São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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REPERCUSSÃO

CELSO LAFER, ministro das Relações Exteriores:
"A Constituição considera o terrorismo um crime inafiançável, por ele respondendo executores, mandantes e aqueles que, podendo evitá-lo, não o fizeram. E o Conselho de Segurança da ONU considera que os EUA sofreram um ataque. Estamos dentro de um marco constitucional e de um marco do direito internacional".

LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO, historiador, professor da Universidade de Paris 4 (Sorbonne):
"Não há muito o que discutir sobre os "raids" americanos: Bin Laden praticamente reivindicou os ataques, e o Conselho de Segurança da ONU já havia declarado que os Estados Unidos estavam em situação de legítima defesa. Mais importante agora é defender o povo afegão, vítima da tirania dos talebans e de conflito internacional. Outra fonte de preocupação se refere à geopolítica: a intervenção americana, inglesa e eventualmente européia pode incendiar a Ásia Central e trazer graves repercussões para todo o mundo. Nesse sentido, é preciso ver como vai reagir a China, aliada fiel do Paquistão e inimiga da Índia".

RENATO JANINE RIBEIRO, professor de ética e filosofia política da USP (Universidade de São Paulo):
"Os ataques eram inevitáveis, mas não são eles que me preocupam. Estou apreensivo é com o pós-guerra, porque já ficou claro que os EUA não querem apenas fazer uma retaliação aos supostos autores dos atentados. Eles querem tirar o Taleban do poder e, aí, o que vai ser do Afeganistão? Reconstruir o país e reorganizá-lo custaria muito dinheiro e não sei se os EUA estariam dispostos a fazê-lo -me parece que não.".

EMIR SADER, sociólogo, professor da USP e da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro):
"Militarmente, está configurada a idéia de derrubar o governo. É fácil tirar o fantasma da garrafa. Quero ver é formar outro governo, com esses problemas todos. A Aliança do Norte é formada por etnias minoritárias, é uma frente de etnias, não unificada internamente. E o pior problema: é aliada à Índia, e não ao Paquistão".

EVALDO CABRAL DE MELLO, historiador:
"Os norte-americanos não podiam deixar de fazer represálias. Estarão adotando a atitude correta enquanto pouparem os alvos civis. Não gosto das teorias de conflitos civilizatórios, mas é evidente que o ataque terrorista não foi apenas contra os EUA, mas contra os valores do Ocidente. O contencioso em torno de Israel e Palestina é uma das origens, mas não a única variante que explica o ressentimento do mundo muçulmano, que é um fato milenar. É inaceitável a mistura de teocracia e terrorismo".

DANIEL ARAÃO REIS FILHO, historiador da Universidade Federal Fluminense:
"As melhores bombas contra o terrorismo seriam apoiar a formação de um Estado palestino laico e criar um programa de incentivo ao desenvolvimento de países pobres. Essa guerra pode gerar um conflito de civilizações, com uma espiral de violência desastrosa".

SAMUEL FELDBERG, cientista político do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da USP:
"O que parece estar por trás dos ataques é uma ação complicada, que visa criar uma nova estrutura de poder, incorporando as várias etnias afegãs sob o comando da Aliança do Norte".

MARIA APARECIDA DE AQUINO, professora de história contemporânea da USP:
"O ataque pode gerar uma união de países de maioria muçulmana contra os EUA e uma expansão da guerra além das fronteiras do Afeganistão. É uma guerra travestida de ajuda humanitária. Bombardeiam-se cidades, omite-se que se matam pessoas, civis inclusive, e diz-se que se está mandando ajuda humanitária. O Taleban virou o inimigo que precisa ser derrubado, e isso deveria acender um sinal em todo o mundo, porque mostra que, quando os países fortes, a começar pelos EUA, desejam derrubar um governo, usam qualquer pretexto".

OCTAVIO IANNI, sociólogo e professor emérito da USP:
"Os EUA não deveriam atacar porque o assunto poderia ser perfeitamente conduzido por vias diplomáticas. A reação do governo americano e da Grã-Bretanha pode ser definida como uma ação terrorista de muito maior envergadura".



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