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São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2003

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CULINÁRIA DE GUERRA

TVs americanas tentam comprar rações especiais francesas para soldados

França bate EUA na cozinha militar

JOHN LICHFIELD
DO "THE INDEPENDENT", EM PARIS

As redes de TV americanas podem estar cheias de notícias pouco lisonjeiras sobre a falta de espírito bélico dos franceses, mas o desdém não se estende à rejeição das rações militares francesas.
Na Guerra do Golfo e nos Bálcãs, os correspondentes americanos criaram intenso desprezo pelas MRE (rações servidas aos soldados) oferecidas aos combatentes dos EUA. Descobriram, por meio de trocas com colegas da França, que o equivalente francês tinha qualidade notável. Com a iminência de uma segunda guerra no golfo, uma das três grandes redes de TV americanas tenta persuadir a França fornecer refeições no atacado para seus correspondentes e técnicos em campanha.
Sem resultados, ao que parece. O Ministério da Defesa em Paris se recusou a fornecer a comida, alegando que isso poderia implicar apoio clandestino à aventura militar americana que a França desaprova oficialmente.
As rações francesas consistem de um pacote de 1,5 kg, o suficiente para alimentar uma pessoa por um dia (três refeições). O café da manhã traz pão seco e café instantâneo. O almoço e o jantar são selecionados entre 14 diferentes cardápios. A entrada pode ser um patê de salmão ou uma sopa de legumes. O prato principal pode ser salmão com arroz e legumes, paelha, tajine de frango (um prato marroquino) ou cozido de carneiro.
O porta-voz do Ministério de Defesa da França é um oficial do Exército e comeu muitas dessas refeições quando serviu na Bósnia. "São de fato pratos deliciosos, e colegas de outros países tinham muita inveja."
Em contraste, o Programa de Alimentação da Defesa do Pentágono, em Massachussets, inventou o que chama de "sanduíche indestrutível", espécie de enroladinho de frango que pode ser armazenado por três anos em temperatura ambiente e lançado por helicópteros.
Há um livro esperando autor quanto às rações de combate. Você sabia que as hordas mongóis recebiam canudos afiados para sugar o sangue de seus cavalos em caso de escassez de comida? Ou que as batatas fritas foram desenvolvidas pela Grande Armée de Napoleão como forma rápida de alimentar soldados em campanha?
O Pentágono alega ter progredido quanto à qualidade de suas MRE desde a Guerra do Golfo (1991), quando a refeição consistia de salsichas defumadas conhecidas pelos soldados como "os quatro dedos da morte".
Gerard Dasch, diretor do Programa de Alimentação da Defesa, disse à revista "Fortune" que fora forçado a melhorar os cardápios devido a cartas insultuosas recebidas de soldados.
As MREs norte-americanas agora têm 24 opções de cardápio e incluem fetuccine Alfredo, galinha à tailandesa e frutos do mar. Os correspondentes norte-americanos em breve poderão provar por si mesmos. E Paris está desperdiçando a oportunidade de reaquecer as atitudes dos jornalistas dos EUA quanto a tudo o que vem da França.


Tradução de Paulo Migliacci


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