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JUSTIÇA
Posada Carriles, que trabalhou para os americanos contra comunistas, é acusado por Fidel de terrorismo e pede asilo aos EUA
Caso de terrorista cubano constrange EUA
DO "NEW YORK TIMES"
Um pedido de asilo político pode pôr à prova a definição da palavra terrorismo da forma como ela
é usada hoje pelo governo americano e causar constrangimento à
atual administração.
O cubano Luis Posada Carriles,
77, um "ex-soldado anti-Fidel"
que trabalhou durante vários
anos para a CIA, o serviço secreto
americano, foi para os EUA e decidiu pedir asilo político ao governo Bush.
Durante a Guerra Fria, Posada
foi um dos mais ativos colaboradores de Washington. Era mais
um "soldado" recrutado pelos
EUA que lutava contra o comunismo no mundo.
Ele é acusado de ter sido o responsável pela explosão de um
avião comercial cubano, em 1976,
que causou a morte de 73 pessoas;
de ter colocado bombas em zonas
turísticas de Havana e assassinado um turista italiano, em 1997, e
até de ter participado de um atentado contra o próprio ditador Fidel Castro, no Panamá, em 2000,
durante uma reunião de cúpula
ibero-americana.
Segundo seu advogado, Eduardo Soto, ele tem direito ao asilo
"por ter servido como um "ex-soldado da Guerra Fria" que estava
na folha de pagamento da CIA
durante os anos 60".
No entanto o porta-voz do Departamento de Estado americano,
Tom Casey, disse ontem que governo não tem conhecimento do
paradeiro de Posada e acrescentou: "Os EUA não têm nenhum
interesse em permitir que pessoas
com passado criminoso entrem
no nosso país".
O governo nega um assunto que
é particularmente incômodo para
a atual administração, já que o
conceito de terrorismo hoje é bem
diferente do que era durante a
Guerra Fria (1946-89).
O episódio pode ficar ainda
mais embaraçoso para os EUA, já
que a Venezuela decidiu pedir a
extradição de Posada por causa
do atentado contra o avião cubano, em 1976. A Suprema Corte venezuelana determinou, na semana passada, que ele "é autor ou
cúmplice de homicídio e deve ser
extraditado e julgado na Venezuela".
Os EUA negaram também que
tenham recebido qualquer pedido de extradição.
Se Posada entrou ilegalmente
nos EUA -como alega seu advogado- e se a Venezuela fizer um
pedido de extradição- como
afirma a Suprema Corte do
país-, o governo Bush terá de
enfrentar uma das três opções:
conceder-lhe asilo político; prendê-lo por entrada ilegal no país ou
extraditá-lo para a Venezuela.
Conceder asilo político significaria danificar um dos principais
pilares que sustentam a política
da atual administração, já que
Bush disse repetidas vezes que
"nenhuma nação deve abrigar
suspeitos de terrorismo".
Prendê-lo fortaleceria a posição
de Fidel Castro, que chegou a classificar Posada como "o mais perigoso terrorista do Ocidente".
Durante um discurso em Havana, Fidel desafiou Bush a dizer publicamente "o que fará com o
"monstro assassino" que está na
Flórida". Ele também pediu à
União Européia que "diga o que
pensa do fato de os Estados Unidos abrigarem um conhecido terrorista em seu território".
Finalmente, extraditá-lo seria
conceder uma vitória política ao
presidente venezuelano, Hugo
Chávez, desafeto de Washington
e principal aliado de Fidel Castro
na América Latina.
Um caso semelhante ao de Posada indica o que pode acontecer
nos próximos meses. Em 1989,
Orlando Bosh, o mais conhecido e
violento dissidente cubano, recebeu a informação de que seria extraditado do país pelo Departamento de Justiça. "Os EUA não
podem tolerar o uso do terrorismo como forma de solucionar
conflitos", afirmava um comunicado na época.
A governo do republicano
George Bush pai cancelou a extradição, e Orlando continua vivendo na Flórida até hoje sem ser importunado.
Além disso, outro fator que pode pesar na decisão é a questão do
tempo: Luis Posada tem câncer e,
segundo alguns amigos, não deve
sobreviver por muito tempo.
Com agências internacionais
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