São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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Acusado nega ligação com Hizbollah

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O comerciante libanês Assad Ahmad Mohamad Barakat, 34, negou, em entrevista à Folha, que seja dirigente do Hizbollah (Partido de Deus) na região da tríplice fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai) e afirma se vítima de uma "perseguição gratuita" da polícia paraguaia.
O governo do Paraguai tem tentado cercar atividades suspeitas de ligações com terrorismo. O Banco Central do país está fazendo um rastreamento de contas bancárias. Já foram identificadas 48 contas suspeitas, de onde foram feitas remessas para o exterior avaliadas em US$ 46 milhões.
Barakat foi apontado como "dirigente do Hizbollah na região" em relatórios da Polícia Federal enviados ao Paraguai entre o fim de 1999 e o início de 2000.
Nos relatórios que a Folha obteve, o xiita Barakat e outros dois libaneses- Ali Kalil Merhi e Youssef Salim Merhi- são apontados com os principais quadros do Hizbollah, hoje um partido legal no Líbano, na tríplice fronteira.
Sua loja em Ciudad del Este foi fechada pela Polícia Nacional do Paraguai no último dia 3 e dois de seus empregados foram presos.
A Divisão de Comunicação Social da PF informou que não se pronuncia sobre as investigações a respeito de terrorismo.
A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha:

Folha - O sr. é apontado como dirigente do Hizbollah em relatório da PF ao governo paraguaio. O sr. foi intimado alguma vez?
Barakat -
Não sou ligado ao Hizbollah. Estou na região desde 1985, e em 1987 mudei para Foz do Iguaçu. Sou casado com uma brasileira, tenho três filhos brasileiros. A PF sabe onde me encontrar e nunca me procurou.

Folha - No relatório enviado ao Paraguai há a informação que o seu processo de naturalização foi arquivado pelo fato de o sr. não ler em português. Isso é correto?
Barakat -
Escrevo, leio e falo português. Acho que houve má vontade no meu processo de naturalização. Tenho visto permanente, moro em Foz e vou tentar me naturalizar. Tenho um irmão que é religioso (o irmão é xeque xiita e morou no Brasil), que escreveu dois livros em português. Acredito que toda essa perseguição resulta disso, preconceito religioso contra os muçulmanos no Paraguai.

Folha - Mas é um relatório da polícia brasileira que aponta sua ligação com o Hizbollah.
Barakat -
A PF disse que não enviou isso (relatório) para o Paraguai. O problema é que no Paraguai te prendem primeiro para depois investigar. No Brasil vale a democracia, lá não.



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