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Líder russo faz crítica ao legado de Stálin, mas permanece ambíguo
DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
O legado da URSS, particularmente o do ditador Josef Stálin,
continua a tirar a paz do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e até
o obrigou a tecer críticas ao líder
-algo raro- às vésperas das comemorações do Dia da Vitória na
Grande Guerra Patriótica, modo
como os russos chamam o conflito contra a Alemanha nazista.
As festividades de ontem foram
marcadas pela ausência dos líderes da Estônia e da Lituânia, países bálticos que exigem que Putin
peça desculpas pela ocupação soviética após o término da Segunda
Guerra. Essa ocupação durou até
o fim da URSS, em 1991.
O presidente russo, que foi
agente da KGB (a polícia secreta
da URSS), se recusa a fazê-lo e
afirma que, em 1989, o Soviete Supremo reconheceu as ações soviéticas contra os Estados bálticos,
incluindo a Letônia.
No último sábado, o presidente
dos EUA, George W. Bush, classificou o comunismo soviético e
seu domínio sobre o Leste Europeu de um dos "maiores erros da
história". Já o presidente da Comissão Européia ressaltou, na semana passada, que a queda do
Muro de Berlim (1989), não a derrota nazista, marcou o "fim da ditadura" na Europa.
Talvez buscando aliviar a tensão
em torno do tema antes da festa
de ontem, o próprio Putin criticou Stálin na última quinta-feira.
"Nosso país, nosso povo e nossa
sociedade eram viáveis em 1941,
apesar de todas tentativas do regime da época de destruir essa viabilidade por meio da repressão",
declarou o presidente.
Segundo analistas ouvidos pela
Folha, contudo, as mensagens de
Putin sobre o império soviético e
Stálin são ambíguas. "Num dia,
ele permite que uma estátua do
ditador seja erigida em Volgogrado, que se chamava Stalingrado
no período comunista. No outro,
ele o ataca. Nem os russos nem os
estrangeiros sabem como ele pensa a esse respeito", avaliou Yevguenia Albats, professora da Escola Superior de Economia e de
Ciência Política de Moscou e jornalista independente.
Além da estátua de Volgogrado,
outra está sendo construída numa
pequena cidade siberiana. Ademais, em seu Discurso sobre o Estado da União, há duas semanas,
Putin disse que o fim da URSS foi
"a maior catástrofe do século 20".
Os expurgos de Stálin causaram a
morte de milhões de soviéticos
antes e depois da guerra.
"Putin sente saudades do tempo
em que a URSS era um império e
a Rússia era sua república mais
forte. Por outro lado, ele se esforça
para fazer parte do clube europeu
e acaba sendo obrigado a criticar
Stálin porque ele é muito malvisto
na Europa e nos EUA", apontou
Lilia Shevtsova, autora de "Russia's Putin" (a Rússia de Putin).
Não faltaram referências ao poder soviético durante as comemorações do Dia da Vitória, incluindo a foice e o martelo que adornavam a bandeira da URSS. Todavia
a imagem de Stálin esteve pouco
presente.
Ontem, algumas centenas de
manifestantes, comandados por
Guenady Zyuganov, líder dos comunistas russos, fizeram protesto
perto do centro da cidade. Entre
os manifestantes havia vários veteranos da Segunda Guerra que
não foram convidados a participar das comemorações oficiais.
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