São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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"Cabe ao Brasil ter uma palavra firme"

Leia a íntegra do pronunciamento do presidente Fernando Henrique Cardoso, ontem, em cadeia de rádio e TV:
"Meus amigos:
Como seu presidente, cabe a mim, neste momento da história, conduzir o Brasil em um cenário mundial de incertezas.
Ao iniciar, ontem, ações militares, os Estados Unidos estão respondendo, com amplo apoio internacional, a uma situação de conflito sem precedentes.
Não se trata, como no passado, da luta de uma nação contra outra. Mas da luta de um país atingido, violenta e covardemente, por grupos terroristas, num ataque brutal que chocou o mundo, sacrificando mais de 7.000 seres humanos.
Cabe ao Brasil, nesta hora em que os ânimos e as paixões se exaltam, ter uma palavra firme de apoio e de racionalidade.
O Brasil tem um lado claro. O lado contra o terror, a violência e a insensatez. Tenho tomado medidas para que, em nosso território, o terrorismo não encontre guarida para agir ou se esconder.
Determinei rigor na segurança de nossos portos e aeroportos. Reforço da vigilância do espaço aéreo. Controle e fiscalização severos nas áreas de fronteira. Intensificação do combate à lavagem de dinheiro, ao contrabando de armas e ao narcotráfico.
Devemos ter consciência de que cooperar com a nação nessas circunstâncias difíceis é tarefa de cada brasileiro.
Conclamo as forças políticas a dar ao País o apoio necessário para enfrentarmos, juntos, as dificuldades que teremos pela frente.
Quem já viveu uma guerra, mesmo longe dela, sabe que sua sombra se estende por todo o planeta.
O Brasil e seus representantes no exterior devem estar preparados para atender os brasileiros, defendê-los e dar assistência a eles e suas famílias em qualquer parte do mundo.
Este momento chama cada um de nós à grandeza.
Tempo de conflito lá fora deve ser tempo de união aqui dentro.
Estarei atento às consequências econômicas da crise. E não permitirei que o Brasil perca sua tranquilidade e seu rumo.
Desde que assumi a presidência, tivemos que enfrentar muitas crises vindas de fora, e mesmo aqui dentro -como a energia, que entrou em crise-, mas nem por isso perdemos a confiança em nós mesmos.
Ao contrário, o país continuou avançando. Tem dado provas de maturidade e inteligência. Vem promovendo reformas necessárias ao seu crescimento sustentado e, o que é muito importante, estabeleceu os primeiros programas que, pouco a pouco, vão construindo uma verdadeira rede de proteção social.
Eu sempre confiei no povo. Não tenho dúvida de que, com a mesma atitude de patriotismo e de cidadania que está iluminando o Brasil durante o racionamento de energia, todos os brasileiros saberão responder às incertezas da hora presente.
Quero deixar claro que se, por um lado, o Brasil se coloca firmemente contra o terrorismo, o Brasil estará também firmemente ao lado da razão.
Queremos a punição dos responsáveis por um crime que matou, além de milhares de norte-americanos inocentes, gente inocente do mundo inteiro. E, infelizmente, também, brasileiros.
É com emoção, e pensando em suas famílias, que pronuncio os nomes desses brasileiros: Alex Alves da Silva; Anne Marie Sallerin Ferreira; Ivan Fairbanks Barbosa; Sandra Fajardo Smiths; Nilton Albuquerque.
E, ainda, existem muitos outros brasileiros desaparecidos. Não precisamos aguardar o balanço final desta tragédia para tomarmos consciência de que algo de novo precisa ser feito para que a ameaça do terror seja afastada da face da Terra.
O Brasil continuará a fazer ouvir sua voz. Nosso país, onde vivem pacificamente árabes, judeus e seus descendentes, tantas raças e religiões diferentes -católicos, protestantes, muçulmanos-, não deixará de cobrar uma solução racional para o conflito entre israelenses e palestinos, que há tanto tempo fugiu da racionalidade.
Brasileiros, não é este momento para ilusões. Não podemos pensar que estamos longe do palco de um conflito, porque esse conflito não terá um palco definido. Sem pânico, sem medo, com firmeza, união e prudência, chamo cada brasileiro à sua responsabilidade. E que o Brasil seja nesses tempos de intolerância um refúgio da razão, um exemplo de união e um fórum constante da paz."



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