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Tony Blair se destaca como articulador
EM LONDRES
A sorte de Tony Blair ainda vai depender dos resultados da campanha militar no
Afeganistão. Mas talvez em
nenhum outro momento o
premiê britânico tenha recebido tamanho apoio, tanto
no plano doméstico quanto
no internacional. Jornais,
opinião pública e líderes de
outros países são só elogios a
Blair por ser o principal articulador, fora dos EUA, da
coalizão antiterrorismo.
"A cooperação com os
EUA é algo natural na política britânica nas últimas décadas, não há nada de fora
do comum nessa aliança de
agora", diz Chris Brown,
professor de relações internacionais da London School
of Economics. Laços culturais e históricos entre os dois
países também facilitam a
aliança, dizem analistas.
Ajuda a entender o empenho de Blair o fato de que
morreram dezenas de britânicos no atentado ao World
Trade Center (projeções oficiais de ontem indicavam
cerca de cem mortos).
"As pessoas apresentaram
grande sentimento de solidariedade com os EUA após
os atentados. Há também
uma sensação de que a mesma coisa poderia ter acontecido aqui", disse à Folha Niel
MacFarlane, professor da
Universidade de Oxford.
Pesquisa do instituto Gallup para o "Daily Telegraph" indicou que 70% dos
britânicos apóiam a reação
militar. Com a população
chocada com os atentados
nos EUA, Blair iniciou um
extenso giro diplomático.
Sedimentou a aliança em encontros com dirigentes de
Rússia, Índia e Paquistão.
"O mais curioso é que Blair
se tornou um "player" dentro
da administração Bush", observa Brown. "Há desacordos entre as autoridades dos
EUA sobre se os ataques devem ser mais amplos ou
mais seletivos, e Blair tem
ajudado a pender essa balança para o lado de Colin Powell [secretário de Estado
americano", que quer uma
ação o mais multilateral e
coordenada possível."
A julgar pela cobertura da
imprensa britânica, a iniciativa de Blair deve fortalecer a
posição do governo trabalhista, que, após se reeleger
com folga em junho, começava a perder fôlego em razão da ameaça de recessão,
de crises nos sistemas de
saúde e de transportes e dos
efeitos da febre aftosa sobre
o setor agropecuário.
"Há muito poucas coisas
capazes de unir a população
britânica", afirmou MacFarlane. "E este é um dos casos
em que estamos vendo todos unidos com o governo."
O Partido Conservador, de
oposição, tem manifestado
total apoio ao envio de tropas britânicas à Ásia Central.
O desenrolar da campanha
militar contra o Taleban, porém, poderá minar o apoio a
Blair, argumentam os analistas. "Ainda não sabemos o
que virá pela frente, principalmente em termos de
mortes de civis", alerta Macfarlane. "Acho que, se isso
começar a acontecer em larga escala, haverá uma reconsideração por parte da opinião pública."
(MS)
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