|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Medo e raiva crescem em Cabul
SAYED SALAHUDDIN
DA "REUTERS", EM CABUL
O medo e a raiva se espalham
pela capital afegã, Cabul. Os moradores passam as noites aterrorizados pelos bombardeios e os dias
frustrados com a limpeza dos escombros e preocupados com o
que virá a seguir.
Os bombardeios para punir a liderança do Taleban pelo abrigo
que dá ao saudita Osama bin Laden já fizeram com que levas de
residentes fugissem em carros obsoletos, carroças ou mesmo a pé,
para a relativa segurança do campo estéril que cerca a capital.
Temendo a continuação dos
ataques, e pobres demais, assustados demais ou combativos demais para deixar a cidade, moradores tensos agora amaldiçoam
os ataques liderados pelos EUA e
pedem por uma pausa.
"Por quanto tempo mais os
americanos desejam que soframos?", perguntou um homem
angustiado. "Não conseguimos
dormir... não podemos ir às mesquitas rezar."
"Já estamos vivendo um caos. O
que mais o mundo quer de nós?",
lamentou-se outro morador de
Cabul, que vive perto do local do
ataque que atingiu escritório da
ONU e matou quatro civis. "Melhor usar uma bomba atômica e
matar todos nós de uma vez."
Um estudante do ensino médio
disse: "Abaixo essas pessoas que
atacam os inocentes e se declaram
salvadores do povo. Os países que
bombardeiam o Afeganistão e
matam civis em outras partes do
mundo, seja na Palestina ou em
Israel, é que são malignos."
Podia-se ouvir aviões sobrevoando a cidade enquanto as
mesquitas convocavam os fiéis
para as primeiras orações do dia.
O fogo antiaéreo prosseguia, e
as forças do Taleban disparavam
em vão contra bombardeiros
voando longe de seu alcance.
Os Estados Unidos dizem que
estão visando Bin Laden e sua rede Al Qaeda, apontados como
suspeitos do devastador ataque
de 11 de setembro, e também a liderança do Taleban, por lhe dar
abrigo.
Ainda que acostumados a conflitos, os afegãos em geral sabem
quem estão combatendo. Precisam ver o inimigo ou pelo menos
estar ao alcance dele -a fim de
que possam infligir danos com
suas armas obsoletas.
Esse conflito é algo de novo
-mísseis invisíveis ao radar lançados por submarinos, a centenas
de quilômetros de distância, e
aviões inatingíveis.
"Será que o mundo sabe que as
pessoas de Cabul estão traumatizadas?", perguntou um padeiro.
"Podem saber, mas, como isso
não acontece em suas portas, não
ligam", acrescentou.
Ainda que a maior parte dos
moradores critique os Estados
Unidos por tornar suas vidas miseráveis, alguns vêem os ataques
como o começo do fim para a liderança do Taleban.
"Não tenho medo", disse um
homem, alegando que não deixaria a cidade. "Quero que o Taleban se vá, e os ataques talvez causem isso."
Mas ele também queria uma
noite de sono tranqüilo.
Crianças
O Taleban estaria recrutando
meninos para defender o regime,
segundo afirmaram refugiados
que atravessaram a fronteira para
o Paquistão. "A situação é muito
grave. O Taleban está armando
esses meninos e pedindo para que
eles lutem pelo país", afirmou Aslam Achakzai, um refugiado afegão que chegou hoje à cidade de
Quetta, no Paquistão.
Outros refugiados asseguram
que o regime está proibindo muitas famílias de deixar o país.
O êxodo começou mesmo antes
dos ataques, que pioraram a já
grave crise alimentar do país.
Texto Anterior: Afeganistão: Al Qaeda ameaça os EUA com "tempestade de aviões" Próximo Texto: Jornalista francês é preso pelo Taleban Índice
|