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ESTRATÉGIA
Com a supremacia aérea, resta saber se e como EUA e Reino Unido vão usar seus homens
Cálculo aliado agora é sobre o uso das forças terrestres
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
As Forças Armadas dos EUA já
dizem ter obtido "supremacia aérea" sobre o Afeganistão, isto é,
uma praticamente total capacidade de movimento sobre os céus
do país sem graves riscos. Com isso estão criadas as condições para
o uso de tropas terrestres anglo-americanas. Resta saber a forma
que essa intervenção deverá tomar.
Não existe guerra pela metade.
Um país que tenta combater
usando um mínimo de recursos,
ou tentando minimizar baixas,
geralmente perde a guerra.
Se a guerra for de fato "longa e
suja", nas palavras dos governantes americanos, fatalmente terão
de ser usadas tropas terrestres
próprias -e não fazer a "guerra
por procuração" por meio dos
soldados da Aliança do Norte.
O termo "supremacia aérea" foi
usado pelo general Richard
Myers, chefe do Estado-Maior
Conjunto dos EUA. No jargão militar, "supremacia" vai um ponto
além da chamada "superioridade
aérea", na qual a dominação é
grande, mas não tão absoluta,
ainda havendo certa dose de risco
grave em certas condições.
O presidente George W. Bush
desconversou ontem quando perguntado sobre o uso de tropas,
uma reação óbvia e esperada.
Mas é impossível esconder a
movimentação de milhares de
pessoas. Tropas têm famílias e
treinam em quartéis definidos.
Já foram enviados para o Uzbequistão mil soldados da 10ª Divisão de Montanha, e espera-se para breve um reforço de mais mil.
Outra unidade que está se movimentando é a 101ª Divisão Aerotransportada.
Uma divisão é uma unidade militar com entre 10 mil e 15 mil homens -o número exato varia de
país para país e de acordo com o
tipo da divisão-, incluindo tanto
tropas de combate como de apoio
logístico.
A 10ª e a 101ª são unidades de infantaria do modelo "leve" -isto
é, não são equipadas com uma
grande quantidade de veículos,
como as unidades de infantaria
tradicionais, nem muito menos
possuem os famosos tanques M-1
Abrams de 60 toneladas que esmagaram -também no sentido
literal- os iraquianos em 1991.
História
A 10ª de Montanha lutou na Segunda Guerra Mundial nos montes Apeninos, no norte da Itália,
ao lado da Força Expedicionária
Brasileira, em 1945. Um dos integrantes da 10ª era o senador republicano Robert Dole.
A 10ª Divisão tinha então apenas 421 veículos de todos os tipos
(jipes e caminhões, principalmente), mas era equipada com
5.961 cavalos e mulas.
Não foi divulgado se a 10ª de hoje vai usar animais de carga; provavelmente não, pois o helicóptero, não existente na Segunda
Guerra, cumpre boa parte dessa
necessidade de transporte.
Mas, curiosamente, um dos
mais importantes suprimentos
que os americanos enviaram no
passado recente aos guerrilheiros
islâmicos foram mulas.
Centenas de mulas do Tennessee foram enviadas ao Paquistão e
dali para o Afeganistão em 1987.
Elas ainda hoje constituem o
principal meio de transporte no
terreno montanhoso da região,
inacessível a veículos de rodas.
Sem mulas, cavalos ou camelos
para transportar munição e alimento, o combate em montanhas
fica quase impossível, com sua
duração e intensidade limitada ao
que um ser humano consegue
carregar.
Sem helicópteros, só animais de
carga permitem transportar pelas
montanhas as metralhadoras e
morteiros mais pesados.
Mísseis
No outro extremo do equipamento dos afegãos estão os mísseis antiaéreos portáteis Stinger,
enviados também pelos americanos. Ele é um exemplo excelente
de um equipamento de alta tecnologia, mas robusto e simples o suficiente para ser usado por um
soldado com pouco treinamento.
Pesando 15,8 kg, é feito para ser
disparado apoiado no ombro.
Mas o operador não precisa ficar
se preocupando em ficar fazendo
pontaria. O míssil tem alcance de
5.000 metros.
Tiros de fuzis não faziam efeito
no helicóptero blindado Mi-24
-alguns poucos dos quais ainda
restaram no país, em uso tanto
pela milícia Taleban -que se presume agora destruídos- como
pela rival Aliança do Norte.
O equivalente americano é o
AH-64 Apache, um helicóptero
também protegido contra tiros de
fuzis e capaz de lançar mísseis e
foguetes, além de ter um letal canhão de tiro rápido calibre 30
mm. O Apache chegou a ser enviado para Kosovo e foi usado no
Golfo Pérsico em 1991.
A dificuldade de transportar armas mais pesadas pelas montanhas faz com que o equipamento
das milícias seja basicamente
constituído de fuzis, lança-granadas, metralhadoras e morteiros.
A superioridade de aviação dos
soviéticos impedia que os guerrilheiros pudessem usar armas pesadas capturadas, como tanques e
canhões. Com a saída dos russos e
a desintegração do Exército do
Afeganistão, esse "espólio" passou a ser usado pelas milícias, que
passaram a lutar entre si de forma
mais convencional, com barragens de fogo de artilharia e foguetes e apoio de tanques.
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