São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2001

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Tony Blair se destaca como articulador

EM LONDRES

A sorte de Tony Blair ainda vai depender dos resultados da campanha militar no Afeganistão. Mas talvez em nenhum outro momento o premiê britânico tenha recebido tamanho apoio, tanto no plano doméstico quanto no internacional. Jornais, opinião pública e líderes de outros países são só elogios a Blair por ser o principal articulador, fora dos EUA, da coalizão antiterrorismo.
"A cooperação com os EUA é algo natural na política britânica nas últimas décadas, não há nada de fora do comum nessa aliança de agora", diz Chris Brown, professor de relações internacionais da London School of Economics. Laços culturais e históricos entre os dois países também facilitam a aliança, dizem analistas.
Ajuda a entender o empenho de Blair o fato de que morreram dezenas de britânicos no atentado ao World Trade Center (projeções oficiais de ontem indicavam cerca de cem mortos).
"As pessoas apresentaram grande sentimento de solidariedade com os EUA após os atentados. Há também uma sensação de que a mesma coisa poderia ter acontecido aqui", disse à Folha Niel MacFarlane, professor da Universidade de Oxford.
Pesquisa do instituto Gallup para o "Daily Telegraph" indicou que 70% dos britânicos apóiam a reação militar. Com a população chocada com os atentados nos EUA, Blair iniciou um extenso giro diplomático. Sedimentou a aliança em encontros com dirigentes de Rússia, Índia e Paquistão.
"O mais curioso é que Blair se tornou um "player" dentro da administração Bush", observa Brown. "Há desacordos entre as autoridades dos EUA sobre se os ataques devem ser mais amplos ou mais seletivos, e Blair tem ajudado a pender essa balança para o lado de Colin Powell [secretário de Estado americano", que quer uma ação o mais multilateral e coordenada possível."
A julgar pela cobertura da imprensa britânica, a iniciativa de Blair deve fortalecer a posição do governo trabalhista, que, após se reeleger com folga em junho, começava a perder fôlego em razão da ameaça de recessão, de crises nos sistemas de saúde e de transportes e dos efeitos da febre aftosa sobre o setor agropecuário.
"Há muito poucas coisas capazes de unir a população britânica", afirmou MacFarlane. "E este é um dos casos em que estamos vendo todos unidos com o governo." O Partido Conservador, de oposição, tem manifestado total apoio ao envio de tropas britânicas à Ásia Central.
O desenrolar da campanha militar contra o Taleban, porém, poderá minar o apoio a Blair, argumentam os analistas. "Ainda não sabemos o que virá pela frente, principalmente em termos de mortes de civis", alerta Macfarlane. "Acho que, se isso começar a acontecer em larga escala, haverá uma reconsideração por parte da opinião pública." (MS)



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