciso ser dito que os EUA tinham o direito de lançar uma resposta militar".
Blair preside hoje a primeira reunião do recém-criado "gabinete de guerra". Ele será composto pelos ministros Geoff Hoon (Defesa), Jack Straw (Relações Exteriores), Gordon Brown (Finanças), David Blunkett (Interior), e Clare Short (Desenvolvimento Internacional), além dos chefes das Forças Armadas.


Texto Anterior: Aumenta o apoio popular ao Taleban
Próximo Texto: Segurança em Londres é reforçada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.