São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

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Presidente eleito não nega gosto por dinheiro

RAPHAÓLLE BACQUÉ
DO "MONDE"

Nicolas Sarkozy sempre teve uma relação sem complexos com o dinheiro. Advogado de grandes empresas e posteriormente prefeito de Neuilly-sur-Seine, uma das cidades mais ricas da França, nas cercanias de Paris, ele não demorou a adotar um estilo de vida sofisticado. Alguns de seus amigos controlam as maiores fortunas da França, e ele freqüentemente passa finais de semana com eles, entre eles, em suas casas luxuosas ou iates soberbos: no sul da França, ele costuma se hospedar com Jean Reno, que registrou a segunda maior renda entre os atores do cinema francês em 2006; em Porquerolles, ele passa seu tempo com Bernard Arnault, imperador dos produtos de luxo; na Itália, se hospeda com o mecenas François Pinault; e navega ao largo da Córsega com Martin Bouyguez, do setor de construção.
Sem vergonha de causar choque, foi durante um final de semana luxuoso em Veneza, no começo de abril do ano passado, que Sarkozy, então ministro do Interior, telefonou para líderes sindicais para garantir sua oposição pessoal à lei sobre contratos de primeiro emprego que o governo estava tentando implementar. O contraste entre seu final de semana confortável e a tensão que a França vivia está sempre presente. Enquanto muitos líderes políticos mascaram discretamente seu estilo de vida, Sarkozy não acha que seja preciso ocultar nada. Hotéis de luxo, roupas de marca, empregados domésticos -ele exige sempre conforto e eficácia em tudo que o cerca. Durante a campanha, parte considerável do orçamento de seu partido, UMP, foi gasto na locação de jatos executivos para que pudesse dormir sempre em casa.
Nos momentos de dúvida sobre sua carreira, Sarkozy muitas vezes disse aos jornalistas que "caso eu fracasse, retornarei ao setor privado. Sinto vontade de ganhar dinheiro". Ele comparou muitas vezes o estilo de vida de um ministro francês ao dos executivos de grandes empresas, indignado com a idéia de que um primeiro-ministro ou ministro do Interior, "encarregado da segurança de todo um país", ganhe muito menos que um presidente de empresa.
Sua filosofia sempre foi enunciada com clareza: "Se um líder político é eficaz, não vejo porque ele deveria viver modestamente". Quando seu amigo Patrick Balkany, prefeito de Levallois-Perret, cidade próxima a Neuilly, estava sendo investigado pela Justiça, Sarkozy perguntou: "Ele não enriqueceu a cidade? Os moradores estão se queixando? Então melhor deixar para lá".
Mas ele também protestou contra o fato de que Jacques Chirac tenha morado a vida inteira em palácios nacionais. Contrariando essa concepção tradicional do estilo de vida dos políticos franceses, Sarkozy propõe uma visão mais à americana, sem falsa modéstia quanto a ostentar seu patrimônio e seus amigos milionários. "Os franceses sabem que ele não vive como eles", disse um de seus assessores. A polêmica sobre as condições de compra e reforma de seu apartamento em Neuilly permitiram vislumbrar seu estilo de vida. A declaração de renda de Sarkozy mostra receita líquida de 124.960 em 2004.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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