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Presidente eleito não nega gosto por dinheiro
RAPHAÓLLE BACQUÉ
DO "MONDE"
Nicolas Sarkozy sempre
teve uma relação sem complexos com o dinheiro. Advogado de grandes empresas e
posteriormente prefeito de
Neuilly-sur-Seine, uma das
cidades mais ricas da França,
nas cercanias de Paris, ele
não demorou a adotar um estilo de vida sofisticado.
Alguns de seus amigos
controlam as maiores fortunas da França, e ele freqüentemente passa finais de semana com eles, entre eles,
em suas casas luxuosas ou iates soberbos: no sul da França, ele costuma se hospedar
com Jean Reno, que registrou a segunda maior renda
entre os atores do cinema
francês em 2006; em Porquerolles, ele passa seu tempo com Bernard Arnault, imperador dos produtos de luxo; na Itália, se hospeda com
o mecenas François Pinault;
e navega ao largo da Córsega
com Martin Bouyguez, do setor de construção.
Sem vergonha de causar
choque, foi durante um final
de semana luxuoso em Veneza, no começo de abril do ano
passado, que Sarkozy, então
ministro do Interior, telefonou para líderes sindicais para garantir sua oposição pessoal à lei sobre contratos de
primeiro emprego que o governo estava tentando implementar. O contraste entre
seu final de semana confortável e a tensão que a França
vivia está sempre presente.
Enquanto muitos líderes políticos mascaram discretamente seu estilo de vida, Sarkozy não acha que seja preciso ocultar nada. Hotéis de luxo, roupas de marca, empregados domésticos -ele exige
sempre conforto e eficácia
em tudo que o cerca. Durante a campanha, parte considerável do orçamento de seu
partido, UMP, foi gasto na locação de jatos executivos para que pudesse dormir sempre em casa.
Nos momentos de dúvida
sobre sua carreira, Sarkozy
muitas vezes disse aos jornalistas que "caso eu fracasse,
retornarei ao setor privado.
Sinto vontade de ganhar dinheiro". Ele comparou muitas vezes o estilo de vida de
um ministro francês ao dos
executivos de grandes empresas, indignado com a
idéia de que um primeiro-ministro ou ministro do Interior, "encarregado da segurança de todo um país", ganhe muito menos que um
presidente de empresa.
Sua filosofia sempre foi
enunciada com clareza: "Se
um líder político é eficaz, não
vejo porque ele deveria viver
modestamente". Quando seu
amigo Patrick Balkany, prefeito de Levallois-Perret, cidade próxima a Neuilly, estava sendo investigado pela
Justiça, Sarkozy perguntou:
"Ele não enriqueceu a cidade? Os moradores estão se
queixando? Então melhor
deixar para lá".
Mas ele também protestou
contra o fato de que Jacques
Chirac tenha morado a vida
inteira em palácios nacionais. Contrariando essa concepção tradicional do estilo
de vida dos políticos franceses, Sarkozy propõe uma visão mais à americana, sem
falsa modéstia quanto a ostentar seu patrimônio e seus
amigos milionários. "Os
franceses sabem que ele não
vive como eles", disse um de
seus assessores. A polêmica
sobre as condições de compra e reforma de seu apartamento em Neuilly permitiram vislumbrar seu estilo de
vida. A declaração de renda
de Sarkozy mostra receita líquida de 124.960 em 2004.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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