|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Americanos bombardeiam Somália
Pentágono diz querer alvejar terroristas e bases de treinamento de grupos islâmicos; ONU e União Européia criticam
EUA vinham dando apenas
apoio logístico à Etiópia, que
invadiu país e desalojou do
poder as milícias islâmicas;
intervenção é agora direta
Mohamed Sheikh Nor/Associated Press
|
O premiê somali (de branco) dá entrevista em Mogadício |
DA REDAÇÃO
Aviões e helicópteros americanos bombardearam o sul da
Somália entre domingo e ontem, em busca de terroristas da
Al Qaeda abrigados pelas milícias islâmicas, expulsas no final
de dezembro por forças etíopes
da capital, Mogadício.
O Pentágono confirmou apenas o bombardeio de domingo,
mas testemunhas ouvidas pela
BBC e pela agência Reuters disseram que as operações prosseguiam ontem, com a morte de
22 a 31 civis, entre eles um casal, na festa de seu casamento.
Os principais alvos foram a
aldeia de Afmadou e a ilha de
Badmadou, localizada junto à
fronteira do Quênia e que, além
de abrigar refugiados islâmicos,
também seria um campo de
treinamento de terroristas.
Em 1988, caminhões-bomba
mataram 224 pessoas ao explodirem nas embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na
Tanzânia. Os dois atentados foram atribuídos ao grupo de
Osama bin Laden.
Quatro anos depois, já sob o
impacto do 11 de Setembro, o
Pentágono instalou a base de
operações de Camp Lemonier
no Djibuti, minúscula ex-colônia francesa, para coordenar
operações da "guerra ao terror"
no Chifre da África.
Foi dessa base que no domingo à noite decolou o Hércules AC-130 Spectre, avião antigo e lento -sua atual versão
data da Guerra do Vietnã e ele é
turboélice, e não a jato-, mas
com duas características operacionais: bombardeia locais
desprovidos de defesa antiaérea e possui um sistema de metralhadoras capaz de "varrer"
pequenas áreas com até 3.000
projéteis por minuto.
Esta foi a primeira intervenção direta dos americanos na
Somália desde 1993, quando 18
militares morreram num helicóptero supostamente abatido
por terroristas islâmicos.
O Pentágono até agora fornecia apenas apoio logístico à
Etiópia e às diminutas forças
do governo provisório somali.
A Marinha americana deslocou
três barcos para impedir que
milicianos islâmicos em fuga
atravessassem o golfo de Aden.
Washington ontem confirmou
que também enviou à área o
porta-aviões Eisenhower, uma
das mais modernas embarcações, deslocado do Índico.
Estrangeiros
O primeiro-ministro etíope,
Meles Zenawi, disse ter detido
desde o final de dezembro combatentes islâmicos com passaportes britânico, canadense,
paquistanês, iemenita, sudanês
e queniano. Informes fragmentados dão conta que militantes
estrangeiros também foram
mortos agora pelas bombas
americanas.
O porta-voz do Pentágono,
Bryan Whitman, disse que a
operação de domingo foi desencadeada a partir de relatórios dos serviços de inteligência
e procuraram alvejar apenas
operativos da Al Qaeda.
Eram especificamente três
os terroristas procurados. O
primeiro, Abu Talha al Sudani,
é especialista em explosivos e
atua na Somália desde 1993. Há
também Fazul Abdullah Mohammed e Saleh Ali Nabhan,
que teriam participado dos
atentados às embaixadas americanas e a um hotel no Quênia
freqüentado por israelenses.
"Os Estados Unidos têm o direito de bombardear terroristas que sejam suspeitos dos
atentados em suas embaixadas", disse ontem o presidente
interino somali, Abdullahi Yusuf, despachando de Mogadício, onde as milícias islâmicas
antes vetavam sua entrada.
Richard Cornwell, do Instituto de Estudos de Segurança,
de Pretória, disse ao jornal britânico "The Guardian" que o
AC-130 não está equipado para
mirar em indivíduos e que, se o
fizer, vítimas inocentes ao redor pereceriam "numa situação
altamente hipócrita".
Em Mogadício, um quartel
que alojava combatentes etíopes foi atingido por granadas
ontem, o que indica instabilidade no quadro militar. Não há
informação sobre mortos.
O novo secretário-geral da
ONU, Ban Ki-Moon, disse estar
"preocupado" com os bombardeios americanos em razão dos
riscos de uma escalada regional
e de vítimas civis. Em Bruxelas,
o porta-voz da Comissão Européia disse que tais iniciativas
"não são úteis a longo prazo".
Com agências internacionais
Texto Anterior: Brasil apóia secretário-geral da OEA após crítica de venezuelano Próximo Texto: EUA assumem o risco de matar civis e estimular o radicalismo Índice
|