do enviado especial a Moscou

O Partido Comunista da Rússia divulgou ontem um documento se dizendo "pronto" para assumir o poder. A declaração corresponde a uma forma de pressionar o presidente Boris Ieltsin, que continuou confinado em sua casa de campo em reunião com assessores.
A crise política russa se arrasta desde o último dia 23 de agosto, quando Ieltsin demitiu o premiê Serguei Kirienko, 36, um defensor de reformas aceleradas pró-capitalismo, e trouxe de volta Viktor Tchernomirdin, 60, um reformista moderado. A indicação precisa ser sacramentada pela Duma (câmara baixa do Parlamento), que já rejeitou o candidato em duas votações.
O Kremlin pode submeter Tchernomirdin a uma terceira votação. A derrota, no entanto, é certa, pois a Duma, dominada pela oposição neocomunista, o acusa de co-responsável pela crise. Se Tchernomirdin for rejeitado pela terceira vez, Ieltsin tem o poder de dissolver a Duma e convocar novas eleições parlamentares.
Mas Ieltsin não quer correr esse risco. Ele sabe que poderia enfrentar uma nova Duma ainda mais hostil, pois a oposição se fortaleceu no quadro de crise econômica.
Ieltsin se reuniu ontem com Tchernomirdin e Yevgueni Primakov, chanceler interino. Ex-espião da KGB (serviço secreto da extinta URSS), Primakov desponta como um dos possíveis substitutos de Tchernomirdin.
Primakov conta com a simpatia da oposição liberal e dos neocomunistas. Estes, no entanto, já anunciaram preferir Iuri Lujkov, prefeito de Moscou e reformista moderado. Outro nome cotado no caso de Ieltsin optar por uma nova candidatura é Iuri Masliukov, um neocomunista que já foi Ministro da Indústria.
O PC sabe ter escassas chances de chegar agora sozinho ao poder, e o documento de ontem busca pressionar Ieltsin a levar os neocomunistas em consideração na hora de decidir sua alternativa para solucionar a crise. (JS)



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