São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

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ÁSIA

Críticos dizem que objetivo é fomentar nacionalismo

Professor japonês que se negar a cantar o hino na escola será punido

DAVID PILLING
DO "FINANCIAL TIMES"

Hiroko Arai, 59, é uma bem educada professora de inglês que se veste de forma conservadora para dar aulas no colégio Komatsugawa, no leste de Tóquio. Ela ensina crianças comportadas que estudam com afinco para passar nos exames e que nunca apresentam as atitudes rebeldes que estariam tomando conta do sistema educacional japonês.
Agora, Arai sente que não tem outra opção a não ser ensinar um pouco de rebeldia aos alunos.
O problema que estimulou Arai a agir também tem irritado muitos outros professores. Este ano, a nova direção do órgão responsável pelas escolas de Tóquio determinou que os professores se postem diante da bandeira com o sol nascente e cantem o Kimigayo (hino nacional japonês) em eventos escolares. Além disso, a direção escolar quer que pelo menos um membro do corpo docente aprenda a tocar o hino no piano.
Em julho, mais de 200 professores sofreram reprimendas por se recusar a obedecer a medida. Alguns foram despedidos e outros receberam multas. Ontem, dezenas de professores, inclusive Arai, foram obrigados a participar de um seminário a portas fechadas no qual eles foram advertidos por falhar em obedecer ordens dadas a funcionários públicos.

Passado
"Durante a segunda guerra, a bandeira Hinomaru [a nacional do Japão] e o Kimigayo se tornaram símbolos do que fizemos [atrocidades em outros países da Ásia]. Não posso demonstrar respeito a esses símbolos. Porém, para piorar, eu posso ser punida se não os respeitar", afirmou Arai.
A rebelião dos professores -composta por uma maioria silenciosa, segundo eles- se choca com o que muitos acreditam ser uma nova maré de crescimento do nacionalismo no Japão. Em 1999, o Parlamento tornou oficiais tanto a bandeira Hinomaru quanto o hino Kimigayo, que por muitos anos raramente foram expostos publicamente por causa da associação com a agressão japonesa durante a Segunda Guerra e a sua subseqüente derrota.
Desde que Junichiro Koizumi se tornou premiê em 2001, o Japão tem debatido abertamente emendas para sua Constituição pacifista do pós-guerra, que proíbe o país de usar a força em disputas internacionais. O objetivo de voltar a ser um país "normal" está evidente nas participações do Japão em operações militares internacionais de manutenção da paz, como por exemplo no envio de 550 soldados para o Iraque.
Alguns professores consideram a via tomada pelo Japão, com a retomada de símbolos imperiais, parte de um movimento de lavagem cerebral da nova geração que tem um conhecimento pequeno do passado do país.
Já os defensores afirmam que a retomada dos símbolos é um ato de libertação dos colonizadores europeus e que a punição dos professores serve para mostrar que o serviço público precisa ser respeitado.


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