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ANÁLISE
Solidão e derrota motivam suicídio
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma derrota -ou a impressão
de que se está derrotado- e a natural "solidão do comando" são
as principais causas da tentativa
de suicídio de um comandante
militar. Em tempos de paz ou até
mesmo em guerras de "baixa intensidade", os índices de suicídio
entre militares e civis são semelhantes. Pode ser mesmo menor
entre o pessoal de farda. Mas
qualquer um pode se matar se o
nível de estresse é elevado demais.
Generais e almirantes se suicidam menos do que soldados e
marinheiros. Soldados, sargentos
e oficiais subalternos em combate
se matam quando o estresse da luta chega a níveis intoleráveis.
Um comandante não sofre tanto fisicamente. Mas ele é o responsável final pelas ações dos seus subordinados. Suas decisões podem
ter a ajuda de um colegiado, um
"Estado-Maior", mas ele é o responsável final.
Em caso de derrota, que pode
significar a morte de muitos de
seus comandados, o estresse pode
levar ao suicídio.
Em algumas Forças Armadas,
ao longo da história, isso era praticamente institucional. Generais
japoneses derrotados regularmente se matavam antes de serem
capturados pelos aliados na Segunda Guerra. Mesmo na tradição militar ocidental, o suicídio
poderia ser uma saída honrosa: o
capitão morre com seu navio. Isso
pode ocorrer na hora do naufrágio ou depois.
O capitão alemão Hans Langsdorff comandava o "couraçado-de-bolso" -um cruzador hiperarmado- Graf Spee, que batalhou com três cruzadores britânicos ao largo do rio da Prata em
1939. Langsdorff refugiou-se em
Montevidéu. Estava impressionado com a morte de alguns de seus
marinheiros. Achava que logo seria destruído por uma enorme
força britânica que se avizinhava.
Não era o caso, mas ele se enrolou
em uma bandeira e se matou.
Um teatro de operações é, sem
dúvida, um local estressante. Tanto pelo combate quanto pelo entorno -pobreza, degradação, falta de perspectivas da população.
Mas a vida civil também pode ser.
Em 2003, tropas do Exército dos
EUA no Iraque tiveram um índice
de 17,3 suicídios em cada 100 mil
militares, acima da média geral da
força, de 12,8 por 100 mil. O índice
caiu em 2004, para 7,9 em cada
100 mil militares. Em compensação, a média nacional americana é
de 21,5 suicídios em cada 100 mil
homens de 20 a 34 anos.
Raros são os suicídios em que
não se tem algum aviso prévio do
ato. Palavras e gestos podem comunicar a intenção a quem está
em volta, e uma conversa, impedir o ato. Mas, no caso de um comandante militar, a clássica "solidão do comando" milita contra
essa válvula de escape.
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