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COMENTÁRIO
A guerra civil palestina já começou
WILLIAM SAFIRE
DO "NEW YORK TIMES"
"Não vamos permitir que ninguém nos arraste para uma guerra civil", declarou o premiê palestino, Abu Mazen.
Sua oposição desleal -o Hamas, o Jihad Islâmico e as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa- enviou uma mensagem diferente a
Mazen e a outros líderes árabes
que tinham acabado de ver o presidente George W.Bush.
Numa ação conjunta, os três
grupos terroristas enviaram três
suicidas a um posto do Exército
em Gaza. Mataram quatro soldados antes de serem mortos. Em
seguida, a frente terrorista divulgou um vídeo mostrando os matadores com rifles e um Alcorão e informou: "O sangue dos palestinos diz que estamos unidos na
trincheira da resistência".
Poderia a guerra civil palestina
ter sido declarada de maneira mais dramática?
De um lado temos Mazen, devidamente eleito pelo Legislativo
palestino, objeto de injúrias por parte da frente terrorista porque
ele acredita que continuar a guerra contra Israel só causará mais
sofrimento aos palestinos.
De outro, a frente fundamentalista que tem como missão declarada expulsar os odiados judeus do Oriente Médio. Unidos como
nunca, estão decididos a derrubar
Mazen e qualquer "moderado"
capaz de negociar um acordo.
Jogando dos dois lados, como
sempre, está Arafat, ajudando a
frente a solapar Mazen antes que
ele consiga formar uma base de
apoio local que possa pôr fim à
guerra. Na cúpula recente, Arafat
tentou fazer Mazen soar como
fantoche de Israel e dos EUA,
mandando um assessor dar a entender que a pressão americana
tinha excluído do discurso do palestino um ""direito ao retorno"
dos refugiados a Israel.
Assim, de um lado temos a frente do terror, apoiada por Arafat,
abertamente travando uma guerra civil para assumir o controle da
causa palestina, enquanto o outro
lado -a Autoridade Palestina, desde pouco tempo encabeçada
por Mazen- protesta, dizendo que não deixará ninguém "nos arrastar para uma guerra civil". O primeiro lado está vencendo.
Mas como pode haver uma guerra civil se palestinos não estão matando palestinos? É simples: a frente rebelde mata israelenses, forçando o premiê Ariel
Sharon a ordenar a retaliação contra os terroristas. E o resultado
são mortos palestinos, tanto terroristas quanto vítimas inocentes.
Os rebeldes sabem que nenhum
governo que está sendo alvo de
ataques terroristas contínuos pode ficar imóvel. Israel será obrigado a continuar reagindo até que a
nova liderança palestina consiga
controlar os assassinos dentro de
sua própria população.
No passado, o argumento principal usado para justificar a inação era o de que a força policial palestina -bem equipada e de
dimensões razoáveis, conhecedora dos esconderijos e da logística
dos rebeldes- estaria desmoralizada, enfraquecida pelos contra-ataques israelenses e impotente para agir contra os fanáticos.
Pode ser. Concedendo a Mazen o benefício da dúvida, Sharon instruiu seu ministro da Defesa, Shaul Mofaz, a traçar um arranjo
com Muhammad Dahlan, o chefe
de segurança de Abu Mazen.
A idéia é que Dahlan escolha
uma área para afirmar o controle
da Autoridade Palestina. As forças israelenses se retirarão dessa
área. Quando um esforço de 100%
para impedir o terrorismo for demonstrado na área, o esquema se
estenderá para a cidade ou o povoado mais perto, até que os bairros e regiões dominados pelos rebeldes se encolham e a Autoridade Palestina conquiste o controle interno -um pré-requisito à formação de um Estado.
Será que Sharon vai reagir positivamente à redução do terror? É
claro que sim. Ele possui o respaldo nacional necessário para poder fazer concessões que não prejudiquem a segurança.
Mazen pode encontrar uma base de apoio semelhante para derrotar a frente terrorista? Ou será que se contentará com um simples "cessar-fogo" que nada significa, permitindo que o terror se rearme e prolongue a agonia palestina? Ele pode obter apoio financeiro dos sauditas e ajuda na segurança dos egípcios -isso
porque o presidente Bush, depois de derrotar Saddam Hussein, escolheu o momento certo para sua intervenção, digna de crédito.
Mas não existe nenhuma imposição externa capaz de levar a paz
duradoura ao Oriente Médio. Ela se dará quando os palestinos celebrarem sua vitória contra uma minoria terrorista que os arrastou para a guerra civil.
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