São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 2006

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PF reforça a hipótese de suicídio

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Menos de 24 horas depois de pousar na capital do Haiti, a equipe da Polícia Federal centrou sua interpretação da morte do general Urano Bacellar na tese de suicídio, cometido pelo militar com sua própria pistola no quarto de hotel em que vivia em Porto Príncipe. O corpo deve chegar ainda hoje ao Rio, para ser enterrado amanhã.
A reportagem da Folha apurou que os investigadores brasileiros chegaram a essa conclusão depois de analisar o material produzido pela Polícia Internacional da ONU, que apura oficialmente o episódio a pedido do embaixador Valdés, chefe diplomático da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah).
No final da tarde, os peritos da PF e um agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) examinaram o quarto onde o corpo do general foi encontrado, antes de decidir os próximos passos.
Pela manhã, em cerimônia fúnebre no hospital da Argentina no Haiti, o embaixador brasileiro Paulo Pinto indicou que também adotou a tese de suicídio. "Não entrei no quarto, mas, da minha perspectiva, pude ver algo que seria a arma do general ao lado de sua mão", apontou.
Mas o vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, considera "uma versão preocupante" a de que o comandante brasileiro das tropas de paz no Haiti, general Urano Bacellar, se suicidou. "Não podemos aceitar pacificamente essa versão."
Alencar também contou à Folha que, na reunião de sábado passado com diplomatas e militares para discutir a questão, todos os presentes unanimemente desconfiaram da tese de suicídio.
No relato do vice-presidente, que participou do encontro, um dos participantes argumentou: "Como uma pessoa vai para a varanda para se suicidar?" Outro acrescentou: "E sem deixar ao menos um bilhete".
Alguns dos motivos para a desconfiança, segundo Alencar, são que o general morto era "um homem de muita moral, muito equilíbrio" e, além disso, "conversou tranqüilamente na véspera com um diplomata e telefonou para a mulher, sem manifestar nenhuma anormalidade".
Segundo relatos de pessoas próximas, Bacellar não havia demonstrado nenhum sinal de que havia algo errado nos dias que antecederam sua morte.
O vice disse que, segundo conversas com oficiais do Exército, ficou sabendo que as tropas brasileiras vinham enfrentando dificuldades de relacionamento com o comandante das tropas da Jordânia, Al Huzbam, mesmo antes de Bacellar assumir o posto. Para Alencar, isso tem de ser apurado.


Colaboraram Eduardo Scolese e Eliane Cantanhêde

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