São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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JUSTIÇA

Posada Carriles, que trabalhou para os americanos contra comunistas, é acusado por Fidel de terrorismo e pede asilo aos EUA

Caso de terrorista cubano constrange EUA

DO "NEW YORK TIMES"

Um pedido de asilo político pode pôr à prova a definição da palavra terrorismo da forma como ela é usada hoje pelo governo americano e causar constrangimento à atual administração.
O cubano Luis Posada Carriles, 77, um "ex-soldado anti-Fidel" que trabalhou durante vários anos para a CIA, o serviço secreto americano, foi para os EUA e decidiu pedir asilo político ao governo Bush.
Durante a Guerra Fria, Posada foi um dos mais ativos colaboradores de Washington. Era mais um "soldado" recrutado pelos EUA que lutava contra o comunismo no mundo.
Ele é acusado de ter sido o responsável pela explosão de um avião comercial cubano, em 1976, que causou a morte de 73 pessoas; de ter colocado bombas em zonas turísticas de Havana e assassinado um turista italiano, em 1997, e até de ter participado de um atentado contra o próprio ditador Fidel Castro, no Panamá, em 2000, durante uma reunião de cúpula ibero-americana.
Segundo seu advogado, Eduardo Soto, ele tem direito ao asilo "por ter servido como um "ex-soldado da Guerra Fria" que estava na folha de pagamento da CIA durante os anos 60".
No entanto o porta-voz do Departamento de Estado americano, Tom Casey, disse ontem que governo não tem conhecimento do paradeiro de Posada e acrescentou: "Os EUA não têm nenhum interesse em permitir que pessoas com passado criminoso entrem no nosso país".
O governo nega um assunto que é particularmente incômodo para a atual administração, já que o conceito de terrorismo hoje é bem diferente do que era durante a Guerra Fria (1946-89).
O episódio pode ficar ainda mais embaraçoso para os EUA, já que a Venezuela decidiu pedir a extradição de Posada por causa do atentado contra o avião cubano, em 1976. A Suprema Corte venezuelana determinou, na semana passada, que ele "é autor ou cúmplice de homicídio e deve ser extraditado e julgado na Venezuela".
Os EUA negaram também que tenham recebido qualquer pedido de extradição.
Se Posada entrou ilegalmente nos EUA -como alega seu advogado- e se a Venezuela fizer um pedido de extradição- como afirma a Suprema Corte do país-, o governo Bush terá de enfrentar uma das três opções: conceder-lhe asilo político; prendê-lo por entrada ilegal no país ou extraditá-lo para a Venezuela.
Conceder asilo político significaria danificar um dos principais pilares que sustentam a política da atual administração, já que Bush disse repetidas vezes que "nenhuma nação deve abrigar suspeitos de terrorismo".
Prendê-lo fortaleceria a posição de Fidel Castro, que chegou a classificar Posada como "o mais perigoso terrorista do Ocidente".
Durante um discurso em Havana, Fidel desafiou Bush a dizer publicamente "o que fará com o "monstro assassino" que está na Flórida". Ele também pediu à União Européia que "diga o que pensa do fato de os Estados Unidos abrigarem um conhecido terrorista em seu território".
Finalmente, extraditá-lo seria conceder uma vitória política ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, desafeto de Washington e principal aliado de Fidel Castro na América Latina.
Um caso semelhante ao de Posada indica o que pode acontecer nos próximos meses. Em 1989, Orlando Bosh, o mais conhecido e violento dissidente cubano, recebeu a informação de que seria extraditado do país pelo Departamento de Justiça. "Os EUA não podem tolerar o uso do terrorismo como forma de solucionar conflitos", afirmava um comunicado na época.
A governo do republicano George Bush pai cancelou a extradição, e Orlando continua vivendo na Flórida até hoje sem ser importunado.
Além disso, outro fator que pode pesar na decisão é a questão do tempo: Luis Posada tem câncer e, segundo alguns amigos, não deve sobreviver por muito tempo.


Com agências internacionais

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