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DIPLOMACIA
Ameaçado por extremistas islâmicos, premiê afirma que afegãos não serão abandonados
Blair fala aos afegãos e diz que evitará "erros do passado"
MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES
O primeiro-ministro britânico,
Tony Blair, voltou a liderar ontem
a guerra de propaganda em busca
de apoio à campanha militar no
Afeganistão. Em uma entrevista
dirigida à população afegã, ele
disse que o Ocidente não a abandonaria após ter cumprido seus
objetivos com os bombardeios
contra alvos do regime Taleban e
da rede terrorista de Osama Bin
Laden, a Al Qaeda.
Suas declarações foram dadas
ao serviço mundial da BBC que as
traduziria para o pashtu, idioma
de cerca de 40 % da população do
país.
No pronunciamento, o premiê
do Reino Unido, principal aliado
dos EUA na ofensiva, disse que os
países ocidentais fracassaram no
passado em ajudar os afegãos,
mas que, "desta vez, os erros não
serão repetidos".
"Este conflito não será o fim.
Quando ele terminar, teremos de
nos sentar com a população do
Afeganistão e tentar encontrar
um caminho estável e coerente
para o futuro", acrescentou.
Blair, um dos principais articuladores da aliança contra o terrorismo liderada pelos americanos,
tem tido um papel importante na
defesa dos princípios que levaram
ao atual conflito.
Ele ofereceu ontem uma entrevista exclusiva à TV Al Jazeera, do
Qatar, única emissora presente
em Cabul, capital do Afeganistão.
Após comandar a primeira reunião de seu gabinete de guerra, o
primeiro-ministro insinuou
apoio a uma solução democrática
para a população afegã numa
eventual era pós-Taleban.
Disse que o mundo externo não
pode impor sua vontade sobre a
população, mas que tem condições de "facilitar a expressão do
desejo do povo do Afeganistão sobre seu próprio futuro".
As autoridades britânicas e
americanas, buscando evitar protestos de países muçulmanos que
integram a coalizão antiterror,
afirmam estarem em guerra apenas contra o Taleban, não contra a
população do Afeganistão.
O Reino Unido é o único país
até agora a colocar suas tropas e
equipamentos em operação ao lado dos EUA nos três dias de bombardeios.
Na segunda noite de ataques,
porém, os britânicos não lançaram mísseis, apenas deram apoio
logístico.
O secretário da Defesa britânico, Geoff Hoon, viajou ontem a
Moscou, para discutir a possibilidade de cooperação militar da
Rússia. Indagado se vinha discutindo planos para uma ofensiva
terrestre contra o Taleban e os militantes islâmicos liderados por
Bin Laden, confirmou que essa é
uma opção.
Ameaça a Blair
Um grupo extremista islâmico
com sede no Reino Unido afirmou ontem que Tony Blair, ao
dar ordens para os ataques contra
o Taleban, passou a ser "um alvo
legítimo" para retaliações por
parte dos muçulmanos.
As declarações foram feitas por
um porta-voz do Al Muhajirum,
organização com sede em Londres conhecida por recrutar jovens islâmicos em universidades
do país para treinamento militar
em campos terroristas no sul do
Líbano e no Afeganistão.
"Os edifícios governamentais
daqui, incluindo o número 10 da
Downing Street (residência oficial
do premiê) se converterem em alvos legítimos", disse Abdul Rehman Saleem à agência de notícias
"France Presse". Porta-vozes do
governo se negaram a comentar
as ameaças.
Grupos radicais islâmicos do
Oriente Médio e do Paquistão
também vêm manifestando revolta com o ativo papel de Blair na
ofensiva armada.
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