São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2001

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Franceses se dividem antes de ir ao front

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Antes de irem à guerra, os franceses lutam entre si. A provável participação militar da França nos ataques anglo-americanos está gerando conflitos na ordem política do país, o principal deles entre o presidente Jacques Chirac (centro-direita) e o primeiro-ministro Lionel Jospin (centro-esquerda).
Jospin precisou ir ontem à Assembléia Nacional para minimizar declarações de Chirac, acalmar os ânimos dos parlamentares de esquerda que fazem parte do seu governo e, ainda, reafirmar o seu papel na coordenação do engajamento militar francês.
No primeiro dia de bombardeios, domingo, Chirac declarou na TV que havia assegurado o apoio militar da França aos americanos e revelou que o país já teria colocado dois navios à disposição dos EUA.
O gabinete de Jospin foi surpreendido pelas declarações, consideradas imprudentes e precipitadas. A participação dos navios franceses era, até então, um segredo de Estado.
A rapidez com que o presidente fez uso político da situação também incomodou os socialistas.

Popularidade
Desde o início da crise, a popularidade de Chirac e Jospin têm aumentado, mas sobretudo a do primeiro -62% aprovam o presidente; o premiê tem 53%.
Chirac foi o primeiro líder ocidental a visitar os EUA depois dos atentados.
A direita tem frequentemente atacado a "discrição" de Jospin no processo atual. O presidente da Direita Liberal e Cristã (DLC), Charles Millon, chegou a dizer que "Tony Blair [premiê britânico" tem estado dez vez mais à altura da situação" que Jospin.
Tanto o premiê quanto Chirac são prováveis candidatos a presidente em 2002.
Ontem, o primeiro-ministro revelou na Assembléia que a participação francesa terá "forças aéreas e outras unidades de intervenção para ações pontuais". Não foi muito além. Jospin também excluiu a possibilidade de o Parlamento votar previamente o engajamento.

Engrenagem
É essa a principal reivindicação dos Verdes e do Partido Comunista Francês (PCF), que fazem parte da coalizão de Jospin. A fim de responder às críticas de frouxidão feitas pela direita e, ao mesmo, tempo tranquilizar as dissidências de esquerda, ele disse que a participação francesa "não se prestará a uma engrenagem" que ele não "julgar desejável".
A palavra "engrenagem" foi utilizada pelo secretário nacional do PCF, Robert Hue, para caracterizar o início de uma ação militar que pode levar a um aumento da tensão internacional.
Para os partidos dissonantes, a oposição ao engajamento militar direto não provocará uma crise na coalizão de esquerda, que é maioria parlamentar na França. "Não vamos sair do governo", disse à Folha Jacques Rodriguez, porta-voz do PCF.


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