São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997.




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XENOFOBIA
Preconceito transforma o brasileiro em 'macaquito'

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

A charge do jornal "Ámbito Financiero", reproduzida ao lado, parece uma forte indicação de que os argentinos, em geral, são preconceituosos em relação aos brasileiros -ou "macaquitos", como eram chamados antigamente.
É apenas meia verdade. Como em todos os países, há, na Argentina, um preconceito mais ou menos velado em relação a quem é diferente. Como os negros são pouquíssimos no país, a presença de um deles chama a atenção e expõe mais a restrição ao "diferente".
Mas, no fundo, a charge do jornal revela outro tipo de fenômeno, embora ligado ao preconceito. O Brasil dos "macaquitos", afinal, cresceu muitíssimo, a partir da Segunda Guerra Mundial (1939/1945), ao passo que a Argentina entrou em processo de estagnação.
Resultado: a Argentina, branca e européia, perdeu importância, na região e no mundo, em favor de um Brasil muito mais miscigenado, um fenômeno que parte da cultura branca tem dificuldade em absorver.

Anti-semitismo
Muito mais inquietante do que esse complexo de superioridade virado do avesso pelos fatos é a persistência de outro tipo difuso de preconceito, o anti-semitismo. Talvez seja uma herança das simpatias do general Juan Domingo Perón pelo fascismo do ditador italiano Benito Mussolini.
Se o preconceito de cor machuca acima de tudo o amor próprio da vítima, o anti-semitismo tem consequências bem mais sérias: durante a mais recente ditadura militar (1976/1983), os judeus que foram presos sofreram torturas e violências ainda mais abomináveis do que as já duras provações a que foram submetidas as demais vítimas.
Não deve ser por mero acaso que duas entidades da comunidade judaica argentina foram alvo de atentados mesmo depois de restaurada a democracia.



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