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EUROPA
Premiê britânico diz à emissora Al Jazeera que alvo da guerra é o terrorismo, não o islã
Em TV do Qatar, Blair rebate as afirmações de Bin Laden
MARCELO STAROBINAS
EM LONDRES
O primeiro-ministro britânico,
Tony Blair, decidiu ontem utilizar
a mesma tribuna adotada por
Osama Bin Laden para dar o troco
na guerra das palavras.
Em entrevista à rede de TV do
Qatar Al Jazeera, o premiê do Reino Unido afirmou que a atual
ofensiva militar no Afeganistão
não é voltada contra os muçulmanos, mas contra os terroristas.
A Al Jazeera, transmitida via satélite para vários países do Oriente Médio, foi a emissora escolhida
por Bin Laden para levar ao ar para o mundo anteontem suas
ameaças aos EUA e um apelo para
que "todo muçulmano se levante
para defender sua religião" contra
o "mundo dos infiéis" liderado
pelos americanos.
"Não é um conflito do Ocidente
contra o islã", declarou Blair, repetindo o que ele e o presidente
dos EUA, George W. Bush, têm
dito desde os atentados de 11 de
setembro. O primeiro-ministro
afirmou ainda que a rede internacional Al-Qaeda, ligada a Bin Laden, é "uma ameaça tão grande
aos países árabes moderados
quanto ao Ocidente".
Blair declarou também que, ao
ouvir as palavras de Bin Laden,
percebe-se que ele, se pudesse,
"substituiria os governos do
mundo árabe por regimes iguais
ao Taleban". "E eu não acredito
que ninguém queira realmente viver sob esse tipo de regime", completou o premiê britânico.
A busca de apoio de países muçulmanos como Arábia Saudita e
Paquistão à ofensiva ocidental tinha o objetivo de passar ao mundo a mensagem de que islâmicos e
não-islâmicos estariam juntos no
combate ao terrorismo.
A entrevista de Blair foi gravada
antes de o premiê participar de
uma sessão especial do Parlamento, convocada especialmente em
razão da participação militar do
Reino Unido no Afeganistão.
O premiê disse aos deputados e
ao público britânico para que estivessem preparados para encarar
com ceticismo a propaganda do
regime Taleban. "Os afegãos têm
espalhado propaganda falsa", disse, negando informações do governo de Cabul de que uma aeronave aliada havia sido abatida.
Blair observou ainda que os países envolvidos na ofensiva são
"povos pacíficos". "Preferimos viver em paz, mas um desejo de viver em paz nunca deve ser interpretado como fraqueza por aqueles que nos atacam." Tanto Blair
quanto seu chanceler, Jack Straw,
disseram ontem que a guerra deve ser longa e durar "semanas".
Assim como nos EUA, o principal partido de oposição britânico
(o Conservador) apóia o governo
em sua decisão de bombardear alvos na luta contra o terrorismo.
As questões de política doméstica praticamente sumiram da
agenda de Blair desde os atentados a Nova York e Washington.
Foi ele o principal aliado de Bush
na tarefa de sedimentar uma ampla coalizão, tendo viajado para,
entre outros lugares, Rússia, Paquistão e Índia.
O Reino Unido é também o único país até agora além dos EUA a
ter participado das operações militares. Na primeira noite de bombardeios, no domingo, mísseis foram lançados de pelo menos um
de três submarinos britânicos
destacados para a atual ofensiva.
A base britânica de Diego Garcia,
no oceano Índico, foi utilizada
por jatos da Força Aérea dos EUA.
Há relatos, não confirmados pelas autoridades, de que tropas de
elite da unidade de operações especiais britânica SAS já estariam
ha vários dias no Afeganistão, ajudando a identificar os alvos dos
ataques aéreos. E Tony Blair afirmou que aeronaves de seu pais se
juntariam às americanas no decorrer da campanha.
Apoio
Todo esse apoio de Blair aos
EUA é respaldado pela opinião
pública, que aprova o envio de
seus soldados a essa nova guerra.
Os jornais britânicos fazem eco
as declarações do governo de que
se trata de um conflito inevitável e
necessário para impedir que cenas como as vistas no World Trade Center se repitam em Londres.
Em editorial, o jornal "The
Guardian" disse ontem que "é
preciso ser dito que os EUA tinham o direito de lançar uma resposta militar".
Blair preside hoje a primeira
reunião do recém-criado "gabinete de guerra". Ele será composto pelos ministros Geoff Hoon
(Defesa), Jack Straw (Relações Exteriores), Gordon Brown (Finanças), David Blunkett (Interior), e
Clare Short (Desenvolvimento Internacional), além dos chefes das
Forças Armadas.
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