São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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Líder russo faz crítica ao legado de Stálin, mas permanece ambíguo

DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O legado da URSS, particularmente o do ditador Josef Stálin, continua a tirar a paz do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e até o obrigou a tecer críticas ao líder -algo raro- às vésperas das comemorações do Dia da Vitória na Grande Guerra Patriótica, modo como os russos chamam o conflito contra a Alemanha nazista.
As festividades de ontem foram marcadas pela ausência dos líderes da Estônia e da Lituânia, países bálticos que exigem que Putin peça desculpas pela ocupação soviética após o término da Segunda Guerra. Essa ocupação durou até o fim da URSS, em 1991.
O presidente russo, que foi agente da KGB (a polícia secreta da URSS), se recusa a fazê-lo e afirma que, em 1989, o Soviete Supremo reconheceu as ações soviéticas contra os Estados bálticos, incluindo a Letônia.
No último sábado, o presidente dos EUA, George W. Bush, classificou o comunismo soviético e seu domínio sobre o Leste Europeu de um dos "maiores erros da história". Já o presidente da Comissão Européia ressaltou, na semana passada, que a queda do Muro de Berlim (1989), não a derrota nazista, marcou o "fim da ditadura" na Europa.
Talvez buscando aliviar a tensão em torno do tema antes da festa de ontem, o próprio Putin criticou Stálin na última quinta-feira. "Nosso país, nosso povo e nossa sociedade eram viáveis em 1941, apesar de todas tentativas do regime da época de destruir essa viabilidade por meio da repressão", declarou o presidente.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, contudo, as mensagens de Putin sobre o império soviético e Stálin são ambíguas. "Num dia, ele permite que uma estátua do ditador seja erigida em Volgogrado, que se chamava Stalingrado no período comunista. No outro, ele o ataca. Nem os russos nem os estrangeiros sabem como ele pensa a esse respeito", avaliou Yevguenia Albats, professora da Escola Superior de Economia e de Ciência Política de Moscou e jornalista independente.
Além da estátua de Volgogrado, outra está sendo construída numa pequena cidade siberiana. Ademais, em seu Discurso sobre o Estado da União, há duas semanas, Putin disse que o fim da URSS foi "a maior catástrofe do século 20". Os expurgos de Stálin causaram a morte de milhões de soviéticos antes e depois da guerra.
"Putin sente saudades do tempo em que a URSS era um império e a Rússia era sua república mais forte. Por outro lado, ele se esforça para fazer parte do clube europeu e acaba sendo obrigado a criticar Stálin porque ele é muito malvisto na Europa e nos EUA", apontou Lilia Shevtsova, autora de "Russia's Putin" (a Rússia de Putin).
Não faltaram referências ao poder soviético durante as comemorações do Dia da Vitória, incluindo a foice e o martelo que adornavam a bandeira da URSS. Todavia a imagem de Stálin esteve pouco presente.
Ontem, algumas centenas de manifestantes, comandados por Guenady Zyuganov, líder dos comunistas russos, fizeram protesto perto do centro da cidade. Entre os manifestantes havia vários veteranos da Segunda Guerra que não foram convidados a participar das comemorações oficiais.


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