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Franceses se dividem antes de ir ao front
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Antes de irem à guerra, os franceses lutam entre si. A provável
participação militar da França
nos ataques anglo-americanos está gerando conflitos na ordem política do país, o principal deles entre o presidente Jacques Chirac
(centro-direita) e o primeiro-ministro Lionel Jospin (centro-esquerda).
Jospin precisou ir ontem à Assembléia Nacional para minimizar declarações de Chirac, acalmar os ânimos dos parlamentares
de esquerda que fazem parte do
seu governo e, ainda, reafirmar o
seu papel na coordenação do engajamento militar francês.
No primeiro dia de bombardeios, domingo, Chirac declarou
na TV que havia assegurado o
apoio militar da França aos americanos e revelou que o país já teria colocado dois navios à disposição dos EUA.
O gabinete de Jospin foi surpreendido pelas declarações, consideradas imprudentes e precipitadas. A participação dos navios
franceses era, até então, um segredo de Estado.
A rapidez com que o presidente
fez uso político da situação também incomodou os socialistas.
Popularidade
Desde o início da crise, a popularidade de Chirac e Jospin têm
aumentado, mas sobretudo a do
primeiro -62% aprovam o presidente; o premiê tem 53%.
Chirac foi o primeiro líder ocidental a visitar os EUA depois dos
atentados.
A direita tem frequentemente
atacado a "discrição" de Jospin no
processo atual. O presidente da
Direita Liberal e Cristã (DLC),
Charles Millon, chegou a dizer
que "Tony Blair [premiê britânico" tem estado dez vez mais à altura da situação" que Jospin.
Tanto o premiê quanto Chirac
são prováveis candidatos a presidente em 2002.
Ontem, o primeiro-ministro revelou na Assembléia que a participação francesa terá "forças aéreas
e outras unidades de intervenção
para ações pontuais". Não foi
muito além. Jospin também excluiu a possibilidade de o Parlamento votar previamente o engajamento.
Engrenagem
É essa a principal reivindicação
dos Verdes e do Partido Comunista Francês (PCF), que fazem
parte da coalizão de Jospin. A fim
de responder às críticas de frouxidão feitas pela direita e, ao mesmo, tempo tranquilizar as dissidências de esquerda, ele disse que
a participação francesa "não se
prestará a uma engrenagem" que
ele não "julgar desejável".
A palavra "engrenagem" foi utilizada pelo secretário nacional do
PCF, Robert Hue, para caracterizar o início de uma ação militar
que pode levar a um aumento da
tensão internacional.
Para os partidos dissonantes, a
oposição ao engajamento militar
direto não provocará uma crise
na coalizão de esquerda, que é
maioria parlamentar na França.
"Não vamos sair do governo",
disse à Folha Jacques Rodriguez,
porta-voz do PCF.
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