São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

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Americanos bombardeiam Somália

Pentágono diz querer alvejar terroristas e bases de treinamento de grupos islâmicos; ONU e União Européia criticam

EUA vinham dando apenas apoio logístico à Etiópia, que invadiu país e desalojou do poder as milícias islâmicas; intervenção é agora direta

Mohamed Sheikh Nor/Associated Press
O premiê somali (de branco) dá entrevista em Mogadício


DA REDAÇÃO

Aviões e helicópteros americanos bombardearam o sul da Somália entre domingo e ontem, em busca de terroristas da Al Qaeda abrigados pelas milícias islâmicas, expulsas no final de dezembro por forças etíopes da capital, Mogadício.
O Pentágono confirmou apenas o bombardeio de domingo, mas testemunhas ouvidas pela BBC e pela agência Reuters disseram que as operações prosseguiam ontem, com a morte de 22 a 31 civis, entre eles um casal, na festa de seu casamento.
Os principais alvos foram a aldeia de Afmadou e a ilha de Badmadou, localizada junto à fronteira do Quênia e que, além de abrigar refugiados islâmicos, também seria um campo de treinamento de terroristas.
Em 1988, caminhões-bomba mataram 224 pessoas ao explodirem nas embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia. Os dois atentados foram atribuídos ao grupo de Osama bin Laden.
Quatro anos depois, já sob o impacto do 11 de Setembro, o Pentágono instalou a base de operações de Camp Lemonier no Djibuti, minúscula ex-colônia francesa, para coordenar operações da "guerra ao terror" no Chifre da África.
Foi dessa base que no domingo à noite decolou o Hércules AC-130 Spectre, avião antigo e lento -sua atual versão data da Guerra do Vietnã e ele é turboélice, e não a jato-, mas com duas características operacionais: bombardeia locais desprovidos de defesa antiaérea e possui um sistema de metralhadoras capaz de "varrer" pequenas áreas com até 3.000 projéteis por minuto.
Esta foi a primeira intervenção direta dos americanos na Somália desde 1993, quando 18 militares morreram num helicóptero supostamente abatido por terroristas islâmicos.
O Pentágono até agora fornecia apenas apoio logístico à Etiópia e às diminutas forças do governo provisório somali. A Marinha americana deslocou três barcos para impedir que milicianos islâmicos em fuga atravessassem o golfo de Aden. Washington ontem confirmou que também enviou à área o porta-aviões Eisenhower, uma das mais modernas embarcações, deslocado do Índico.

Estrangeiros
O primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, disse ter detido desde o final de dezembro combatentes islâmicos com passaportes britânico, canadense, paquistanês, iemenita, sudanês e queniano. Informes fragmentados dão conta que militantes estrangeiros também foram mortos agora pelas bombas americanas.
O porta-voz do Pentágono, Bryan Whitman, disse que a operação de domingo foi desencadeada a partir de relatórios dos serviços de inteligência e procuraram alvejar apenas operativos da Al Qaeda.
Eram especificamente três os terroristas procurados. O primeiro, Abu Talha al Sudani, é especialista em explosivos e atua na Somália desde 1993. Há também Fazul Abdullah Mohammed e Saleh Ali Nabhan, que teriam participado dos atentados às embaixadas americanas e a um hotel no Quênia freqüentado por israelenses.
"Os Estados Unidos têm o direito de bombardear terroristas que sejam suspeitos dos atentados em suas embaixadas", disse ontem o presidente interino somali, Abdullahi Yusuf, despachando de Mogadício, onde as milícias islâmicas antes vetavam sua entrada.
Richard Cornwell, do Instituto de Estudos de Segurança, de Pretória, disse ao jornal britânico "The Guardian" que o AC-130 não está equipado para mirar em indivíduos e que, se o fizer, vítimas inocentes ao redor pereceriam "numa situação altamente hipócrita".
Em Mogadício, um quartel que alojava combatentes etíopes foi atingido por granadas ontem, o que indica instabilidade no quadro militar. Não há informação sobre mortos.
O novo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, disse estar "preocupado" com os bombardeios americanos em razão dos riscos de uma escalada regional e de vítimas civis. Em Bruxelas, o porta-voz da Comissão Européia disse que tais iniciativas "não são úteis a longo prazo".


Com agências internacionais


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