São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2001

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DIPLOMACIA

Ameaçado por extremistas islâmicos, premiê afirma que afegãos não serão abandonados

Blair fala aos afegãos e diz que evitará "erros do passado"

MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, voltou a liderar ontem a guerra de propaganda em busca de apoio à campanha militar no Afeganistão. Em uma entrevista dirigida à população afegã, ele disse que o Ocidente não a abandonaria após ter cumprido seus objetivos com os bombardeios contra alvos do regime Taleban e da rede terrorista de Osama Bin Laden, a Al Qaeda.
Suas declarações foram dadas ao serviço mundial da BBC que as traduziria para o pashtu, idioma de cerca de 40 % da população do país.
No pronunciamento, o premiê do Reino Unido, principal aliado dos EUA na ofensiva, disse que os países ocidentais fracassaram no passado em ajudar os afegãos, mas que, "desta vez, os erros não serão repetidos".
"Este conflito não será o fim. Quando ele terminar, teremos de nos sentar com a população do Afeganistão e tentar encontrar um caminho estável e coerente para o futuro", acrescentou.
Blair, um dos principais articuladores da aliança contra o terrorismo liderada pelos americanos, tem tido um papel importante na defesa dos princípios que levaram ao atual conflito.
Ele ofereceu ontem uma entrevista exclusiva à TV Al Jazeera, do Qatar, única emissora presente em Cabul, capital do Afeganistão.
Após comandar a primeira reunião de seu gabinete de guerra, o primeiro-ministro insinuou apoio a uma solução democrática para a população afegã numa eventual era pós-Taleban.
Disse que o mundo externo não pode impor sua vontade sobre a população, mas que tem condições de "facilitar a expressão do desejo do povo do Afeganistão sobre seu próprio futuro".
As autoridades britânicas e americanas, buscando evitar protestos de países muçulmanos que integram a coalizão antiterror, afirmam estarem em guerra apenas contra o Taleban, não contra a população do Afeganistão.
O Reino Unido é o único país até agora a colocar suas tropas e equipamentos em operação ao lado dos EUA nos três dias de bombardeios.
Na segunda noite de ataques, porém, os britânicos não lançaram mísseis, apenas deram apoio logístico.
O secretário da Defesa britânico, Geoff Hoon, viajou ontem a Moscou, para discutir a possibilidade de cooperação militar da Rússia. Indagado se vinha discutindo planos para uma ofensiva terrestre contra o Taleban e os militantes islâmicos liderados por Bin Laden, confirmou que essa é uma opção.

Ameaça a Blair
Um grupo extremista islâmico com sede no Reino Unido afirmou ontem que Tony Blair, ao dar ordens para os ataques contra o Taleban, passou a ser "um alvo legítimo" para retaliações por parte dos muçulmanos.
As declarações foram feitas por um porta-voz do Al Muhajirum, organização com sede em Londres conhecida por recrutar jovens islâmicos em universidades do país para treinamento militar em campos terroristas no sul do Líbano e no Afeganistão.
"Os edifícios governamentais daqui, incluindo o número 10 da Downing Street (residência oficial do premiê) se converterem em alvos legítimos", disse Abdul Rehman Saleem à agência de notícias "France Presse". Porta-vozes do governo se negaram a comentar as ameaças.
Grupos radicais islâmicos do Oriente Médio e do Paquistão também vêm manifestando revolta com o ativo papel de Blair na ofensiva armada.


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