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RESISTÊNCIA
Governo paquistanês manda prender três clérigos islâmicos que defendem o Taleban
Cinco morrem em protestos contra os EUA no Paquistão
RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM PESHAWAR
O governo militar do Paquistão
prendeu três clérigos islâmicos
militantes ontem, e cinco pessoas
morreram no segundo dia de manifestações contra os bombardeios de EUA e Reino Unido no
Afeganistão.
Quatro das mortes ocorreram
em Kuchlak, perto de Quetta (sudoeste do país), quando a polícia
abriu fogo contra uma multidão
que atacara um banco e uma
agência dos correios. Entre as vítimas está um menino de 13 anos. A
outra morte foi registrada em
Hangu, na mesma região.
Não houve, contudo, a repetição das cenas vistas em Quetta
anteontem, quando multidões de
manifestantes percorreram a cidade, fazendo tumulto e ateando
fogo a cinemas, escritórios e instalações da ONU.
A situação na capital paquistanesa, Islamabad, se manteve calma, mas policiais e soldados tomaram a precaução de construir
ninhos de canhões com sacos de
areia em edifícios vulneráveis do
governo e embaixadas de países
ocidentais.
O presidente paquistanês, general Pervez Musharraf, disse que,
"numa sociedade islâmica, não há
lugar para extremismo e violência
contra qualquer outro grupo ou
religião". Mas seu governo seguiu
adiante com a repressão cautelosa
aos críticos extremistas, que já
vem sendo feita nos últimos dias.
Os paquistaneses possuem fortes laços com os afegãos. Os dois
países são muçulmanos sunitas, e
parte dos paquistaneses pertence
à etnia pashtu, que é majoritária
no Afeganistão e entre os integrantes da milícia Taleban, que
controla a maior parte do território afegão.
O Paquistão é o único país no
mundo que ainda reconhece o regime extremista islâmico do Taleban.
Ontem, três líderes de grupos islâmicos -defensores do Taleban,
que vêm organizando ruidosos
protestos antiamericanos- foram mantidos em prisão domiciliar.
Um deles é Maulana Fazal-ur
Rehman, líder do partido Jamiat
Ulema-e-Islam, detido pela terceira vez em três dias. O líder do
partido Sipah-e-Sahaba, cujos filiados já combateram ao lado do
Taleban no interior do Paquistão,
foi detido no aeroporto de Lahore
quando estava prestes a embarcar
em um vôo para Islamabad.
"Minoria insignificante"
O general Musharraf afirma que
os manifestantes representam
uma minoria insignificante no
Paquistão, e os acontecimentos
dos últimos dois dias levam a crer
que talvez ele tenha razão. Apesar
do tom apocalíptico dos slogans
gritados pelos manifestantes, a
violência real tem sido surpreendentemente pequena.
Os acontecimentos de ontem
em Peshawar, capital da Província
paquistanesa da Fronteira Noroeste, foram um bom exemplo
disso. Durante a manhã inteira
slogans de gelar o sangue reverberaram dos alto-falantes colocados
na maior mesquita da área,
Khyber Bazaar.
Um após o outro, os oradores
denunciavam os Estados Unidos,
faziam críticas violentas a George
W. Bush e Tony Blair e juravam
combater até a morte ao lado do
Taleban.
Policiais e soldados armados
com cassetetes, lançadores de gás
lacrimogêneo e um veículo blindado de transporte de tropas ficaram à espera diante da mesquita.
Depois de algum tempo, um grupo de várias centenas de pessoas
saiu, encabeçado por um grupo
de mulás. "Abaixo George Bush e
Tony Blair! Morte à América!
Musharraf é um cão!", berrava
Atau Rahman, irmão de um dos
clérigos detidos. "O Paquistão deveria pegar suas armas nucleares
e usá-las contra a América."
Ao mesmo tempo, porém, ele
pediu desculpas às dezenas de jornalistas estrangeiros presentes
pelo empurra-empurra em que
alguns deles tinham se envolvido
durante a manifestação do dia anterior e teve o cuidado de instruir
seus seguidores a tratá-los, em todos os momentos, como "hóspedes". Pouco depois, a manifestação terminou sem incidentes.
No porto de Karachi, que é a
mais violenta das cidades paquistanesas, 5.000 pessoas fizeram
uma passeata pacífica, e 2.000 outras se reuniram na cidade fronteiriça de Chaman. Mas, no coração do Paquistão, a Província do
Punjab, a situação ainda é de calma quase completa. Os manifestantes que saíram às ruas na província não passaram de algumas
centenas, e, apesar das palavras de
ordem sanguinárias de sempre e
de algumas pedras atiradas, não
houve violência séria.
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