São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 2006

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ORIENTE MÉDIO

Premiê israelense apresenta sinais de melhora, mas os médicos dizem que sua recuperação é uma incógnita

Sharon se move e respira sem aparelhos

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Em mais um tímido sinal de recuperação do forte derrame sofrido na última quarta-feira, o premiê de Israel, Ariel Sharon, moveu a mão e a perna direitas e tossiu, além de respirar de forma independente após a redução dos sedativos implementada ontem pelos médicos para retirá-lo gradualmente do coma induzido. Apesar dos indícios de melhora, o estado de saúde de Sharon, 77, ainda é considerado crítico, e a recuperação de suas capacidades, caso o fim do coma seja bem-sucedido, uma incógnita.
A primeira reação positiva ocorreu na manhã de ontem, quando os médicos começaram o processo gradual de redução dos sedativos, e Sharon passou a respirar de forma espontânea, ainda que assistido por aparelhos. Shlomo Mor Yossef, diretor do hospital Hadassa, onde Sharon está internado, anunciou a melhora no estado do premiê e disse que a retirada do coma poderia durar "horas ou dias". O movimento dos membros, o segundo indício de atividade cerebral, ocorreu após um teste de sensibilidade à dor, que deixou os médicos um pouco mais animados.
"Ele continua conectado a respiradores que o assistem, mas o primeiro-ministro está respirando espontaneamente", disse Mor Yossef na porta do hospital a dezenas de jornalistas de vários países. "É o primeiro sinal de alguma atividade em seu cérebro". Ele confirmou que os indícios são animadores, mas voltou a alertar que Sharon ainda core risco.
Segundo o neurocirurgião Félix Umansky, que chefia a equipe encarregada de Sharon, ainda é cedo para avaliar se o premiê será capaz de recuperar os sinais cognitivos, como a fala e a memória. "Quero ressaltar que este é um processo muito, muito gradual", disse o argentino Umansky, acrescentando que Sharon ainda não abriu os olhos. A expectativa é em relação ao momento em que o premiê sair do coma, quando os danos causados pelo derrame poderão ser inteiramente avaliados.
Os médicos então transmitirão suas conclusões ao procurador-geral de Israel, Menachem Mazuz. Se os médicos decretarem que Sharon está incapacitado para desempenhar o cargo de premiê, o gabinete se reunirá em caráter de emergência para apontar um líder até as eleições de março.
Hoje, os médicos voltarão a se reunir para decidir sobre uma nova redução dos sedativos e se podem também diminuir gradualmente a ação do respirador artificial, para estimular a intensificação da atividade respiratória.

Deputados brasileiros
Dezenas de simpatizantes continuaram ontem a chegar ao hospital Hadassa para manifestar solidariedade e esperança na recuperação de Sharon. Embora poucos acreditem em seu retorno como primeiro-ministro, as notícias de ontem foram motivo de alívio. Segurando uma bandeira de Israel e um cartaz com desejos de convalescência, Gilad David, 6, chegou com os pais ao hospital para participar da vigília. "Pedi a meu pai que me trouxesse. Sei que a situação é difícil, mas continuamos acreditando", disse o menino.
Três deputados brasileiros que participam em Jerusalém de um encontro mundial de parlamentares judeus receberam ontem do diretor do hospital Hadassa notícias sobre Sharon. Alberto Goldman (PSDB-SP), Max Rosenmann (PMDB-PR) e Davi Alcolumbre (PFL-AP) visitaram o hospital ciceroneados por Mor Yossef, de quem ouviram uma avaliação otimista, mas cautelosa.
Segundo os deputados brasileiros, o médico israelense mostrou uma unidade de UTI semelhante à que está servindo Sharon e repetiu o que vem dizendo nos pronunciamentos à imprensa. Entre os parlamentares que participam do encontro, ficou a preocupação demonstrada pelos interlocutores israelenses de que a ausência de Sharon pode criar um vácuo de poder, num momento extremamente sensível.
"Há uma sensação de insegurança com o estado de saúde de Sharon, justamente quando há preocupação com o avanço do [grupo terrorista] Hamas nos territórios palestinos e o Irã busca desenvolver seu programa nuclear", disse Goldman, líder do PSDB na Câmara.


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