São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 2002

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LOS ANGELES

FBI e Procuradoria abrem investigação sobre incidente, que ocorreu no sábado e foi registrado em vídeo

Policial espanca jovem negro e é suspenso

DA REDAÇÃO

Um policial foi suspenso anteontem na Califórnia após a divulgação de uma fita de vídeo em que aparece batendo em um adolescente negro algemado. O incidente foi comparado ao espancamento de Rodney King, em 1991, e está sendo investigado pelo FBI e pela Procuradoria de Los Angeles.
O incidente ocorreu no sábado em um posto de gasolina em Inglewood, um subúrbio de Los Angeles, depois que a polícia tentou interrogar Donovan Jackson, 16, e seu pai, Coby Chavis Jr., 41.
A gravação foi feita por Mitchell Crooks, 27, um DJ hospedado em um motel em frente ao posto.
O vídeo mostra um policial branco carregando um adolescente negro algemado e jogando-o de cara sobre um carro de polícia. O policial dá um soco no rosto de Jackson enquanto outros policiais se aproximam. Eles parecem tentar segurar o braço do policial.
"[O vídeo" é extremamente perturbador para a polícia de Inglewood, assim como para os administradores da cidade", disse a porta-voz da polícia de Inglewood, Eve Irvine. "O incidente está sendo levado a sério."
O FBI, o Departamento de Polícia de Inglewood e a Procuradoria de Los Angeles disseram que estavam investigando o incidente. Irvine afirmou que o policial que é visto batendo em Jackson no vídeo, Jeremy Morse, foi suspenso.
O prefeito de Inglewood, Roosevelt Dorn, disse que Morse deveria ser indiciado por quatro crimes -agressão, agressão com uma arma mortal, espancamento e abuso de crianças.
Segundo o escritório do xerife do condado de Los Angeles, policiais perceberam que o carro de Chavis tinha uma placa expirada e entraram no posto atrás dele. Enquanto Jackson entrava na loja de conveniência do posto, eles foram conversar com Chavis.
Jackson teria voltado e começado a discutir com os policiais, que tentaram acalmá-lo. O adolescente teria tentado atacar um deles, e quatro policiais de Inglewood se aproximaram, Morse entre eles, para tentar algemá-lo.
Mas, segundo Chavis, os policiais se aproximaram de seu filho sem nenhum motivo e começaram a dar tapas em sua cara. Um deles o jogou no chão, ajoelhou em suas costas, deu um soco em seu olho e arrancou a corrente de prata que Jackson usava.
Uma testemunha, Andres Mejia, 24, afirmou ter visto o policial ajoelhar sobre as costas do garoto e dar um soco em seu olho. Segundo ele, Jackson não havia oferecido nenhuma resistência.
Segundo Irvine, Morse sofreu cortes na cabeça, orelha e cotovelo ao tentar segurar Jackson. Na fita, é possível ver Morse sangrando, com um corte sobre a orelha.
Ativistas negros imediatamente compararam o incidente ao espancamento de King, que é negro, por policiais brancos em 1991, que foi também gravado em vídeo.
Quando quatro policiais foram absolvidos de acusações pelo espancamento de King, um motim irrompeu em Los Angeles, em 1992, durando três dias e deixando mais de 50 pessoas mortas e bilhões de dólares em prejuízos.
Os policiais voltaram a ser julgados, em um tribunal federal, e Laurence Powell e Stacey Koon foram sentenciados à prisão por violar os direitos civis de King.
"Esse é um novo espancamento de Rodney King", disse Najee Ali, diretor do Projeto Esperança Islâmica, que afirmou representar vários outros grupos. "Esse jovem foi algemado e espancado. Os policiais devem ser indiciados e demitidos, não apenas suspensos."
O adolescente apareceu na TV anteontem com um olho roxo e hematomas no pescoço.
O advogado da família, Joe Hopkins, afirmou que um dos policiais chamou Jackson de "nigger" (forma pejorativa de chamar negros nos EUA) durante a briga.
"Pretendemos buscar a justiça nos tribunais", disse Hopkins.
Ele afirmou que Jackson é portador de deficiência mental e que a conduta agressiva descrita pelos policiais não corresponde à sua personalidade pacífica.
Outro homem, Neilson Williams, 32, registrou queixa contra Morse há duas semanas, após ter sido supostamente espancado sem motivo até entrar em coma pelo policial e seis colegas.


Com agências internacionais


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