São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2001

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Blair e Powell partem para a região

DA REDAÇÃO

O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, partirá para Índia e Paquistão nesta semana, enquanto o premiê britânico, Tony Blair, segue hoje para Omã e depois para o Egito, tentando reforçar o apoio dos países da região aos ataques no Afeganistão.
Os principais países islâmicos aliados dos EUA quebraram ontem o silêncio oficial e, apesar dos protestos populares contrários, reiteraram o apoio aos ataques contra o Afeganistão. Os líderes alertaram, contudo, que mais baixas civis enfraquecerão a coalizão militar liderada por Washington.
"Há uma clara evidência de que ele está ligado a isso", disse à revista americana "Time" o chanceler da Arábia Saudita, o príncipe Saud al Faisal, em referência à participação do também saudita Osama bin Laden nos atentados do dia 11 de setembro.
Foi o primeiro comentário oficial do país sobre os ataques. "É necessário perseguir com vigor e tenacidade os criminosos que criaram essa tragédia. Nesse sentido, os EUA têm o apoio da comunidade internacional."
"Sem dúvida, a intenção do terrorismo é provocar retaliações descomedidas que levem os outros à ação e provoquem danos colaterais que aumentem a sensação de injustiça", acrescentou. Apesar da advertência, o ministro manifestou total apoio à ofensiva e elogiou a posição americana. "Felizmente, e isso se deve ao governo e ao povo americanos, a resposta tem sido comedida. Acreditamos que [o bombardeio" foi a reação correta."
O Egito, onde estudantes realizaram grandes protestos na segunda-feira e manifestações menores ontem, também quebrou o silêncio oficial. "Apoiamos todas as medidas tomadas pelos EUA para resistir ao terrorismo", afirmou o presidente Hosni Mubarak. Ele também pediu, contudo, que a morte de civis afegãos fosse evitada e repetiu a principal reivindicação dos aliados muçulmanos para o apoio aos EUA, uma solução para o conflito israelo-palestino.
Os EUA agradeceram. "Consideramos muito positiva a resposta dos governos dos mundos árabe e muçulmano", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, que citou ainda o "apoio das populações".
A aversão popular à ação de Washington continua, porém. Em Gaza, onde anteontem a polícia palestina matou duas pessoas e feriu cerca de 200 na repressão a protestos contra a guerra, o líder Iasser Arafat conseguiu impedir novos confrontos fechando escolas e universidades. A proibição de manifestações foi mantida.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina se reuniu com líderes de grupos de oposição para evitar a implosão dos territórios autônomos. Um líder do Hamas, grupo extremista que promoveu manifestações ontem, se mostrou disposto a cooperar. "O que ocorreu em Gaza é uma nódoa, algo lamentável e repudiado por todos."
Para muitos palestinos, o terrorista saudita Osama bin Laden, apontado por Washington como responsável pelos atentados do dia 11 de setembro, é uma inspiração para a resistência à ocupação israelense. Já Arafat, que em 1991 ficou do lado do Iraque -contra os Estados Unidos, portanto- na Guerra do Golfo, pretende agora aumentar seu crédito com os americanos para obter novas negociações de paz com mediação de Washington.
Como às vezes ocorre em relação a Israel após duros enfrentamentos das forças de segurança com os palestinos, os EUA pediram "máxima moderação" por parte da polícia palestina na repressão a manifestações. Num ato aparentemente inédito, a ANP pediu ao governo israelense materiais de contenção de protestos -Israel ainda não respondeu.
Em Omã, país que abriga milhares de soldados britânicos a postos para o combate no Afeganistão e onde manifestações são raras, os protestos acabaram liberados. "A América é inimiga de Deus", gritaram estudantes em marcha. Em outro Estado aliado dos EUA, a Jordânia, o líder de um partido religioso islâmico fez referência a um choque de civilizações ao evocar as atrocidades cometidas pelos cruzados durante a Idade Média: "Os muçulmanos vencerão a batalha nesta nova fase das Cruzadas".
O Iraque teve passeatas e expressou visão semelhante. "Os países islâmicos devem se defender e proteger seus valores religiosos, que estão na mira da nova guerra sionista-americana", disse o chanceler Naji Sabri no Qatar.


Com agências internacionais



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